sábado, abril 29, 2006

Já lá vão... 40 anos

Este post representa o desabrochar de uma nova rubrica, na qual pretendo viajar décadas no passado e evocar humildemente filmes que cevam o meu fascínio pela Sétima Arte. Há quarenta anos (1966) estrearam quatro filmes que figuram no meu Altar de Culto e aqui deposito uma breve apreciação de cariz intimamente pessoal.



Da Zui Xia” é uma película influente de Artes Marciais, realizada pelo pioneiro King Hu. Bem antes de “Wo hu cang long” (“O Tigre e o Dragão”) ou “Kill Bill”, Hu lançava à terra as sementes que fariam germinar obras como as de Ang Lee e Quentin Tarantino. Estabelecido na China do Século XIX, o filme apresenta uma heroína misteriosa (soberba Cheng Pei-pei) pelejando para resgatar o filho do governador de um grupo de raptores. Apoiando-se na meticulosa realização de Hu e no inspirador desempenho de Cheng Pei-pei (a ama diabólica em “Wo hu cang long”), o filme alcança o pináculo como um dos melhores do género, apesar da sua história não causar tanto impacto hoje em dia, graças à reprodução massiva dos seus elementos inovadores. Incrustando no seu âmago uma tradição dramática, “Da Zui Xia” move-se de forma operatória e repleta de dinamismo estilístico que desafia a realidade.



Ainda me recordo do meu primeiro contacto com “Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo”. Era a noite de 31 de Dezembro e experimentava os primeiros passos na fase da pré-adolescência. As doze badaladas soaram e enquanto alguns amigos se divertiam nas festas familiares, outros nos bares e uns quantos na praia, encontrava-me solitariamente sentado em frente a um televisor que emitia o canal público, aguardando na escuridão da sala o início da transmissão de uma das Obras máximas do mestre Leone. O que para a maioria será um comportamento deprimente, para mim foi uma experiência inesquecível. “Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo” culmina de forma exímia a Trilogia dos Dólares (ou Trilogia do Homem sem Nome), do ilustre Sergio Leone. Clint Eastwood («o bom») representa um caçador de prémios vigarista que sistematicamente captura e liberta Eli Wallach («o vilão») para subir a parada da sua captura. Quando os dois trapaceiros casuais se unem na procura de ouro roubado, surge o oportunista Lee Van Cleef («o mau») para complicar a demanda.
Leone compõe cada imagem com a minuciosidade na qual um pintor pincela uma tela e inventivamente montou o produto final com cortes ao som da música de Morricone. Auxiliado pelo memorável choro do coyote, patente na admirável composição de Ennio Morricone, Leone oferta um Épico de Avareza, num estilístico recital de ironia dramática, ornamentado com humor negro e personagens injectadas numa emotividade à base de testosterona.



Blow-Up” é um exercício de estilo de Michelangelo Antonioni, que no seu primeiro filme em língua inglesa, imortaliza Londres focado no dissolvido fotógrafo Thomas (David Hemmings), que poderá ter testemunhado um crime através das lentes da sua máquina. À medida que tenta desvendar o mistério, Thomas revela fragmentos da realidade sem conseguir deslindar a verdade absoluta. Inspirado na curta história de Julio Cortázar, “Las babas del diablo”, Antonioni exala baforadas artísticas que serviram de inspiração para um rebanho de cineastas inventivos. Tal como “La Dolce Vita” de Fellini o filme move-se como uma sátira ao sofisticado vácuo moderno, perceptível no desalmado mundo da moda ou nas frívolas deambulações juvenis. É uma fascinante meditação abstracta sobre a lógica, apresentando as linhas esbatidas da subjectividade e da percepção, mesmo utilizando provas fotográficas. As preocupações de Antonioni são esotéricas e de forma abnegada confia no intelecto do espectador para esquadrinhar o conteúdo fílmico, alcançando interpretações particulares através do poder perceptivo. Será que as nossas percepções terão validade? Poderemos confiar nos nossos sentidos? Será que a verdade sai beliscada quando outros não partilham a mesma experiência? Quando no sublime final, o fotógrafo vagueia pela relva até desaparecer como o cadáver do parque, Antonioni rubrica a sua peculiar assinatura, levando o protagonista a escolher o grupo ilusório em detrimento da realidade desoladora.



