quinta-feira, novembro 30, 2006

Sundance 2007



Já foram anunciados os filmes que entram na competição do Festival de Sundance 2007, um dos festivais que porventura mais pérolas e milagres cinematográficos oferta anualmente. Definindo uma renovada maturidade no movimento indie, o director Geoffrey Gilmore afirmou que percepciona o início de uma nova era no Cinema independente, onde «vários cineastas atravessam uma onda expansiva em termos de perspectiva e estética». O festival decorre entre os dias 18 e 28 de Janeiro de 2007 e para acederem à lista de filmes a competição, cliquem aqui.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Curiosidade de pacote de cereais

Peter Lorre, o memorável Hans Beckert do excelso "M" de Fritz Lang, teve uma experiência na cadeira de realizador. Em 1951, Lorre escreveu, realizou e interpretou “Der Verlorene”. Segundo rezam as crónicas da crítica, a experiência até foi bem sucedida: «…recuperando o expressionismo numa época depressiva para a indústria cinematográfica alemã, Lorre reproduz uma pessoal e mordaz alegoria anti-nazi…», «…uma Obra-Prima olvidada…», «…demasiado avançado para o seu tempo…». Infelizmente, trata-se de um filme pouco divulgado, apesar de há pouco tempo ter percorrido alguns festivais europeus. Mesmo na altura do seu lançamento, “Der Verlorene” passou algo despercebido, pois a sua colisão com a realidade envolvente do pós-guerra, não atraiu uma população que ansiava dissipar o trauma de um passado recente.
Urgente descobrir "Der Verlorene". Pelo menos para mim…

terça-feira, novembro 28, 2006

La Perdición de los Hombres



«Cineastas como Luis Buñuel, Federico Fellini ou Ingmar Bergman seriam hoje impensáveis, num mundo em que o comércio e o êxito fácil/imediato determinam tudo».
Esta afirmação pertence ao realizador mexicano Arturo Ripstein (autor de “Profundo Carmesí” – “Vermelho Vivo” no título português). Alvo de uma retrospectiva que se encontra em exibição na cidade de Londres, enquadrada no Festival “Descobrindo a América Latina”, Ripstein ainda afirmou que actualmente só parecem existir dois géneros cinematográficos: o das Obras-Primas e o do Cinema para festivais.

É um facto ainda existir um número de milagres cinematográficos anuais, mas (pelo menos) numa premissa este cineasta mexicano tem toda a razão: o espectador geral já não demonstra predisposição, nem tempo para olhar.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Paprika

Paprika” é o mais recente filme de Satoshi Kon, mestre japonês de Anime, criador de “Perfect Blue”, “Tokyo Godfathers” e “Millennium Actress”, um épico de amor perdido que resulta num fascinante estudo visual das conexões entre a Memória e a Identidade. “Paprika” é um dos pré-inscritos para o Oscar de Melhor Filme de Animação, cuja história é ambientada num futuro próximo, onde cientistas visionários criaram um aparelho de uso pessoal capaz de controlar sonhos. Quando a máquina acaba roubada por «terroristas de sonhos», uma perseguição aos criminosos é despoletada, pois o que está em risco é a própria realidade. Para Portugal não existem datas de estreia e certamente aguarda-nos um esforço hercúleo para conseguirmos visionar a mais recente animação de complexidade psicológica de Kon. Para acederem ao respectivo trailer, cliquem no cartaz acima exposto e depois cliquem em Bande Annonce.

domingo, novembro 26, 2006

"Brick", de Rian Johnson

Class.:

Chiaroscuro Liceal
A leitura da História do Cinema e respectivos períodos pode ser feita a partir da noção de género. Mas o que será propriamente o Noir? Será realmente um género? Ou será um estilo, um ciclo, um fenómeno ou o movimento de uma época? Repleto de amargura existencialista, o Noir cinematográfico encontra-se imbuído de referências a outras artes, como a Pintura e a Literatura. Com raízes na cinematografia Expressionista alemã, o Noir reflectiu inicialmente a Depressão americana dos anos 30, mas não será o Noir um complemento visual com códigos temáticos, como o padrão dramático da sombra, o reflexo de indivíduos num espelho distorcido ou o uso da luz aludindo à ambivalência das personagens? A influência da corrente Noir pode ser descortinada através de visões particulares (como “Chinatown” de Roman Polanski) ou sub-géneros, como o Psycho-Noir patente em Lang (“M”), Lynch (“Blue Velvet”, “Lost Highway” ou “Mulholland Dr.”), Cronenberg (“Naked Lunch”), Fincher (“Fight Club”), Nolan (“Memento”), ou na recente trilogia de Park Chan-wook. Também será facilmente compreendida a presença Noir na Ficção Científica, como “Soylent Green” de Fleischer, “Blade Runner” de Scott, “Alien 3” de Fincher, “Twelve Monkeys” de Gilliam, “Dark City” de Proyas e até em “Minority Report” de Spielberg. Apelidar o Noir de ambíguo, onírico, sensual, impetuoso e misterioso, não seria simplificar demasiado o termo?

