quarta-feira, agosto 31, 2005

Southland Tales



O elenco de “Southland Tales” (o novo filme do argumentista e realizador de “Donnie Darko”, Richard Kelly) recebeu múltiplas confirmações. Juntaram-se a Dwayne “The Rock” Johnson, Sarah Michele Gellar e Seann William Scott, os respectivos actores: Miranda Richardson (“Sleepy Hollow”), Cheri Oteri, Amy Poehler, Jill Ritchie, John Larroquette, Jon Lovitz, Will Sasso, Wood Harris, Bai Ling, Joe Campana e Wallace Shawn.

O filme de Richard Kelly toma lugar numa Los Angeles futurista (durante o feriado nacional de 4 de Julho de 2008), no limiar do descalabro social, económico e ambiental. Boxer Santaros (The Rock) é uma estrela de acção em ascensão que sofre de amnésia e cuja vida colide com Krysta Now (Gellar), uma estrela porno com um Reality Show próprio e David Clark (Scott) um polícia que detém a chave para uma vasta conspiração. Oteri irá desempenhar o papel de uma vilã lésbica fisiculturista (o que é isto?) e Ritchie será outra estrela porno, melhor amiga da personagem de Gellar (que tal rapazes?).

O filme estreia em 2006 e o jovem cineasta Kelly descreve-o como uma peculiar simbiose das sensibilidades de Andy Warhol (expoente da Pop Art) e Philip K. Dick (escritor de ficção científica e autor de um vasto leque de romances que originaram alguns filmes: “Blade Runner”, “Minority Report”, “Total Recall”).

Em “Donnie Darko”, Kelly utilizou o site oficial como expansão do universo criado na tela. Em adição a “Southland Tales”, uma versão expandida será apresentada como experiência interactiva, como uma saga de prequelas a publicar em formato Romance Gráfico com seis capítulos, escritos pelo próprio Richard Kelly (Onde é que eu já vi isto?… Ah é verdade… “The Matrix”). As BD’s irão sendo publicadas no site oficial, antecipando a estreia do filme. Fala-se que a página oficial de “Southland Tales” será a mais elaborada de sempre, respeitante a um filme.
Sinceramente encontro-me de pé atrás graças ao elenco. No entanto “Donnie Darko” tinha Patrick Swayze e Drew Barrymore, e Kelly colocou tudo a funcionar perfeitamente, reforçando a máxima: não existem maus actores, mas maus realizadores.
A curiosidade irá levar uma eternidade a ser saciada.

terça-feira, agosto 30, 2005

Desabafo



Ontem decidi ir ao cinema para visionar o novo filme de David O. Russell, “I Heart Huckabees”. Como sempre, escolhi o AMC Arrábida, da Cidade Invicta e qual é o meu espanto quando ao percorrer o cartaz com os meus olhinhos na ânsia de vislumbrar os horários do filme (que levou o título nacional: “Os Psico-Detectives”!), não o encontro.
Como o cineasta em questão (David O. Russell) é um dos mais promissores realizadores americanos, decidi nem me preocupar em confirmar na net a exibição do respectivo filme. Pois bem… quando atraco desolado no meu lar e inspecciono quais as salas que exibem o filme, verifico que apenas os cinemas UCI da capital o detêm em cartaz.

Estou irritadíssimo com o patético estado do nosso país. Somos embuchados com “morangos com açúcar” e 3 ou 4 gajos que desafinam mais a cantar que o meu gato engasgado com pêlo... e o pior de tudo é que para além de nos tratarem como imbecis, verifico a população nacional toda sorrisinhos a bater palmas. O QUE É ISTO??
Entramos numa Twilight Zone, ou na realidade nunca saímos dela e eu é que acabei de acordar?

O filme até poderia ser mau, mas quando comparado com (e reparem bem nos títulos em cartaz no AMC!!): “Os Irmão Dalton”, “A Chave”, “Franjinhas e o Carrossel Mágico”, “Herbie: Prego a Fundo”, “Alone in the Dark”, “Fantastic Four”, “Dark Water”, “Uma Sogra de Fugir”… duvido que o autor dos muito bons “Spanking the Monkey”, “Flirting with Disaster” e “Three Kings” fizesse algo menos engraçado que “Uma Sogra de Fugir” ou algo pior do que “Herbie” ou qualquer um dos restantes filmes mencionados.
“I Heart Huckabees” estreou (será, que estreou mesmo??) no nosso país, um ano após a sua estreia mundial. Para além da brilhante actualização que nos oferecem, ainda nos vedam a visualização do mesmo. Desculpem, mas não me identifico com este país e cada vez mais me sinto deslocado. Desculpem, mas nunca irei bater palmas à lavagem cerebral que perpetuam a uma população cada vez mais bronca, inculta e ignorante! É urgente renovar as mascavadas veias deste deplorável sistema.

segunda-feira, agosto 29, 2005

Momento Zen

sábado, agosto 27, 2005

“Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb”, de Stanley Kubrick

Class.:




“Gentlemen, you can't fight in here! This is the War Room.”
(Presidente Merkin Muffley)


Apenas Stanley Kubrick poderia realizar um filme (em 1964) sobre uma possível Terceira Guerra Mundial, e torná-lo num dos mais hilariantes filmes alguma vez feito. “Dr Strangelove…” não é só delirantemente engraçado, como a sua subliminar mensagem anti-guerra demonstra a faceta sagaz do realizador. Nem por uma fracção de nanosegundos o filme deixa de ser perfeito, graças ao imprevisível e acutilante génio de Kubrick.