Após quarenta anos de existência, “Persona” de Ingmar Bergman, permanece incólume à erosão temporal graças à intensidade enigmática que o resguarda. No seu filme de 1963, “Tystnaden”, Bergman remata-o com um desfalecimento comunicativo entre os dois protagonistas. Este colapso linguístico é um dos temas centrais de “Persona”, uma obra que assinala uma mudança peremptória no rumo da filmografia de Bergman, afastando-o dos diálogos auto-reveladores e direccionando-o numa exploração do meio cinematográfico e da fundura do subconsciente humano. O autor sueco defendia que um filme deveria comunicar estados psíquicos além da mera projecção de imagens e graças a este imaginário de reflexos e fusões pervertidas, “Persona” encontra-se embebido num suco de imaginário surreal e sequências quiméricas, tornando-se difícil distinguir a fantasia da realidade na sua tradução linear. É uma das obras mais complexas de Bergman, sendo que o retrato caótico existencial será desconfortável e frustrante para muitos, mas o poder meditativo da sua estrutura temática, permite que o espectador preencha parcialmente espaços em branco, resultando numa Obra-Prima contemplativa. Solidamente assente como um dos melhores dramas humanos da história da Sétima Arte, possui uma força dinamizada pela dança psicológica entre a enfermeira psiquiátrica Alma (Bibi Anderson) e a enigmática doente Elizabet (Liv Ullmann). Cada nuance emocional é espelhada inesquecivelmente na expressividade facial destas actrizes e respostas fáceis encontram-se ausentes no delicado bailado de cumplicidade entre as duas protagonistas. “Persona” poderá ser encarado como uma reflexão metafórica da relação entre o artista e a audiência ou como uma metáfora para o processo da psicanálise, mas cabe ao observador projectar um fragmento seu durante o visionamento para assimilar a matéria que se apresente incongruente. Pinceladas numa tonalidade intimista, as imagens adquirem refulgência poética enquanto mascaram os nossos medos remotos e as nossas inseguranças inomináveis.

sexta-feira, abril 28, 2006

No Country for Old Men



O próximo filme dos irmãos Coen (“Fargo”) será a adaptação cinematográfica do romance de Cormac McCarthy, “No Country for Old Men”. O projecto de Joel e Ethan encontra-se em pré-produção e acaba de receber no elenco um ex-Goonie (Josh Brolin), depois das confirmações de Tommy Lee Jones e Javier Bardem. A história segue um rasto de violência, após um veterano do Vietnam se apossar de uma mala com dinheiro de um negócio de droga e provocar uma caça ao homem. No romance de McCarthy, as mulheres existem unicamente para evidenciar atracção e lealdade, contudo, sob a camada de machismo existe um thriller competente, que assevera os predicados do escritor na descrição de tensão, movimento e acção. As filmagens iniciam no próximo mês.

quinta-feira, abril 27, 2006

My life is about finding time to dream



Certamente muitos estarão familiarizados com a participação do treinador de futebol José Mourinho, na campanha publicitária “My Life, My Card” do cartão American Express. Contudo, existem spots bem mais interessantes, dirigidos superiormente por Wes Anderson (“The Royal Tenenbaums”) ou M. Night Shyamalan (“Signs”). O anúncio de Shyamalan é aquele que prefiro destacar, pois além de suportar uma fracção (2 minutos) da sua perícia, representa um exemplo apurado de uma campanha que absorve a atenção do público. Os segundos iniciais sugam os sentidos enquanto esquadrinhamos as imagens em busca do seu conteúdo e no inspirador remate final, auferimos a substância que nutre a excelsa veia criativa de Shyamalan.

O reclame estreou nos comerciais que intervalaram a Cerimónia dos Oscars e para acederem a dois minutos de enorme qualidade, cliquem na imagem acima exposta.

quarta-feira, abril 26, 2006

Curiosidade de pacote de cereais



Quentin e Marvin. Que episódios estrambólicos entrelaçarão estes nomes?
Em “Pulp Fiction”, Vincent Vega (John Tavolta) estoira acidentalmente a cabeça de um indivíduo que se encontrava na traseira do carro dirigido por Jules Winnfield (Samuel L. Jackson). Marvin era o nome da vítima. Em “Reservoir Dogs”, Marvin era o nome do polícia torturado por Mr. Blonde (Michael Madsen). Será que Quentin Tarantino foi atormentado na sua infância por um rufia chamado Marvin?