Brick” é o filme de estreia do escritor/realizador Rian Johnson, que no Festival de Sundance 2005 venceu o Prémio Especial do Júri para Visão Original. Confesso admirador da obra do novelista Dashiell Hammett, Johnson derrama inúmeros tributos ao escritor, quer no sussurro final que alude à sua curta história “The Girl With The Silver Eyes”, passando igualmente por “The Maltese Falcon”, quando Brendan pede a Laura para buzinar quatro vezes (longo, curto, longo, curto). Num excelso exercício de estilo, o estreante realizador derrama elementos da ficção Noir dos anos 40 numa ambiência escolar. Brendan (Joseph Gordon-Levitt emanando inteligência e sensibilidade num papel soberbamente executado) é um jovem estudante cujo acutilante intelecto o remete para um estatuto solitário. Percepcionando claramente os torvelinhos ocultos da escola, Brendan opta pela segurança da sua margem, ficando sem grande vida social com os restantes mortais. Mas quando de forma absolutamente inesperada a ex-namorada o contacta, desaparece e surge morta, o jovem fica obcecado pela busca da razão do seu assassinato, passando a contactar com pessoas que sempre evitou.



Envolto no triste hábito de verificar a utilização de adolescentes como matéria de comédias sexuais, telenovelas néscias e slasher-movies levianos que brotam às catadupas, surge finalmente alguém com olho clínico que vislumbra o círculo liceal como um meio repleto de vibrações Noir. Além de tamanha façanha, Rian Johnson percepciona claramente o facto de muitos adolescentes criarem as suas próprias realidades e ainda arranca portentosas interpretações aos seus jovens de serviço. Por muito estranho que pareça, o microcosmos liceal e o universo Noir têm uma afinidade indesmentível, asseverada por jogos de poder, conspirações dissimuladas, jogos de sedução e inveja de femmes fatales, intrigas bizantinas, paixões arrebatadoras e até o incontornável cigarro marca presença. Acompanhar a tradução destes arquétipos sob a visão de Johnson é deveras fascinante. “Brick” explora meandros Noir, desde a clássica brutalidade de confrontos mano-a-mano às fatalidades de amores perdidos. Apelando para uma rede de complexidade auto-irónica, Johnson injecta tensão numa fascinante mutação de cenários, entre o subúrbio americano emocionalmente vazio e um palco moral de proporções amplas. O cinismo Noir é utilizado para dramatizar raiva adolescente e como metáfora para o isolamento pré-adulto, respectiva insegurança e auto-destruição.

Em “Brick” existem incontornáveis reminiscências de Lynch e do trabalho inicial dos irmãos Coen, mestres na simbiose do sórdido com o risível. Johnson constrói de forma exemplar a atmosfera quimérica de uma tragédia surrealista cravada na dura realidade. A sua linguagem pode ser complicada para muitos, mas exacta afirmação pode ser anexada a um bom mistério. Inicialmente estranha-se, depois entranha-se e por fim torna-se inevitável, assegurando o argumento como um triunfo de atitude e perseverança. As personagens vagueiam num panorama onde a desolação e a dor os aguarda em cada esquina. À excepção dos cameos de um vice-reitor e de uma mãe, os adultos ficam à parte num universo governado pelas elevadas emoções da juventude, onde traições românticas são encaradas como um caso literal de vida ou morte. Paradoxalmente, existe divertimento estimulante nesta bruma de seriedade, neste sonho febril de um estudante com padrões criminais. Todavia, estes toques revelam-se judiciosos, afastando a ideia de bacoco e acentuando a acção sem a definir.
Responsável pela fotografia, Steve Yedlin estampa no filme uma cintilação de perigo que nos seduz para a teia de Johnson, esvaecendo lentamente o Sol californiano com quartos escuros adornados por velas, luzes trémulas e esmorecidos reflexos solares. O panorama é de desolação: o asfalto engole a população, existem grandes planos de um campo de futebol americano desamparado e de parques de estacionamento amplos, gerando um contraste sinistro entre o visível e o invisível. A solidão de Brendan é captada de forma igualmente soberba. Só lhe vislumbramos a testa no flashback do momento em que Emily rompe o namoro, pois a partir desse momento o seu tormento emocional e desorientação manifestam-se inclusive em vários planos dos seus passos. A composição sonora é igualmente digna de realce. Nathan Johnson (irmão do realizador) evoca sonoridades de Tom Waits, bem como alguns acordes Noir, elevando a excentricidade das acções. O peculiar bailado entre som ambiente e design sonoro resulta numa comunicação essencial da película, gerando ainda vibrações aurais. Explorando o factor audiovisual da Sétima Arte, Johnson edifica “Brick” com múltiplas camadas que requerem dissecação em revisionamentos futuros. Os espectadores que ignoram legendas e preferem acompanhar visualmente o filme sorvendo o inglês, irão deparar com uma linguagem sui generis. Além da textura verbal criada por Johnson ser fenomenal, tal mecanismo permite que o observador deambule pela imagética do filme, pensando visualmente de cena para cena num racional processo de informação audiovisual. “Brick” desafia a inteligência da sua audiência, incitando-a a discorrer conscientemente sobre as conexões dos tijolos que edificam a sua narrativa.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Mashup #5