Mas comecemos pela sinopse: O General Jack Ripper (clara alusão a Jack, o Estripador), completamente ensandecido, planeia bombardear e destruir a USSR, pois suspeita que os comunistas planeiam poluir os “preciosos fluidos corporais” dos americanos, através da fluoretação das águas americanas. O presidente americano reúne-se com os seus conselheiros e o embaixador soviético avisa-o que se a USSR for atingida por armas nucleares, o inteiro planeta será aniquilado. O actor Peter Sellers interpreta 3 personagens (não representa 4, porque partiu a perna!) que deverão impedir esta tragédia: o Capitão Britânico Lionel Mandrake, o único com acesso ao demente General Ripper; o presidente americano Merkin Muffley e o génio nazi Dr. Strangelove. Será o bombardeamento detido a tempo, ou será que o General Ripper irá ter sucesso destruindo o mundo?

“Dr. Strangelove…” iniciou como um projecto sóbrio, graças ao romance sério de Peter George sobre os perigos de um ataque nuclear, mas gradualmente foi moldado e adquiriu o cunho de Kubrick. O cineasta elabora um filme irreverente e astuto, com um argumento engenhoso repleto de diálogos envolventes e hilariantes; meticulosos planos e cenários; memoráveis cenas (a “cavalgada” do Major King Kong, desempenhado por Slim Pickens, é uma das melhores de sempre da Sétima Arte); uma fotografia a preto e branco que salienta os fatais paradoxos políticos graças inclusive a uma dramática iluminação; uma utilização superiormente irónica de músicas, tais como "Try a Little Tenderness" e um fenomenal elenco (Peter Sellers em múltiplos papéis, George C. Scott, Sterling Hayden, Slim Pickens, Keenan Wynn e o jovem James Earl Jones).



O resultado final é um clássico de humor, suspense e… aviso. O filme poderá ser visionado como uma comédia negra ou como um drama, pois Kubrick utiliza a farsa para criar uma profunda mensagem para o espectador. O duelo entre um filme verdadeiramente cómico e um filme com um recado significativo é uma batalha dura, mas “Dr Strangelove…” é um triunfo no género catalogado como sátira. Até no nome das personagens: Turgidson, Kong, Mandrake, Jack Ripper, Kissoff, Bat Guano, Faceman, Muffley, Sadesky e até o inefável Dr. Strangelove.

O génio de Kubrick neste filme é fazer-nos rir do medo. Ele consegue desencadear gargalhadas enquanto reconhecemos a observação inteligente camuflada no humor. O engenho de Kubrick é tão avassalador que os alvos do seu sarcasmo são vários dentro do mesmo filme. Kubrick oculta as suas repreensões e diversões de forma tão sublime, que a descoberta das mesmas eleva incomensuravelmente o fascínio pelo fenomenal autor.

“Dr. Strangelove…” é uma imaculada cristalização das ansiedades e do clima absurdo dos anos da Guerra-Fria, cujo espelho da década de 60 reflecte a realidade actual. Será que a dissecação do filme acerca dos métodos burocráticos e sombrios de duplo discurso utilizados em prol da agressão, têm incidência nos dias de hoje? Basta ligarmos a televisão num qualquer canal noticiário!



A relação Homem-Máquina é explorada por Kubrick. Em “2001: A Space Odyssey”, Kubrick mostra o Homem à mercê das máquinas, mas nesta sátira à Guerra-Fria ele evidencia as máquinas à mercê do Homem.

A sátira contém diversas metáforas de desporto e possui igualmente um significado sexual. O gracejo do realizador é tal, que a guerra chega a simbolizar… sexo. Desde a cena inicial onde é exibido um excêntrico copular entre duas aeronaves (um bombardeiro B-52 e um avião-cisterna KC-135), até ao cintilar dos olhos quando a relação macho-fêmea é visada como primordial na sobrevivência da raça humana nos bunkers. O General Ripper pretende lançar as bombas, temendo a poluição dos seus "fluidos corporais", pois uma possível fluoretação das águas poderia causar impotência e até Turgidson recebe esse nome graças à sua exaltada libido.



O brilhantismo de Kubrick é tremendo: o minucioso trabalho da câmara, os símbolos disfarçados, a excelsa forma como os seus filmes prestam várias leituras através de temáticas subliminares destinadas a driblar as limitações estabelecidas pelo Código Hays de censura (documento que limitava a apresentação de sexo e violência nas telas de cinema e que foi abolido 4 anos após o lançamento de “Dr. Strangelove…”).

“Dr. Strangelove…” já foi visto, revisto, dissecado e devidamente iconizado. Considero-o a melhor sátira de sempre e um dos melhores filmes jamais concebidos. O filme foi lançado na época da paranóia generalizada da Guerra-Fria e da ameaça nuclear aquando da “Crise dos Mísseis Cubanos”. O que é mais assustador no filme é a capacidade para nos fazer rir (copiosamente), apesar de demonstrar como um holocausto nuclear poderá ser desencadeado graças a fissuras governamentais e equívocos diplomáticos. Como é que este filme não atiçou o pânico numa Era periclitante? Porque Kubrick executou esta Obra-Prima com uma magnificência espantosa. Não sinto um estranho amor por este filme, sinto um tremendo amor contemplativo.

sexta-feira, agosto 26, 2005

Sevigny no elenco de "Zodiac"



Chloë Sevigny, a actriz que interpretou Lana Tisdel em “Boys Don’t Cry” (papel que lhe valeu uma nomeação para o Oscar de Melhor Actriz Secundária) ou Jean de “American Psycho”, juntou-se ao elenco de “Zodiac”, o novo thriller de David Fincher.