terça-feira, abril 25, 2006

O Salvador, segundo Cameron



Numa convenção em Las Vegas, James Cameron reafirmou a sua conjectura de tempestade digital, defendendo que o D-Cinema é a resposta à quebra de receitas e à pirataria. O realizador do filme mais rentável de sempre, declarou que nos últimos anos tem escavado a tecnologia 3-D, porque defende ser a forma revolucionária que poderá entusiasmar o público, afastando-os dos seus aparelhos portáteis e seduzindo-os para uma experiência poderosa, no interior de uma sala de Cinema.

sábado, abril 22, 2006

Momento Zen

sexta-feira, abril 21, 2006

Costa dentro, Aronofsky fora



Foram definitivamente confirmados os filmes que irão a concurso na 59ª edição do Festival Internacional de Cinema de Cannes, que decorre entre os dias 17 e 28 de Maio de 2006. O grande destaque será dado às produções europeias (11 no total) e concorrendo à Palma de Ouro encontra-se (para grande orgulho nosso), “Juventude em Marcha” de Pedro Costa (“Ossos”, “No quarto de Vanda” e “O Sangue”). A completar a representação portuguesa, foram seleccionados para a Quinzena dos Realizadores “Transe”, a quinta longa-metragem de Teresa Villaverde e “Rapace”, a curta-metragem de João Nicolau.

Em relação a expectativas pessoais, “The Fountain” de Darren Aronofsky fica de fora, mas em contrapartida “Southland Tales” de Kelly, “Babel” de Iñárritu e “El Laberinto del Fauno” de Guillermo del Toro integram o lote de filmes em competição. O alinhamento final deixou de fora o filme que aguardo mais impacientemente, mas não ficou esclarecido se a decisão foi tomada pelo próprio Aronofsky (e respectiva produtora) ou pelo comité de Cannes. Seja como for, aqui fica a Selecção oficial a competição:

Volver”, de Pedro Almodóvar
Il Caimano”, de Nanni Moretti
L'amico di famiglia”, de Paolo Sorrentino
The Wind that Shakes the Barley”, de Ken Loach
Selon Charlie”, de Nicole Garcia
Flandres”, de Bruno Dumont
Quand j'étais chanteur”, de Xavier Giannoli
Days of Glory”, de Rachid Bouchareb
The Weakest Is Always Right”, de Lucas Belvaux
Marie-Antoinette”, de Sofia Coppola
Babel”, de Alejandro González Iñárritu
Les Climats”, de Nuri Bilge Ceylan
Juventude em Marcha”, de Pedro Costa
El Laberinto del Fauno”, de Guillermo del Toro
Lights at the Edge of the City”, de Aki Kaurismaki
Red Road”, de Andrea Arnold
Southland Tales”, de Richard Kelly
Fast Food Nation”, de Richard Linklater
Summer Palace”, de Lou Ye

quinta-feira, abril 20, 2006

He seems to grow younger every year



Segundo o produtor Frank Marshall numa entrevista à Empire, Outubro será efectivamente o mês que marca o início das filmagens do próximo filme de David Fincher (“Se7en”, “Fight Club”), intitulado “Benjamin Button”, logo após a conclusão de “Zodiac”. Baseado numa curta história de F. Scott Fitzgerald (“The Curious Case of Benjamin Button”), este é um projecto que teve uma longa gestação, ao qual já foram anexados vários argumentistas e realizadores, entre os quais: Spike Jonze, Ron Howard ou Steven Spielberg. Apesar do conto original ser curto, Eric Roth (“Forrest Gump”, “The Insider”) expandiu a narrativa num épico argumento de 200 páginas. A história segue o peculiar nascimento de um ser humano do sexo masculino (Benjamin Button) que aparenta a idade de 70 anos aquando da sua natividade. À medida que os anos vão passando, Benjamin constata que sofre um processo de rejuvenescimento.