Não sabiam que Beavis e Butt-Head tinham participado no casting do filme de David Fincher, “Se7en”?
Cliquem na imagem.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Curse of the Golden Flower



A mais recente extravagância wuxia de Zhang Yimou (um dos grandes estetas contemporâneos, autor de “Hero” e “House of Flying Daggers”) já tem poster e trailer finais. “Curse of the Golden Flower” será protagonizado por Chow Yun-fat (“Crouching Tiger, Hidden Dragon”) e Gong Li (“Miami Vice”) e a trama inspirada na peça “Thunderstorm” de Cao Yu, é ambientada na Dinastia Tang, narrando um amor problemático que acaba na revelação dos segredos de uma família real. O filme ainda não tem data de estreia para Portugal e para acederem ao trailer cliquem no cartaz acima exposto e aguardem uns segundos.

quarta-feira, novembro 22, 2006

R.I.P.


(20/02/1925 – 20/11/2006)
Robert Altman trouxe um olhar cinematográfico irónico, irreverente e original, sobre valores americanos (e até universais). Através da sua estrutura episódica, abordou virtualmente quase todos os géneros, invertendo respectivos convencionalismos. Seu Cinema é uma mescla de realidade objectiva e subjectiva, traduzida numa narrativa moderna que descentraliza o poder individual do Homem, colocando-o no âmago de um processo de forças divergentes (internas e externas). Através do movimento de câmara lírico e de uma sonoridade oblíqua, amplificava esta frágil e ilusória moralidade, delineando uma representação da débil individualidade social, patente na análise reflexiva da cumplicidade da indústria de entretenimento na alienação cultural. Grandes cineastas (como Altman) nunca morrem para o Cinema… são eternos, imortais! A sua influência é indelével e cabe a cineastas contemporâneos, como o excelso Paul Thomas Anderson, prosperar sobre os alicerces fortificados por Altman.

terça-feira, novembro 21, 2006

Loucura controlada



Takashi Miike é um daqueles cineastas que muito boa gente já imaginou com um colete-de-forças. Para quem julga que o autor de filmes tão bizarros quanto “Audition” ou “Ichi the Killer” não pode ser mais invulgar, atentem no seguinte:
– Miike acaba de encetar as filmagens do seu próximo filme, “Sukiyaki Western: Django”. Sim… trata-se de um western;
– O filme irá seguir a contenda entre os clãs Minamoto e Taira, batalha essa que teve lugar há sensivelmente 900 anos;
– A língua predominante será o inglês, sendo que Miike colocou o seu elenco num intensivo curso linguístico de dois meses;
– Tarantino irá aparecer no filme, desconhecendo-se ainda a importância do seu papel.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Lauro António apresenta…



... uma bela iniciativa! Que tal um Encontro Nacional de Blogues de Cinema (e mais genericamente de Cultura, que tenham uma forte componente Cinematográfica)? Tudo se conjuga para que o I Encontro Nacional de Blogues de Cinema tenha lugar em Famalicão, durante o próximo "Famafest" (Festival Internacional de Cinema e Vídeo), entre 9 e 17 de Março de 2007 (sendo que o Encontro ocupará Sexta, Sábado e Domingo, 9, 10 e 11). Além de um excelente convívio no cenário de um belo Festival que abraça o Cinema e a Literatura, o aliciante é justamente o intercâmbio cultural entre jovens enamorados pela Arte. Para (muitas) mais informações cliquem aqui.