Do fabuloso elenco já fazem parte Jake Gyllenhaal, Robert Downey Jr., Anthony Edwards, Mark Ruffalo e até Gary Oldman.
Sevigny irá desempenhar a namorada de Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal), um cartoonista do jornal “San Francisco Chronicle” que tentou resolver o mistério do infame serial killer. O assassino do Zodíaco aterrorizou San Francisco de 1966 a 1978, causou pelo menos 37 mortes e documentou alguns dos processos de tortura em cartas enviadas ao respectivo jornal.
"Zodiac" já se encontra em fase de pré-produção e arrancará com filmagens em Setembro, nas cidades de San Francisco e Los Angeles.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Vamos lá ter dois dedos de conversa

O poster acima evidenciado para o filme “Saw II” foi banido pela MPAA (Motion Picture Association of America) por manifestar imagens de dedos amputados. O poster foi trocado por este. A MPAA exigiu que os produtores da Lion Gate Films removessem dos websites o material publicitário censurado.

A sequela acompanha desta vez oito pessoas enclausuradas, em vez de duas (presentes no original “Saw”). A estreia mundial está marcada para 28 de Outubro deste ano e já se encontra disponível há algum tempo este teaser.
Pessoalmente adorei o notável poster. É magnífico e fico tremendamente desconsolado pela palhaçada da censura continuar. Com toda esta publicidade quem ganha é o filme, mas é um absurdo como uma peça destas é censurada, quando basta ligarmos a TV na CNN e visionar em directo alguém a ser morto. O cinismo americano é atroz.
Enfim… agora em tom de brincadeira e sem qualquer tipo de pretensiosismo, gostaria de deixar uma singela ideia para a tagline do poster na versão portuguesa: “Vamos lá ter dois dedos de conversa”.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Breves sobre “Corpse Bride” e “Goblet of Fire”



O website para “Corpse Bride” de Tim Burton ganhou vida através de uma impressionante animação flash. É facultada a oportunidade para explorar o mundo da última criação de Burton, através de áreas secretas e imensa interactividade. O site inclui ainda downloads, informação sobre o filme, videoclips, fotos e muito mais. Poderão aceder ao site clicando aqui. O filme estreia a 8 de Dezembro em Portugal, 2 meses e meio (!!!) após a sua estreia mundial.



O site francês AlloCiné colocou online o novo trailer para “Harry Potter and the Goblet of Fire”, de Mike Newell. Pessoalmente preferi o teaser, mas a composição musical deste trailer é muito boa. Não se trata de uma partitura do filme, mas é bem interessante. Ela pertence à “Magic Box Music”, a companhia que também compôs a música para os trailers dos três prévios filmes da saga.
De referir ainda que John Williams não será o compositor deste “Goblet of Fire” (infelizmente), mas os temas que ele criou ainda serão audíveis no novo filme. O filme estreia em Portugal a 24 de Novembro e poderão aceder ao referido trailer, clicando aqui.

terça-feira, agosto 23, 2005

O prestígio de Nolan



“The Exec” foi anunciado em tempos como o próximo projecto do realizador Christopher Nolan (“Memento”, Insomnia”, “Batman Begins”), mas parece que os esforços do realizador inglês se encontram direccionados para a adaptação cinematográfica do livro “The Prestige” de Christopher Priest.

Na Convenção Mundial de Ficção Científica (Worldcon) realizada em Glasgow, o escritor inglês Christopher Priest foi convidado de honra e deixou escapar uma entusiasmante revelação. Ele mencionou que Christopher Nolan e o seu irmão Jonathan Nolan (cujo empenho deveria estar voltado para “The Exec”) estavam interessados em adaptar para o Grande Ecrã “The Prestige”. Priest teve acesso a uma cópia do avançado argumento de Jonathan Nolan e considerou extraordinário, brilhante e fascinante o que leu.
O livro “The Prestige” foi publicado em 1995 e venceu (entre outros) o “World Fantasy Award” e o britânico “James Tait Black Memorial Prize”. O romance é sobre dois feiticeiros rivais do século 19. Rupert Angier e Alfred Borden são inicialmente rivais e depois tornam-se amargos inimigos. A tentativa inicial de captura dos segredos mútuos deteriora-se num ódio obsessivo. O desenvolvimento das personagens é profundo, a ambiência rica, a escrita magnífica, a tensão palpável e a história é original apesar de evocar clássicos temas. O final é algo abrupto, mas tal sentimento advém (em parte) do prazer provocado pela leitura. O filme movimenta-se entre os limites do terror, fantasia e ficção científica, numa tapeçaria de magia, mistério e puzzles psicológicos.
“The Prestige” (não confundir com o petroleiro que derramou várias toneladas de fuel-óleo na costa da Galiza em 2002) representará a próxima colaboração do clã Nolan (Christopher e Jonathan), depois do genial “Memento”.

sábado, agosto 20, 2005

Momento Zen

sexta-feira, agosto 19, 2005

O QUÊ?



A estreia de “Corpse Bride” em Portugal foi adiada de 27 de Outubro para 8 de Dezembro. O segundo filme do ano de Tim Burton estreia nos Estados Unidos a 23 de Setembro, portanto verifiquem bem o quão actualizado andamos. Que raiva!! Como será possível que os espectadores portugueses sejam tão desprezados por indivíduos que privilegiam e nos impregnam com filmes ocos e obtusos? Patético!!

quinta-feira, agosto 18, 2005

“Cinderella Man”, de Ron Howard

Class.:



Lutar por... leite

Será que ultimamente não se consegue inventar um título decente para um filme sobre boxe? Até “Million Dollar Baby” soa melhor. Enfim…
Sinceramente, já fui suficientemente sovado e esmurrado com histórias do mesmo género. O padrão já foi usado e abusado: o oponente maléfico, a esposa fiel mas em constante desaprovação e o protagonista triunfando sobre adversidades, inspirando os próximos. Em “Cinderella Man” temos o boxe como pano de fundo e apesar de não ser um realizador fabuloso, Ron Howard também não é medíocre. Apesar de familiar, o trabalho de Howard é subtil e executado com brilhante eficácia.