Brad Pitt (numa terceira colaboração com Fincher) e Cate Blanchett farão parte do elenco e os estúdios almejam a estreia de “Benjamin Button” para o Natal de 2007. Para acirrar (ou não…) a curiosidade de alguns, aqui fica um rumor que já possui alguns meses: Supostamente, repito… supostamente, Fincher ambiciona um orçamento de 150 milhões de dólares! A elevada fasquia monetária deve-se a significativos imaginários digitais que pretende incluir no filme, cimentando a sua reputação como mente inventiva na manipulação de efeitos especiais.

quarta-feira, abril 19, 2006

Au Revoir



Na passada semana, havia sido anunciado o novo projecto de Woody Allen. Tratava-se de uma comédia em território parisiense, para a qual Allen já possuía dois elementos para integrar o elenco: Michelle Williams e David Krumholtz. Pois bem… esqueçam!
Inexplicavelmente o filme que iria iniciar filmagens no Verão foi cancelado e Woody Allen decidiu voltar a filmar em Londres, com um argumento e elenco completamente diferentes. Não foi dada uma razão oficial para a decisão tomada, mas existem rumores sobre o facto de filmar em Paris subir demasiado o orçamento do filme.

terça-feira, abril 18, 2006

A bela escolha de Hanks



Tom Hanks, o carismático actor duplamente oscarizado pela Academia, elegeu “2001: A Space Odyssey” de Stanley Kubrick como o seu filme preferido de sempre. Hanks declarou que nunca se farta de revisitar a aclamada aventura Sci-Fi de 1968, porque sente-se envolvido de uma forma única na contemplação da experiência proporcionada pelo «Realizador da Mente». O actor incluiu ainda “The Godfather” de Francis Ford Coppola, “Fargo” dos irmãos Cohen, “Elephant” de Gus Van Sant e “Boogie Nights” de Paul Thomas Anderson no seu Top 5 de todos os tempos.

É caso para dizer: Tom Hanks sabe-a toda!

domingo, abril 16, 2006

"Inside Man", de Spike Lee

Class.:



Convencionalismos mascarados
Numa altura em que mestres do cinema autoral (David Cronenberg, por exemplo) vêm os seus recentes projectos rotulados de convencional, mainstream, ou «o-mais-acessível-até-hoje», Spike Lee não poderia escapar à aridez de tal epíteto com este “Inside Man”. Tudo bem que numa certa extensão, Lee almeja o reconhecimento da sua linguagem cinematográfica junto de um público mais vasto, mas o filme não deixa de estar impresso com os seus brasões característicos. Isto deveria representar boas novas, mas a subtileza da pregação de Lee, há uns anos que passou a ter a sensibilidade de uma patada de elefante.

Inside Man” segue o conflito entre o detective Keith Frazier (Denzel Washington) e o assaltante de bancos, Dalton Russell (Clive Owen). À medida que o melindroso jogo do gato e do rato evolui, surge uma personagem vertiginosa: Madeline White (Jodie Foster), uma figura com motivos ocultos, que introduz ainda mais instabilidade a uma situação já de si volátil.
O filme é bom tecnicamente, com um trabalho de câmara tão abalizado, que os motivos de Russell deixam de ser cruciais em determinadas alturas. Como todos costumam ter motivos, a questão «porquê» dá lugar a «como», sendo a forma como empreendem os seus propósitos o mecanismo que mantém elevada a concentração do público. É um belo entretenimento conjugado com o dinâmico estilo visual de Lee, respectiva controvérsia e estilhaços de humor (no detalhe cultural de uma população em que o telemóvel é o novo membro da nossa anatomia). Contudo, originalidade é algo que se encontra ausente neste género moribundo, apesar de Lee tentar injectar as suas normas no projecto. O cenário é elementar e a exasperação urbana evoca de forma tão intensa “Dog Day Afternoon” de Sidney Lumet, que uma das personagens (Frazier) até o menciona.



Clive Owen, Denzel Washington e Jodie Foster, ministram um trabalho idóneo no estabelecimento do conflito. Owen passa a maioria do tempo com uma máscara, mas a mansidão glacial acentua o seu poderoso carisma. Foster ataca o papel com uma ferocidade electrizante, divertindo-se cabalmente. Na sua quarta colaboração com Lee após “Mo’ Better Blues”, “Malcolm X” e “He Got Game”, Denzel Washington emprega a desenvoltura necessária para manter a tensão elevada, salpicando a interpretação com alguns momentos de humor. Lee não exige que Denzel carregue sozinho o filme, mas apesar de “Inside Man” apresentar Frazier sem domínio sobre a situação, não poderia deixar de existir o banal momento Denzeliano: momento nutrido ao longo dos últimos filmes do oscarizado actor, para salientar como o homem domina tudo em seu redor.