Eastern Promises

O realizador canadiano David Cronenberg inicia esta semana as filmagens do seu próximo filme, “Eastern Promises”, que conta no elenco com Viggo Mortensen (“A History of Violence”), Naomi Watts (“Mulholland Dr.”) e Vincent «Mr. Monica Bellucci» Cassel (“Irréversible”). A história gira em torno de uma enfermeira chamada Anna (Watts), que trabalha num hospital em Londres. Em plena véspera natalícia e perseguida pelo remorso após testemunhar a morte de uma jovem prostituta no momento em que está a dar a luz, Anna decide procurar a família da jovem para entregar a triste notícia. Contudo, na sua inesperada demanda, acaba mergulhando no perigoso submundo do tráfico de sexo comandado pela máfia russa na Inglaterra, quando se depara com Nickolai (Mortensen) e Kirill (Cassel). A estreia está agendada para 14 de Novembro de 2007, em solo americano.

sábado, novembro 18, 2006

"The Departed", de Martin Scorsese

Class.:



O conceito de Identidade

Martin Scorsese declarou há tempos que enquanto jovem, pintou um par de olhos na parede do seu quarto. Tal imagem foi concebida em termos religiosos, quando almejava o sacerdócio. Numa juventude decorrida em plena artéria siciliana de Little Italy (New York), Scorsese experimentou a colisão da ferocidade das ruas com a espiritualidade da religião. A respectiva tensão entre o elemento machista e a componente ascética encontra-se escoada pela sua brilhante filmografia. Para Scorsese os pecados pagam-se nas ruas, não na Igreja. Aqueles olhos perscrutando a escuridão do seu quarto, podem portanto representar uma metáfora para a sua Identidade: olhos que cintilavam enquanto jovem sorvendo filmes na escuridão de uma sala de Cinema e olhos conspícuos de um cineasta magnífico na contemplação existencial urbana.

Martin Scorsese abandona as Mean Streets de New York pela Boston de “The Departed”, um remake de “Infernal Affairs”, filme de culto de Hong Kong realizado por Lau Wai-keung e Mak Siu-fai. É certo que Scorsese duplica temas do original, algumas cenas essenciais e ainda uma ou outra linha de diálogo, mas quando escutamos “Gimme Shelter” dos Rolling Stones na exposição do crime organizado, deparámo-nos com um cunho musical que Scorsese já havia imprimido em “GoodFellas” e “Casino”. Este é o território predilecto do bom, velho Marty: os torvelinhos da violência urbana. As suas provocações psicológicas reverberam de forma diabólica numa trajectória urbana pavimentada por trilhos de sangue, com simetrias de humor infernal. Exibindo uma América insensível e imbuindo a película com os seus temas predilectos de masculinidade, raça, religião, classes sociais, violência urbana, solidão, identidade, lealdade, pecado e redenção, Scorsese coloca o espectador no centro de uma contenda entre a polícia e o crime organizado, onde ambas as frentes sucedem na colocação de um espião no campo de batalha adversário. Progressivamente, cada espião descobre a existência (não a Identidade) do seu antagonista e a tensão deflagra em vagas ensandecidas, enquanto cada homem procura expor o seu rival, antes de ser identificado e destruído.



Os desempenhos são uniformemente notáveis, de DiCaprio (Billy) a Damon (Colin), de Nicholson (Frank Costello) a Sheen (Queenan), de Winstone (Mr. French) a Wahlberg (fascinante na pele de Dignam). Nos universos de testosterona de Scorsese, a mulher ganha contornos de femme fatale, uma força destrutiva, mas igualmente redentora. Em “The Departed”, este papel cabe a Vera Farmiga (Madolyn), ocultando com brio segredos femininos e emanando expressivamente tristezas individuais. O que se torna impressionante na obra de Scorsese é o facto de cada novo filme absorver temas explorados nos seus predecessores, consolidando uma densa filmografia. Abraçando uma narrativa potencialmente convulsa e intrincada, Scorsese gera um filme com elevada perspicuidade, usufruindo de um exemplar argumento de William Monahan e de uma montagem precisa de Thelma Schoonmaker (parceira de longa data do cineasta americano), que condensa de forma fluida todos os fragmentos narrativos, os cenários estudados, o travelling espantoso de Scorsese, a interacção ultra-violenta e a energia musical. Utilizando jump cuts constantes (técnica glorificada por Godard) entre Billy e Colin, Scorsese consolida idiossincrasias e adensa um determinado espelho existencial entre ambos. Na utilização do som/música (a cargo do sempre brilhante Howard Shore) para reproduzir insulamento e desorientação, fica asseverada uma forte vibração de Nouvelle Vague.