Baseado em factos verídicos, o filme inicia em 1928, quando James J. Braddock (Russell Crowe), um promissor boxeur de New Jersey apelidado de “Bulldog of Bergen”, conquista alguma fama com a ajuda do seu manager Joe Gould (Paul Giamatti). A vida corre-lhe bem e a sua família não passa dificuldades graças aos dólares conquistados vitória após vitória. Todavia, Braddock sofre várias fracturas na mão direita e o mundo à sua volta começa a desabar: a sua licença de boxe é revogada e a América resvala na Grande Depressão.
Braddock, a sua esposa Mae (Renée Zellweger) e os seus três jovens filhos (assim como milhões de pessoas), vêem-se subitamente imersos numa profunda crise, com escassas possibilidades de sobrevivência. No entanto a determinação do “Bulldog of Bergen”, adjuvada pelo seu amor e honra conduzi-lo-ão à realização de um sonho. É uma história que explora o heroísmo, a fidelidade familiar e a pujança do espírito humano.

Ron Howard acredita na América e nos seus valores familiares, como atesta nos seus prévios filmes: “A Beautiful Mind”, “Far and Away” e até em “How the Grinch Stole Christmas”.
“Cinderella Man” é um retrato de esperança numa época de angústia e aí o filme detém o seu maior poder (juntamente com as interpretações), ou seja, o filme apreende de forma convincente o desespero, o sentimento de impotência e pavor da era da Grande Depressão americana.
O ambiente que rodeia os ringues é claustrofóbico e as cenas de luta são brutais, mas não transcendem o que já foi feito no passado. Acima de tudo, Howard foca a atenção no drama humano, almejando o coração da audiência.



Uma das qualidades de Howard é revelada na sua excepcional manipulação de magníficos actores. Ele chegou a comparar a interacção com Crowe a uma tempestade tropical, porque nunca se sabe qual o feitio que o actor ostentará no dia das filmagens. Todavia, as interpretações em geral e Russell Crowe em particular representam um dos pontos altos do filme.
Russell Crowe capturou a essência de Braddock, entregando-se de corpo e alma para assimilar a personagem (deslocando inclusive um ombro nos treinos, atrasando as filmagens dois meses). Nas cenas de luta quase sentimos a dor da sua personagem. A determinação silenciosa projectada através de uma imagem contundida retrata Braddock como um homem simples, emocionalmente complexo e tacteando as raízes do desespero, mas admiravelmente bondoso. Crowe detém a inata habilidade para arrecadar um papel referente a um determinado período histórico e fá-lo parecer contemporâneo: seja como Gladiador numa Roma Antiga, ou como matemático brilhante e esquizofrénico na década de 50. O Oscarizado Russell Crowe é novamente “Master and Commander” carregando uma película nos seus ombros e o seu portentoso talento é novamente asseverado. Paul Giamatti, apesar de não ser tão memorável como Mickey (personagem desempenhada por Burgess Meredith em “Rocky”), representa com brilhante eficácia o manager de Braddock, injectando boas doses de honestidade. É um actor fascinante e fabuloso. Craig Bierko (Max Baer) revela-se versátil e traça um retrato assustador do adulterado vilão de serviço. Existe uma ténue percepção de vulnerabilidade na sua representação. Para contrastar as brilhantes representações, Renée Zellweger continua a não conquistar a minha simpatia, representando os estereotipados resmungos de esposa e funcionando neste filme como uma extenuante réplica da amada de Rocky: Adrian Balboa.
Sublime é a simbologia do leite. O leite é um alimento e como importante fonte de cálcio, é fundamental para o fortalecimento da estrutura óssea e até dentária. Num plano figurativo e profundo, Braddock funcionou como alimento e fortificação para o debilitado espírito de uma fracção americana.

“Cinderella Man” é o “Seabiscuit” deste ano, onde as pistas de corrida de cavalos são substituídas por ringues. As semelhanças são claras: a Grande Depressão, a “ressurreição” na carreira após lesão, homens desanimados que carecem por uma centelha de esperança para recuperarem. Reconheço que o conto de fadas (fazendo jus ao título) poderá emocionar e abranger imensos espectadores, mas “Cinderella Man” não estampa uma marca perpétua e atinge todos os clichés do género («Yo Adrian!» diz-vos algo?).
As cenas de luta não apresentam novidades, não superam a opulência de “Raging Bull” de Scorcese (o melhor filme do género e um dos melhores filmes de sempre), nem a fatalidade de “Million Dollar Baby” de Eastwood.

Outra das debilidades do filme é a evidente disparidade de algumas personagens quando comparadas a Braddock. Para fortificar a modelar aura bondosa de Braddock, certas personagens que o rodeiam são denegridas e o boxeur Baer é transformado num vilão demoníaco, deturpando um pouco a realidade dos factos. Tudo em honra da descarada manipulação de emoções.

François Truffaut dizia que o cinema é feito para o público e não para os críticos. Nesse sentido apesar do filme não inovar, ser óbvio e nitidamente manipulador, o aprazível protagonista e a comovente história desarmarão muitos espectadores. Pessoalmente adoro divagar sobre o que visiono e como tal não concordo com a afirmação de Truffaut. O filme triunfa no retrato da época de declínio e principalmente na notável representação do colossal Russell Crowe (bem secundado por Giamatti), mas fica longe de carimbar uma marca indelével. “Cinderella Man” desfere alguns bons socos, mas nem com 144 minutos de rounds consegue alcançar um K.O..

quarta-feira, agosto 17, 2005

Jarhead



O novo filme de Sam Mendes (que venceu o Oscar de Melhor Realizador com “American Beauty”) intitula-se “Jarhead” e tem estreia mundial agendada para 4 de Novembro do presente ano.