Em “Inside Man”, Lee consegue a espaços estampar o seu carimbo encolerizado, imbuindo na película a explosiva mistura étnica da Big Apple, bem como os subtis espectros urbanos que a maioria dos cineastas olvida. As linhas de diálogo são lavradas com laivos de frustração tribal e sentimos a sua diversão na elaboração do thriller, injectando energia com os seus ritmos próprios, contando com interpretações de elevado nível, com uma composição sonora exemplar de Terence Blanchard e com uma excelente fotografia de Matthew Libatique (“Pi”, "Requiem for a Dream") que demonstra como consegue produzir fanfarra de estúdio, mantendo fidelidade à sua assinatura.



No entanto, Spike Lee encontra-se numa espécie de coma artístico, despertando esporadicamente nos sublimes “25th Hour”, “Do the Right Thing” e “Malcolm X”, através da exploração orgânica da sua amada New York. Sempre com o intuito de encarnar um «Shaft» versão realizador, o seu talento como cineasta é normalmente ofuscado pelo individualismo e pelo cerrado tom polémico da matéria indagada. Mesmo neste piscar de olhos a audiências alargadas, Lee pincela a tela final com seus temas, sejam eles o excelso retrato da fricção racial da vida nova iorquina pós 11 de Setembro ou o deplorável sexismo. “Inside Man” sofre com os seus piores instintos como realizador, imerso em estereótipos dúbios, particularmente na caracterização reles e indecorosa da maioria do sexo feminino: identificando a mulher pelo tamanho dos seios ou pelo grau de apetite sexual. Os membros da NYPD são apresentados como um bando de racistas e os judeus também são alvo de um retrato que gera no mínimo estupefacção. O argumento do estreante Russell Gewirtz, que inicialmente demonstra competência ao colocar-se sempre um passo à frente da audiência, tropeça nos derradeiros instantes ao atar pontas soltas de uma conclusão já anunciada, arrastando morosamente as cenas finais. Para um filme que depende tanto das personagens para progredir, o argumento possui crateras de meteorito, quer na omissão do background de uma personagem principal (Dalton Russell), no fraco desenvolvimente de uma personagem que poderia facilmente ser etiquetada de «inútil» (Madeline White) ou no retrato da amada de Frazier, resumida a uma simples amante libidinosa em lingerie.

Inside Man” inicia maravilhosamente com um monólogo de Clive Owen, abrindo as hostilidades de um Spike Lee Joint: informando-nos que este escolhe as palavras de forma metódica, porque não gosta de se repetir (o que não deixa de ser um paradoxo a confirmar bem perto do final). Todavia, o realizador que abomina estereótipos exagera num género de estúdio a manifestação subversiva daquilo que sempre foi: racialmente sensitivo e socialmente relevante. Nem um cofre-forte conseguiu suster a impetuosidade redundante que aflige o coma artístico de Spike Lee.

sábado, abril 15, 2006

"Titanic 2" – o trailer…

Deliciem-se a decifrar os excertos de filmes, clicando na imagem acima exposta para acederem a este fantástico mash-up.

sexta-feira, abril 14, 2006

Fragrâncias cinematográficas e putrefacções



The New World” de Terrence Malick, estreia em Tóquio no próximo mês e uma companhia nipónica tenciona adicionar sete aromas diferentes à projecção. Ao contrário do excessivo «Smell-O-Vision» introduzido por Mike Todd Jr., que levou críticos a assistirem ao filme “Scent of Mystery” com molas no nariz, a companhia deseja apenas intensificar a experiência com um impacto emocional idêntico ao proporcionado pela música, incluindo subtis odores em determinadas cenas. Uma versão «caseira» de 620 dólares encontra-se em produção, para ser sincronizada em leitores DVD.

Dito isto, aviso que as próximas linhas serão um ligeiro desabafo pessoal. “The New World” tem sido alvo de sucessivos adiamentos no território nacional desde Dezembro de 2005. As manobras de Abril estipularam inicialmente a sua estreia para o dia 6, depois remeteram-no para o dia 20 e agora lançam-no para… Maio!! Isto só pode ser gozo. Infelizmente, este tratamento parece ser global: os «Amantes da Sétima Arte» serão sempre olvidados em prol dos «Espectadores Comuns de Filmes num Ecrã superior ao Televisor lá de Casa».