Mais do que um esplêndido thriller, “The Departed” é um opíparo estudo sobre a Identidade. O tema da Identidade arranca logo no aforismo inicial de Frank Costello, magna criação de Jack Nicholson, apresentado numa envolvência de sombras enquanto as restantes figuras se encontram sob luz: «I don't want to be a product of my environment… I want my environment to be a product of me». O que torna esta meditação sobre o conceito de Identidade tão fascinante é o facto da acção decorrer em solo americano, território de culturas heterogéneas, sem História autêntica. Billy e Colin debatem-se com identidades manufacturadas por uma teia de sonegações que simultaneamente os mantém vivos e mortifica a alma. Utilizando a câmara como ferramenta espiritual, Scorsese revela as dimensões psicológicas de um mundo austero: o que é exactamente Individualidade? Como é que a mesma afecta as emoções, acções e auto-conhecimento humano? Será que a estrutura anímica de um sujeito se molda a partir do relacionamento com os outros, ou será que a recebe do meio onde interage socialmente? Ou será que temos Identidades múltiplas e escolhemos a roupagem adequada conforme o momento (infância, juventude ou fase adulta) e o espaço (escola, casa ou rua)? Billy e Colin vivem prensados entre a infância e a fase adulta, desejando afirmação na conquista de um espaço próprio. Os conflitos elípticos de Identidade espelhados na Tela seguem o motivo básico do Ser: a manutenção da sua Identidade. Este estímulo à meditação patente na linguagem cinematográfica de Scorsese, revela subtilmente a construção do cogito do autor. “The Departed” é um thriller escorreito que ao mesmo tempo funciona como processo de auto-descoberta de um fenomenal realizador, no qual os sobressaltos, frustrações e permutas existenciais instigam reflexão no espectador acerca das conjecturas da sua brilhante filmografia.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Besson em Lisboa



O realizador francês Luc Besson, estará presente na ante-estreia portuguesa do seu derradeiro filme, “Arthur et les Minimoys”. O evento realizar-se-á no Cinema São Jorge, no dia 4 de Dezembro. O filme segue Arthur (Freddie Highmore), uma criança de 10 anos atarefada com problemas do mundo dos adultos. Seu avô encontra-se misteriosamente desaparecido, seus pais estão sem trabalho e sua avó está prestes a ver a sua casa demolida. Todavia, nem tudo está perdido, pois Arthur tomba num mundo de fantasia, descobrindo os Sete Reinos dos minúsculos e encantadores seres chamados Minimoys. O filme estreia em Portugal no dia 14 de Dezembro.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Curiosidade de pacote de cereais



Monica Vitti, nome artístico de Maria Luisa Ceciarelli, foi a actriz que participou em todos os filmes da chamada Tetralogia da Alienação de Michelangelo Antonioni: “L'avventura” (1960), “La notte” (1961), “L'eclisse” (1962) e “Il deserto rosso” (1964). O que poucos sabem é que a parceria de Vitti com Antonioni não foi encetada em “L’avventura”, mas em “Il Grido” (1957). Nessa película, Monica Vitti dobrou Dorian Gray, a actriz que desempenha Virginia, a proprietária da bomba de gasolina. Antonioni considerou inadequada a voz de Dorian e aprovou Monica após a sua descoberta numa peça teatral. A convivência entre Antonioni e Vitti amplificou num vínculo amoroso que durou alguns anos.

quarta-feira, novembro 15, 2006

A.M. F.M.

















Para ti!

terça-feira, novembro 14, 2006

Spielberg e a Pixar #1


Minority Report”, de Steven Spielberg (2002)



Toy Story”, de John Lasseter (1995)

segunda-feira, novembro 13, 2006

Cheese is made from milk



Há sensivelmente um mês, Terry Gilliam percorreu as ruas para promover “Tideland”. Numa manobra idêntica, David Lynch, tomou as artérias de Los Angeles (esquina da Hollywood Blvd. com La Brea) para promover o desempenho de Laura Dern no seu último trabalho, “INLAND EMPIRE”. Sentado numa cadeira, com uma vaca de um lado, um poster gigante For Your Consideration de Laura Dern do outro e ainda um cartaz com uma espécie de tagline: «Without cheese, there wouldn't be an INLAND EMPIRE», Lynch mostrava-se disposto a satisfazer quase todas as questões de quem passava. Quando questionado sobre o significado da misteriosa tagline, Lynch respondeu com iguais proporções enigmáticas: «Cheese is made from milk!».