“Jarhead” (termo utilizado para descrever os Marines) segue “Swoff” (Gyllenhaal), um jovem que se alistou para servir na Guerra do Golfo, sofrendo com o insuportável calor debaixo de um Sol abrasador e completamente à mercê dos soldados iraquianos. “Swoff” e os seus amigos Marines apoiam-se numa sardónica humanidade em território desconhecido e hostil, numa causa que não compreendem totalmente. Jamie Foxx (“Ray”) interpreta o Sargento Sykes, que lidera o pelotão de Swofford.
O filme é baseado no best-seller de 2003 da autoria do veterano Anthony Swofford, sobre as suas experiências na preparação da Operação “Desert Storm” na Arábia Saudita e nas experiências de combate no Kuwait. “Jarhead” é um retrato obscuro, uma indagação honesta sobre episódios surreais, trágicos e absurdos.

O realizador inglês Sam Mendes, ofereceu duas pérolas à Sétima Arte e apesar de “American Beauty” (1999) ser uma obra superior, “Road to Perdition” (2002) foi um filme que também apreciei copiosamente. Não adorei completamente o trailer já lançado (muito por culpa da música seleccionada), mas aguado ansiosamente o filme. Sam Mendes é um perfeccionista nato e o elenco deste filme é admirável: liderado pelo excelente Jake “Donnie Darko” Gyllenhaal e seguido pelos oscarizados Jamie Foxx e Chris Cooper (“Adaptation.”). Acredito que esta será a derradeira confirmação e consagração de Gyllenhaal. A ver vamos…

terça-feira, agosto 16, 2005

Momento Zen

sexta-feira, agosto 12, 2005

“Charlie and the Chocolate Factory”, de Tim Burton

Class.:


“The best kind of prize is a surprise” (Willy Wonka)
Em 1964, o escritor Roal Dahl lançava “Charlie and the Chocolate Factory”. Um clássico detentor de boas porções de entretenimento moral acondicionadas numa visão singular. O autor detestou a adaptação cinematográfica de Mel Stuart em 1971, mas acredito que amaria a Burtonização do seu clássico (aceitando a liberdade tomada pelo cineasta, acerca do pai de Wonka). Burton e Dahl são idênticos no sentido de humor levemente distorcido e além disso, este filme é portador de uma imensa alma. Esta não representa a primeira “cooperação” entre Dahl e Burton, pois o realizador produziu a adaptação animada “James and the Giant Peach”, realizada por Henry Selick.

O filme é sobre o excêntrico Willy Wonka (dono de uma fábrica de chocolate que há 15 anos não é vislumbrada por nenhum forasteiro e onde opera a sua singular equipa de Oompa-Loompas) e Charlie um rapazinho de bom coração nado numa pobre família, que vive sob as sombras da extraordinária fábrica. Charlie sonha com os chocolates que adora, mas não tem possibilidades para comprá-los. Há muito isolado da sua família, Wonka lança um concurso para exibir o seu império de doces, ocultando 5 bilhetes dourados nas suas tabletes. Cinco crianças arrebatam o premiado bilhete que lhes permitirá descobrir o misterioso mundo de Wonka. Charlie (miraculosamente seleccionado) é a mais pobre e pura das crianças, depois existem o guloso badocha Augustus Gloop, o viciado em videojogos e computadores Mike Teavee, a competitiva Violet Beauregarde e a mimada Veruca Salt. Deslumbrado visão após visão pela peculiar indústria, Charlie é sugado pelo fantástico mundo de Wonka, onde várias surpresas o aguardam.

“Charlie and the Chocolate Factory” marca o regresso ao material original de Dahl e mereceu o selo de aprovação da família do escritor. A mágica viagem ministrada por Tim Burton à inefável fábrica de chocolate de Willy Wonka acarreta pitadas de surreal e bizarro, com doses saudáveis de grotesco. É uma fusão do mundo de Oz com o universo Disney.

A obsessão de Burton em Wonka funciona como o maior poder e fraqueza do filme. Se por um lado o charme bizarro e toda a perversidade da personagem são evidenciados saborosamente, o facto de Burton se focar demasiado em Wonka, rompe com o agente enigmático da sua identidade e fá-lo perder aquele misticismo que o torna delicioso. O maior problema do filme é o facto de sugar todo o mistério, revelando todos os segredos e respondendo a todas as questões.



Johnny Depp (Willy Wonka) e Freddie Highmore (Charlie Bucket) demonstram uma química fantástica, já patenteada no filme “Finding Neverland” de Marc Forster. Highmore exibe maturidade na forma como Charlie ilumina o caminho de Wonka, mas este é um filme para Johnny Depp explanar o seu singelo lado acriançado. É uma fantasia que flutua na energia irreal que ele extrai de quase todos os seus papéis. Ele é uma daquelas inenarráveis forças incapazes de serem reduzidas a um simples padrão. Imensas “super-estrelas” interpretam o mesmo papel filme após filme, modificando simplesmente o nome da personagem, mas Depp assimila completamente a figura que retrata.