Tendo em conta estas duas categorias distintas, desafogo apenas mais umas linhas sobre Terrence Malick e a sua obra recente. Nunca pretendo exercer despotismo nas palavras que redigir. Unicamente existem algumas pessoas que se identificam com as linhas que lavro e outras que possuem uma válida perspectiva divergente. Malick é uma figura peculiar na história do Cinema: intervala longos períodos de pausa entre as suas obras e quando as lança, o impacto é Amor ou Ódio… não existe meio-termo, não existem áreas cinzentas analíticas. Como admirador deste fabuloso autor, refastelei-me ao verificar como críticos que enxovalharam “The Thin Red Line” aquando da sua estreia, foram gradualmente modificando a sua opinião, graças ao portentoso cariz edificante dos filmes do mestre «Sparky» na nossa consciência. Quando visionarem “The New World” não confundam Cinema com Literatura, pois a Sétima Arte é muito mais do que uma simples construção de personagens. O Cinema é transcendental e Malick é um Poeta Idílico, alguém que despoleta mecanismos indecifráveis da essência humana, erigindo emocionalmente templos de inocência e refúgio para o sufocante pó quotidiano. E isto, meus caros colegas e amigos… é Arte no seu estado mais Puro.

quinta-feira, abril 13, 2006

Novo projecto dos criadores do «Rom-Zom-Com»



Em 2004, uma pérola cinematográfica passou despercebida à maioria da população cinéfila da terra de Camões. “Shaun of the Dead” é uma brilhante fusão de romance, zombies e comédia – «Rom-Zom-Com» – da autoria de Edgar Wright e Simon Pegg, uma equipa proveniente de sitcom’s britânicas. A mesma equipa planeia estrear em 2007 uma nova longa-metragem, intitulada “Hot Fuzz”. A história segue Nicholas Angel, um polícia tão bom nas suas incumbências, que faz os restantes colegas passarem por imbecis. Como resultado, os seus superiores resolvem livrar-se dele, enviando o melhor polícia de Londres para a letárgica vila de Sandford. Com o supervisionamento das reuniões de vizinhança invertendo a acção do frenesim citadino, Angel luta para se adaptar à nova realidade. Todavia, uma série de acidentes misteriosos invocam a sua cautela, levando Angel a ponderar sobre o conceito idílico que havia formado sobre Sandford. Será que o polícia enlouquece progressivamente na pacífica comunidade britânica? Ou existirão mesmo manifestações sinistras, que dissipam a aparente letargia local?


P.S.: Quando “Shaun of the Dead” estreou nos videoclubes nacionais, recebeu o ridículo título de “Zombies Party, Uma Noite de Morte”. Quem terá sido o bronco responsável por esta atitude burlesca? Se o título escolhido recebe termos ingleses, qual era o problema em ser mantido o título original?
Ele há cada indivíduo mais desvirtuado…

quarta-feira, abril 12, 2006

Bee Movie



O filme apenas será lançado a 2 de Novembro de 2007, mas vale sempre a pena ouvir falar de “Bee Movie” (que título maravilhoso!), a animação digital da Dreamworks que será escrita, produzida e dobrada por Jerry Seinfeld, o criador daquela que é considerada como a melhor série televisiva de humor de todos os tempos: “Seinfeld”. Renée Zellweger, Uma Thurman, Kathy Bates, Robert Duvall e outras estrelas do panorama cinematográfico, completam o elenco do filme.
A história segue Barry B. Benson (Seinfeld), uma abelha recém-formada que vive numa colmeia cuja estrutura evoca a ilha de Manhattan. Desiludido com a sua opção de carreira (fazer mel), empreende uma viagem especial fora da sua região, acabando por ver a sua vida salva por Vanessa (Zellweger), uma vendedora de flores em New York. Enquanto cimenta a relação com Vanessa, Barry descobre que os humanos consomem mel e consequentemente decide processar a nossa raça por furto.


P.S.: Repararam na aliteração do nome do protagonista? Excelente!

terça-feira, abril 11, 2006

Sugestão pessoal para Wonder Woman



A Silver Pictures será responsável pela adaptação cinematográfica de “Wonder Woman”, a heroína BD da DC Comics. Se é bem verdade que Joel Silver costuma macular certos projectos com escolhas débeis, também é inquestionável que por vezes adopta selecções estimulantemente certeiras. Arriscou em dois irmãos (os Wachowski) que revolucionaram o cinema em 1999 (“The Matrix”), quando ninguém daria um chavo pelas suas ideias. Recentemente confiou o argumento e a direcção de “Wonder Woman” a Joss Whedon, co-argumentista de “Toy Story”, criador da série televisiva “Buffy the Vampire Slayer” e de uma das maiores surpresas cinematográficas do ano transacto: “Serenity”, inspirada na sua malograda série, “Firefly”. Pois bem, a procissão ainda vai no adro, mas um extenso rol de actrizes tem sido apontado para o papel principal, desde Kate Beckinsale a Charisma Carpenter, Sarah Michelle Gellar ou Lindsay Lohan. Sinceramente estou farto destas moçoilas insossas, bem como dos desempenhos execráveis de Halle Berry’s (“Catwoman”) ou Jennifer Garner’s (“Elektra”). Prefiro injecções de carisma, sensibilidade/sensualidade feminina e como tal a minha escolha é irreversível: Monica Bellucci.