Para acederem a um breve vídeo sobre a atitude do estrambólico David Lynch, cliquem na imagem acima exposta.

sábado, novembro 11, 2006

Momento Zen

sexta-feira, novembro 10, 2006

Os direitos de “My Blueberry Nights”



Segundo a Variety, os irmãos Weinstein (os mesmos que manipularam a criatividade de Gilliam em “The Brothers Grimm”) adquiriram todos os direitos americanos sobre “My Blueberry Nights”, o próximo filme de Wong Kar-wai. Este filme representa o primeiro projecto em língua inglesa do realizador de Hong-Kong, no qual Norah Jones interpreta uma mulher que percorre o país em busca de respostas sobre o Amor. Do elenco também fazem parte Jude Law, David Strathairn, Rachel Weisz e Natalie Portman. “My Blueberry Nights” encontra-se em pós-produção e tem estreia agendada em solo americano para 1 de Junho de 2007.
Espero que a sublime marca autoral de Wong sobreviva imaculada, aos mecanismos industriais destes grandes estúdios e de produtores totalitários.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Mashup #4



E que tal colocar Neo e Robocop frente-a-frente?
Cliquem na imagem e deliciem-se ainda com cameos de uma personagem do excelso “C'era una volta il West” e outra de “Star Wars”.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Hilariante



A Dreamworks não costuma ser propriamente um prodígio de criatividade, mas este teaser trailer para a longa metragem escrita, produzida e dobrada por Jerry Seinfeld é excelente. O filme será apenas lançado a 2 de Novembro de 2007, mas vale sempre a pena ouvir falar de “Bee Movie” (que título maravilhoso!), uma animação digital que segue a história de Barry B. Benson (Seinfeld), uma abelha recém-formada que vive numa colmeia cuja estrutura evoca a ilha de Manhattan. Desiludido com a sua opção de carreira (fazer mel), empreende uma viagem especial fora da sua região, acabando por ver a sua vida salva por Vanessa (Renée Zellweger), uma vendedora de flores em New York. Enquanto cimenta a relação com Vanessa, Barry descobre que os humanos consomem mel e consequentemente decide processar a nossa raça por furto. Cliquem na imagem para acederem ao peculiar trailer.

P.S.: Repito: o filme será uma animação. Este teaser trailer representa uma brincadeira de Seinfeld e companhia.

terça-feira, novembro 07, 2006

Poster e trailer finais para…



... “I’m a Cyborg, but that’s ok”, o novo filme de Park Chan-wook, cuja acção decorre num hospital psiquiátrico, onde uma rapariga que julga ser um cyborg de combate se apaixona por um homem que acredita conseguir roubar a alma das pessoas. Para acederem ao respectivo trailer, cliquem no deslumbrante cartaz. Quão belo poderá ser um poster? Esta é certamente uma das respostas visuais. A peculiar ideia de comédia romântica para Park Chan-wook, estreia em Singapura a 25 de Janeiro de 2007. Por cá… fico na esperança que o FANTAS 2007 nos faça uma surpresa equivalente à da edição deste ano, com a ante-estreia do filme “Sympathy for Lady Vengeance”.

segunda-feira, novembro 06, 2006

I know the pieces fit

Custa muito abandonar um concerto de TOOL... custa vê-lo atingir o seu término... contudo, ele entranha-se e vive connosco... mesmo que uma melancolia profunda se abata pelo factor mais opulento da experiência ter cessado. Requinte... precisão... magistralidade… originalidade… Arte… Nenhuma palavra faz jus a tamanho efeito transcendental. Cliquem na fenomenal imagem, pois deixo-vos com o videoclipSchism” do álbum “Lateralus”, que representou um dos vários momentos altos do concerto da noite passada, em pleno Pavilhão Atlântico. A promessa que Maynard efectuou no 12º SBSR foi cumprida e os TOOL regressaram ainda este ano. Se os seus comprometimentos permanecerem fidedignos, então atentem nas seguintes palavras finais: «Hopefully, we will see you next Summer». Nesse caso, não vos aconselho videoclips, nem álbuns… sintam-nos in loco.

sábado, novembro 04, 2006

"Marie Antoinette", de Sofia Coppola

Class.:

Brincar às Barbies, versão da realizadora
Será necessário existir nos anais da Sétima Arte uma Marie Antoinette em variante pop-rock-chick, com posters que se assemelham a publicidade da montra da Bershka concebida por uma moçoila detentora de um reles fotolog? Necessário ou não… a sua natividade é irremediável. Será possível obter uma refeição decente e completa à base de bolos e guloseimas? Sofia acha que sim. “Marie Antoinette” será para muitos uma obra histórica de autor com uma requintada sensibilidade moderna. Para outros será um produto indigente. Méritos técnicos à parte, esta terceira longa-metragem de Sofia Coppola não passa da versão cinematográfica de uma brincadeira pessoal com Barbies de carne, osso e maquilhagem, com Versailles sendo utilizado como a casa na qual as bonequinhas se pavoneiam, sob a manipulação da menina Sofia.