Johnny Depp foi criticado ferozmente por alguma crítica americana, pelo seu retrato se aproximar demasiado da figura de Michael Jackson (apesar do actor afirmar que se baseou em Howard Hughes). Será mesmo idêntico? Sem dúvida, os maneirismos são manifestamente semelhantes. No entanto, estes americanos conseguiriam verificar referências a Jackson numa estátua com o nariz partido, ou até no queijo derretido de uma qualquer fatia de pizza. A obsessão pelo artista pop é doentia e deveriam utilizar todas as suas palavras para glorificarem o seu excelso actor: Johnny Depp. Numa admirável performance, Depp supera a fabulosa interpretação de Gene Wilder e projecta um diferente retrato de Wonka. O desatino eufórico é tremendamente divertido por ser esticado ao limiar do absurdo. Os amplos sorrisos delineados na sua face, alternados pelo semblante e olhar solitário revelam o domínio de Depp na arte de representar.

O imaginário do filme irá contribuir para elevá-lo a clássico instantâneo: os ângulos dramáticos da casa de Charlie tornam-na singular, num momento visual melífluo e memorável que relembra o expressionismo alemão da Obra-Prima artística “Das Kabinett des Doktor Caligari” (1919) de Robert Wiene e até a curta-metragem “Vincent” de Burton; a cascata e o rio de chocolate da fábrica; o barco Cavalo-Marinho; os cogumelos gigantes à “Alice no País das Maravilhas”; o elevador de vidro… enfim, tudo exibido num extravagante panorama Burtoniano. A excepcional aptidão de Burton é criar autênticos rebuçados para os sentidos através de vívidos ambientes bigger than life.



Neste “Charlie and the Chocolate Factory”, Burton providencia cenários coloridos e guarnecidos com uma mística vibração que convoca o espectador numa experiência intimista. Os espaços permutam entre o expressionismo alemão, o gótico negro e deflagrações de cores primárias. Os cenários ganham tanta vida que adquirem o estatuto de personagem e certos itens são tão deleitosos que desejei ardentemente efectuar uma visita física à fantástica Fábrica. Para evocar este utópico ambiente, Burton beneficiou da sensibilidade fotográfica de Philippe Rousselot (numa terceira colaboração após “Planet Of The Apes” e “Big Fish”) para capturar os cenários primorosos concebidos por Alex McDowell (“Fight Club”, “Minority Report”, “The Crow”). Danny Elfman oferece a composição musical e a voz às músicas (criadas também por ele) estranhas dos Oompa Loompas. As músicas dos Loompas não têm aquele arrebatamento patenteado na animação “The Nightmare Before Christmas”, mas algumas cenas vêem intensificado o negrume, a jocosidade e a excentricidade graças à intervenção da composição de Elfman.

Existem múltiplas referências ao longo do filme, desde o já referido “Das Kabinett des Doktor Caligari”, “Ben-Hur” na cena do barco Cavalo-Marinho, “Psycho” e um enorme tributo a “2001: A Space Odyssey” (na cena da Sala TV), onde são utilizadas as imagens da cena dos primatas com uma barra de chocolate substituindo o monólito de Stanley Kubrick. Burton presta igualmente homenagem aos seus anteriores filmes. A profunda mensagem de “Charlie and the Chocolate Factory” poderá etiquetá-lo como um “Big Fish” versão infantil e o mais explícito tributo refere-se à cena em que Wonka corta as fitas da Fábrica, numa pose que evoca “Edward Scissorhands”. As personagens de Burton (Edward Scissorhands, Pee-Wee, Ichabod Crane, e agora Willy Wonka) vivem sozinhos numa metáfora de isolamento, separados das figuras horrendas/lendárias dos seus pais (protagonizadas anteriormente por Vincent Price, Martin Landau e agora Christopher Lee). Os filmes de Burton são na sua essência retratos de desajustados com sonhos.

Quando Charlie adquire o bilhete dourado, já Burton conseguiu gerar um genuíno ambiente aprazível e aconchegante, aquela envolvência que muitos realizadores nem concebem no próprio clímax. Aqui trata-se apenas do início da diversão. A leve toada do filme, desembrulhando divertidas piadas ao longo da sua duração, contagia e estampa um agradável sorriso, até no rosto mais carrancudo.

Para além dos malucos e inventivos doces de Wonka e dos animais de estimação exóticos, o que deverá importar para as crianças é a família, base do carácter de qualquer um. E é esse o significado de Charlie Bucket, o miúdo pobre e cheio de sonhos, o símbolo da inocência, prova de que luxo e mimos não bastam para criar uma criança. O que pode transparecer banal torna-se divertido e adulto graças às psicadélicas cores, às espantosas engenhocas da fábrica de Wonka, ao incondicional coração e alma que o filme extravasa. O Chefe Mestre Tim Burton combinou deliciosos ingredientes para a confecção de uma saborosa fábula.

quinta-feira, agosto 11, 2005

Chamemos-lhe... Momento Zen

quarta-feira, agosto 10, 2005

Harry Potter and the Goblet of Fire



Estreia no nosso país a 24 de Novembro “Harry Potter and the Goblet of Fire”, o quarto filme da saga do jovem feiticeiro.

O quarto ano de Harry na escola de feitiçaria de Hogwarts será marcado pelo célebre Torneio dos Três Feiticeiros, no qual representantes de três diferentes escolas de feitiçaria terão de superar uma série de desafios que vão intensificando de dificuldade. Harry recomeça a ter intensas dores na cicatriz, ou seja, Voldemort consolida o seu fortalecimento progressivo e prepara o seu regresso. Será um episódio da saga bem sombrio e sinuoso, adquirindo requintes de pura malvadez.