Lost in Translation” seguia uma bela e jovem rapariga loira, enclausurada num casamento infeliz, que se encontra desorientada num país estrangeiro. “Marie Antoinette” é sobre… basicamente o mesmo. Kirsten Dunst desempenha Marie, a adolescente austríaca arremessada para o interior da corte francesa, para cimentar a união diplomática entre as nações através do casamento com o jovem delfim Louis Auguste. Os momentos iniciais revelam parte da potencial subtileza cinematográfica de Sofia, tão bem explanada no magnífico “The Virgin Suicides”. Inicialmente existe uma certa ode ao prazer sensual e no instante imediato seguimos a jovem sendo lentamente decepada da sua jovialidade pueril, retirada da sua terra natal, passando pela quarentena diplomática de um ritual real, alienada entre a multidão da nobreza e vagueando pelos corredores sussurrantes de Versailles. São cenas belíssimas, que acompanham o isolamento asfixiante de Marie.

Contudo, para quem apreciou a aura graciosa de “Lost in Translation” e a complexidade dramática de “The Virgin Suicides”, este “Marie Antoinette” é uma desilusão de proporções históricas. A partir de determinado momento a indigência de Sofia aflora pelo filme com mesclas de petulância que decapitam o produto final e respectiva absorção. É uma penúria que evoca o embaraçoso segmento de “New York Stories” (intitulado “Life without Zoe”), escrito por si para seu pai Francis realizar, no qual também foi responsável pelo guarda-roupa (lá está a inseparável afeição com as Barbies). É uma enorme preguiça em fazer cinema, limitando-se a disparar imagens arbitrárias (mera fotografia caprichosa de vestidos, jóias, perucas, sapatos, penas e bolos), com múltiplos cortes que realçam o facto da película ser um mero portfolio extravagante. É uma debilidade orientadora que evoca a débil participação como Mary Corleone em “The Godfather: Part III”, numa das maiores demonstrações de amadorismo interpretativo do Cinema contemporâneo.


O feitiço inicial dissipa-se à medida que a ingenuidade de Sofia começa a relacionar de forma prosaica factos históricos. O que não deixa de ser irónico, uma vez que a cineasta evidencia pretensão sonora e visual, numa demarcação dos preceitos históricos. O que torna a tentativa de Sofia Coppola tão oca quanto a personagem que pretende retratar é o facto da cineasta não conseguir distinguir História de personalidade e personalidade de guarda-roupa. A sua paixão pelo glamour superficial congela a substância, pasmando por tamanha trivialidade. Até a utilização da banda sonora, um mashup de Ópera clássica com pop-rock-new wave que inicialmente aparenta arrojo, é atabalhoadamente executada. “Fools Rush In” começa a tocar depois de Marie conhecer o engatatão sueco; “I Want Candy” acompanha uma câmara vagabunda que percorre vestidos e doces; a música “What Ever Happened?” dos The Strokes acompanha a correria devaneada de Marie pelos corredores do palácio. A utilização musical, além de óbvia (os direitos para “Girls Just Want to Have Fun” de Cyndi Lauper não deviam estar disponíveis), ostenta uma elaboração digna de um videoclip da MTV, com proporções idênticas de nula substância.
Sofia imbui “Marie Antoinette” com antinomias, presumivelmente desejando que encaremos o filme com um misto de seriedade e ligeireza. Todavia, a condescendência torna-se inexequível num universo tão frívolo. O próprio palácio de Versailles é transformado num liceu, pelo qual deambulam professores rigorosos, sonhadores, mamãs encarregadas de educação e amigas do peito. Até os actores articulam palavras de uma forma formal equivalente a uma peça teatral escolar, mas torna-se irrelevante falar de desempenhos, quando a vertente estilística absorve tudo em redor. Os actores desfilam como marionetas, alguns ao sabor de cameos fugazes e nenhuma personagem ganha densidade real, o que não deixa de ser irónico, uma vez que certas figuras retratadas foram mesmo reais.