Confesso: adoro os livros do pequeno feiticeiro Potter, apesar de não ter aderido à febre do lançamento de “Harry Potter And The Half-Blood Prince” em Portugal. Mas que raio (!!), até verifiquei putos de 10 anos, que mal sabem ler português, extasiados com o exemplar inglês! O que é isto??
A Warner Bros já confirmou que “Goblet of Fire” receberá a classificação de PG-13. Adorei a notícia, pois o quarto livro da série é talvez o meu favorito. A direcção tomada pela escritora Rowling adquiriu contornos bem sinistros. Os responsáveis envolvidos perceberam claramente a evolução da audiência infantil, provocada pelos livros e filmes da saga. Outra das minhas alegrias é o novo realizador: Mike Newell foi o responsável por dois filmes que adoro: “Enchanted April” (1992) e “Donnie Brasco” (1997).
Venham de lá raios e coriscos…

terça-feira, agosto 09, 2005

Planos sexuais e tal...



O famigerado actor Bruce Willis (“Die Hard”, “Unbreakable”, “Sin City”) enfureceu no passado dia 22 de Julho uma jovem, após uma lasciva e indiscreta pergunta.

A estrela hollywoodesca divertia-se com uns amigos no Roosevelt Hotel, em New York, quando decidiu interpelar uma mulher com a seguinte questão: “Quais os seus planos sexuais para esta noite?”.
A pergunta enfureceu a jovem, que levantou imensa celeuma envergonhando o actor de 50 anos.
O seu advogado, Marty Singer, defendeu Willis, afirmando que este apenas brincava: ”Bruce andava na galhofa com uns amigos, conversando sobre frases de engate. Um recordou-se de uma antiga frase e Willis decidiu usá-la, como parte da folia”.

Pois pois… a brincar a brincar…
Quanto a mim, esta é a inevitável consequência do aumento desmedido dos níveis de testosterona, após se contracenar com Jessica Alba. Digo eu...

sábado, agosto 06, 2005

“The Life Aquatic With Steve Zissou”, de Wes Anderson

Class:



Após pequenas pérolas cinematográficas como “Bottle Rocket” (1996), “Rushmore” (1998) e especialmente “The Royal Tenenbaums” (2001), Wes Anderson apresenta-nos o seu projecto de maior orçamento: “The Life Aquatic With Steve Zissou”. Os três primeiros filmes primavam pela inteligência e pelo seu estilo único.
Steve Zissou (Bill Murray) é um aventureiro marinho cujas explorações documenta numa série de filmes. Juntamente com a ex-mulher Eleanor (Anjelica Huston) e seus fiéis companheiros, onde constam Klaus (Willem Dafoe), um piloto supostamente seu filho chamado Ned (Owen Wilson), e a repórter Jane (Cate Blanchett), Zissou organiza uma caça ao mítico tubarão que assassinou o seu malogrado colega.

Assim como em “The Royal Tenenbaums”, Anderson explora os assuntos relacionados com as falhas dos pais. Zissou é uma personagem melancólica, inerte e depressiva. Bill Murray é o caso raro de quem não sabe representar mal. Angelica Houston desempenha uma personagem enigmática, pois aparenta um curioso divertimento particular. Cate Blanchett num papel pouco digno do seu enorme talento prova os seus múltiplos alcances em termos de representação. Owen Wilson (que participou em todos os filmes de Wes Anderson como actor e nos 3 primeiros como argumentista) tem uma singela actuação afectiva. De referir ainda a carismática e sempre bem-vinda presença de Jeff Goldblum (interpretando o rival de Zissou, Alistair Hennessey), a divertida actuação de Willem Dafoe e a peculiar banda sonora que contém acústicas versões de músicas de David Bowie cantadas em… português.

Wes Anderson é um autor único. O seu estilo sui generis de fazer comédia manifesta uma inteligência invulgar e excepcional. Os seus filmes estão longe de ser digeridos por massas, mas acho que todos deveriam fitar e assimilar as suas obras. O ambiente dos seus filmes chega a ser de uma passividade atroz, desligamo-nos momentaneamente dos seus desígnios, mas talvez seja por estarmos tão pouco habituados a este género de construção cinematográfica. Não podemos etiquetar tão redutoramente os seus filmes de comédias, pois graças a um enternecimento subtil, adjuvado pelas suas singulares visões, as películas atingem uma maior profundidade. “The Life Aquatic With Steve Zissou” é uma agitada amálgama de traição, esquecimento, vingança, declínio profissional. É o primeiro filme que Anderson escreve com Noah Baumbach, ou seja, sem o seu parceiro Owen Wilson. O resultado é um filme desequilibrado, por vezes aparentando ser uma tentativa de um fã de Wes Anderson em imitar um filme do ídolo. Mesmo assim admiro e fui submerso pela originalidade que Wes Anderson expele (novamente) neste filme bizarro.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Censura em Festival de Cinema



O Festival de Cinema de Montreal, cedeu à pressão de patrocinadores e baniu a estreia do filme “Karla” de Joel Bender, um filme sobre a serial killer Karla Homolka.

Membros de famílias das vítimas de Homolka, ergueram uma campanha para a censura do respectivo filme e vários patrocinadores do festival também ameaçaram eliminar o patrocínio, caso o filme fosse exibido. O presidente do festival, Serge Losique, havia defendido o filme, apregoando que vários criminosos (desde Hitler ao “Boston Strangler”) haviam sido matéria para múltiplos filmes, mas cedeu às ameaças de meia dúzia de patrocinadores.
Stephen Williams, autor de “Invisible Darkness” proferiu ao jornal “Toronto Globe & Mail”: «Isto é um ultraje. Mr. Losique anunciou o filme com fanfarra, mas não tem coragem para manter e defender as suas convicções».
“Karla” é sobre um casal maléfico e demente. Paul Bernardo e a sua esposa Karla Homolka raptaram, abusaram sexualmente e assassinaram três jovens raparigas. O que torna a história (ainda) mais inquietante é o facto de ser… real.
É alarmante continuarmos a deparar com censuras deste calibre. Impedem o debate público de um perturbador flagelo e censuram a expressão artística.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Cadeiras Vibratórias



A rede de cinemas japonesa (United Cinemas) situada em Kishiwada, abalou o convencionalismo da experiência de cinema, instalando cadeiras vibratórias numa das suas salas, para o público realmente sentir o som e a fúria dos filmes de acção.

O sistema vibratório denominado “Winble” equipa as cadeiras com quatro vibro-transducers, dispositivos sensíveis a determinadas frequências de som que irão fazer vibrar o assento e o encosto das respectivas. As cadeiras reagirão a sons como explosões, música muito alta, a passagem de um comboio, embate de veículos, edifícios desmoronando-se e outras pirotecnias. A inovação foi obviamente pensada para os filmes de acção mais agitados, como uma dose extra de adrenalina para o público. Se existir alguém detestando a oscilação, o abalo poderá ser cessado ao toque de um botão.
A sala também se encontra equipada com THX: o sistema de som de alta qualidade, certificado pela Lucasfilm Ltd de George Lucas.

A 25 de Junho do presente ano, a audiência teve o privilégio de experimentar a panóplia de acção ministrada por “Star Wars, Episode III: Revenge of the Sith” de George Lucas. Os vibro transducers até reagiram ao zunido dos sabres de luz.A questão que se impõe é: Quantos se aguentarão sentados na cadeira sem o acesso a um cinto de segurança?

quarta-feira, agosto 03, 2005

A History of Violence

O hipnótico autor David Cronenberg apresentou o seu novo filme (“A History of Violence”) em Cannes, a 16 de Maio de 2005. O filme ainda não tem data de estreia prevista em Portugal, para grande infelicidade minha.

“A History of Violence” é a adaptação para cinema da banda desenhada homónima escrita por John Wagner, com desenhos de Vince Locke.
O filme apresenta Viggo Mortensen (Aragorn em “The Lord Of The Rings”) protagonizando Tom Stall, um pai de família cuja vida sofre uma alteração radical após matar dois agressores, num acto de legítima defesa, durante um jantar num restaurante. Stall torna-se herói para as gentes da sua pequena localidade, mas rumores do seu passado irão colocar em causa a fama alcançada.
Esta obra de Cronenberg é uma viagem aos velhos “fantasmas” do sonho americano, com uma ressonância universal. Trata-se de um filme que promove a ultra-responsabilidade, pois é uma discussão séria sobre a natureza da violência e o impacto desta na sociedade.
Do elenco, para além de Viggo Mortensen, contam igualmente Maria Bello (“Secret Window”) como esposa de Stall, William Hurt (“The Village”) e Ed Harris (“The Hours”).

David Cronenberg é um fenomenal autor de culto e apresenta uma magnífica trajectória profissional, merecedora de várias retrospectivas. Admiro a sua espantosa obra, desde os inaugurais e inventivos “Shivers” (1975) e “The Brood” (1979), passando pelos hipnóticos “Videodrome” (1983) e “The Dead Zone” (1983), pelos incompreendidos “Crash” (1996), “eXistenZ” (1999) e “Spider” (2002) e pelas arrepiantes Obras-Primas “Dead Ringers” (1988) e “The Fly” (1986).

A brilhante reputação do realizador canadiano foi sendo edificada ao longo dos anos, através de um impressionante currículo de películas. Obscuros objectos de desejo, sinistros automobilísticos, perseguições angustiosas, novas tecnologias e até intensos psico-dramas com toques freudianos e ressonâncias grotescas. Durante mais de três décadas, Cronenberg transfere plateias para os seus mundos bizarros. Felizmente, podemos sempre sair desses universos… a não ser que as nossas pernas estejam paralisadas com o medo.

terça-feira, agosto 02, 2005

The Fountain



O talentoso Darren Aronofsky estreará no final deste ano o seu novo filme, intitulado “The Fountain”.

“The Fountain” une três períodos históricos diferentes em três contos paralelos (a invasão do Império Maia pelos espanhóis em 1535, a procura da cura do cancro nos dias actuais e o futuro nos confins do universo) através das aventuras de Thomas (Hugh Jackman) – um guerreiro, doutor e explorador – que encontrou a Fonte da Juventude e busca incessantemente uma maneira de vencer a morte e prolongar a vida da mulher que ama. É uma demanda pela imortalidade, numa história de amor, morte, espiritualidade e sobre a fragilidade da nossa existência. Numa visão da morte como processo de renascimento.

Até ao momento pouco foi divulgado acerca do filme. Hugh Jackman (o Wolverine de X-Men) e Rachel Weisz (“Constantine”) fazem parte do elenco, mas anda tudo envolto num mistério que incandesce: não existe uma data de lançamento definida, apenas existem três fotos divulgadas oficialmente, não existe site oficial, nem poster, nem qualquer tipo de trailer e a produção permanece enigmática.
É mais um dos filmes muito aguardados por mim. Darren Aronofsky tem um olho cinematográfico extremamente audaz. Acredito que se poderá tornar num cineasta de culto e deixar uma marca venerável na história da Sétima Arte. Após o fenómeno de culto indie lançado em 1998 e intitulado “Pi” (um intrincado “mind expanding” que funciona como objecto de Arte graças às suas ideias filosóficas e profunda doutrina), Aronofsky voltou à carga em 2000 com a sua admirável obra “Requiem for a Dream”, numa inquietante viagem às funduras do desespero e da auto-destruição.
Espero que desta vez os filmes de Aronofsky estreiem numa sala de cinema.
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