Ela nasceu para uma vida privilegiada, rodeada de conforto, fama e nas suas veias circula o sangue real de uma família com um orgulhoso legado. É jovem e quando se libertou da asa protectora familiar para dar os primeiros passos sozinha, descobriu que nem todos a adoram. Não falo de Marie Antoinette… falo de Sofia Coppola. Uma cineasta que também já foi presenteada com vaias que equivalem de forma bem mais amena aos ferozes apupos que Marie Antoinette sofreu em 1789. A inércia de Sofia iguala a da sua protagonista. Por exemplo: em “Chungking Express”, o brilhante iconoplasta Wong Kar-wai utiliza a “California Dreamin’” dos The Mamas & the Papas de forma surpreendente, mas bem mais consistente num filme igualmente estilístico, no qual o magno Christopher Doyle pincela Hong Kong numa bruma néon, laranja, destorcida ou flamante, jogando com a exposição e a velocidade, como um cineasta corriqueiro joga com o argumento. Em “Marie Antoinette” o design de produção é maravilhoso, mas a cinematografia não imortaliza convenientemente o panorama criado, graças a uma tremideira desfocada com objectivos artísticos duvidosos. Sofia já exibiu anteriormente talento para expor localizações desoladas que recalcam espíritos amargurados no cerne de transacções humanas. Infelizmente, “Marie Antoinette” não passa de uma série de vinhetas esparsas em vez de uma história coesa.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Cinzas do Passado



Wong Kar-wai planeia polir um dos filmes que mais o orgulha: a sua Obra-Prima de artes marciais, intitulada “Ashes of Time”. Graças a uma frágil divulgação e com uma débil difusão em DVD, Wong planeia revisitar o filme, restaurando-o e se a Fortissimo Films encontrar comprador, poderemos vir a ter a felicidade de um renovado lançamento no Grande Ecrã.

Ashes of Time” pode não ser o filme mais conhecido de Wong Kar-wai no Ocidente, mas representa uma das suas melhores concepções e foi aquele mais difícil de concluir, excedendo largamente prazos de produção e orçamento previsto, vindo a ser terminado apenas ao fim de dois anos de rodagem. Aquando do lançamento do seu épico de artes marciais, o resultado foi um retumbante fracasso de bilheteira. O insucesso é a consequência natural para um filme que se demarca ligeiramente do frenesim da tradição wuxia. Todavia, “Ashes of Time” não representa apenas um dos melhores filmes de Wong (senão o melhor), como também um dos melhores filmes de sempre. O único entrave é justamente a sua fraca divulgação ocidental. É um filme de autor, pleno de meditações interiores. É uma opulência poético-narrativa que mescla três contos de Amor, Vingança e Redenção, numa fusão de histórias que revolvem um filme de acção sobre inacção, sobre espadachins prodigiosos consumidos pela reminiscência de amores transviados. É aquele recomeçar do zero que Wong pincela na consequência do fracasso que as suas personagens experimentam, como se o mundo não fosse o lar de nenhuma delas - com destaque para a sublime existência metafórica do vinho que suprime memórias. A estrutura é densa e o jogo de flashbacks com a linha temporal demanda revisionamentos enriquecedores. Envolto numa neblina onírica, Wong recebe o olhar elegíaco do seu colaborador e magno director de fotografia em actividade: Christopher Doyle, que arrecadou com este filme o galardão de Melhor Fotografia em Veneza. A sua técnica glorifica a cor e a luz, ampliando o enlevo que o filme ministra e numa das derradeiras imagens, um singelo plano de Maggie Cheung contemplando os eventos decorridos, aconchegam-na numa aura angelical.
O que é Cinema? Sucintamente, apetece dizer: Cinema é Wong Kar-wai… Cinema é “Ashes of Time”.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Burburinho virtual



Numa entrevista concedida à revista Uncut, Damon Albarn (vocalista dos Blur e um dos criadores de Gorillaz) confessou que os fãs da banda virtual não deverão aguardar um novo disco tão cedo. A razão prende-se com um projecto que envolve a criação de um filme, com o auxílio de… Terry Gilliam (“Brazil”, “12 Monkeys”)! Um filme de Gorillaz seria outro passo invulgar na surreal filmografia de Gilliam, que ultimamente (e infelizmente) tem tropeçado em projectos de menor qualidade. Mas até que ponto será o envolvimento do autor de “Brazil”, no projecto cinematográfico da banda que lançou no ano passado o álbum “Demon Days”? Aguardam-se esclarecimentos…
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