segunda-feira, abril 10, 2006

Woody Allen de malas aviadas para Paris com…



Michelle Williams.
Esta será a nova centelha feminina na inspiração de Woody Allen, depois da companhia de Scarlett Johansson num par de projectos (“Match Point” e “Scoop”). Williams regressa desta forma ao trabalho, depois de um cameo no filme indie realizado por Ethan Hawke (“The Hottest State”) e após a nomeação ao Oscar pelo seu desempenho secundário em “Brokeback Mountain”. A única confirmação deste próximo projecto de Allen é o cenário parisiense, continuando longe da sua querida New York, após a escolha de Londres nos seus dois filmes anteriores. De referir ainda, que o próximo filme de Woody Allen a chegar às telas será “Scoop”, que contará com Scarlett Johansson e Hugh Jackman nos papéis principais.

sábado, abril 08, 2006

Top 5: Cenas Orgásmicas

5.
Meg Ryan em “When Harry Met Sally...”


Meg Ryan foi a «namoradinha da América» durante uns anos e para tal muito contribuiu um dos orgasmos mais famosos do Cinema, quando num restaurante, Sally (Meg Ryan) prova a Harry (Billy Crystal) a facilidade da simulação do zénite de prazer feminino. Quando 14 anos mais tarde Meg Ryan exibe os seios em “In The Cut”, não existe metade do fervor libidinoso do filme de Rob Reiner, ampliando o primor da execução de Ryan na cena em questão.


4.
Woody Allen em “Everything You Always Wanted to Know About Sex * But Were Afraid to Ask”


Realizei esta lista com o intuito de expor o singular requinte das minhas cenas predilectas envolvendo momentos de clímax. Woody Allen não poderia deixar de marcar a sua presença peculiar, pois de todas as situações apresentadas, ele é o único que representa literalmente “O” orgasmo, desempenhando um espermatozóide aguardando a ejaculação. A cena retrata de forma perfeita o título de autor que Allen possui, graças ao seu humor neurótico e desesperado, que debate entre outros temas, ansiedades de cariz sexual.


3.
Helena Bonham Carter em “Fight Club”


Marla Singer (Helena Bonham Carter) copula fervorosamente com Tyler Durden (Brad Pitt), alcançando pináculos de êxtase alumiados pelos seus gemidos inflamáveis. Utilizando uma técnica esmerada com subtis espirais que imprimem uma atmosfera de sonho, David Fincher escava visualmente a plataforma anímica de Jack (Edward Norton) e respectivos devaneios. É uma cena com um vigor deslumbrante, que adorna a pujança irónica da brilhante composição cinematográfica.


2.
Dennis Hopper em “Blue Velvet”

Frank Booth (Dennis Hopper) é um dos psicopatas mais sinistros da história da Sétima Arte e na cena em que viola Dorothy (Isabella Rossellini), David Lynch suga magistralmente a luminosidade do cenário no qual o sádico atinge o orgasmo inalando gás. Inicialmente, Lynch pretendia que o perverso criminoso inalasse Hélio pela máscara, mas Hopper antevendo efeitos nefastos sugeriu Nitrato de Amilo, para intensificar a experiência sexual. Lynch cristalizou em filme um autêntico pesadelo, que reflecte os ângulos obscuros da natureza humana, esquadrinhando o respectivo inconsciente.


1.
Joan Allen em “Pleasantville”


No brilhante filme de 1998, “Pleasantville” (uma fábula belíssima, repleta de pormenores maravilhosos), Betty Parker (Joan Allen) apenas descobre a masturbação na casa dos 40 anos. Prepara então um banho quente, imerge nas águas revigorantes e deleita-se na sua descoberta física. Subitamente e de forma literal, a matiz preta e branca que envolve a sua personagem dissipa-se lentamente, dando lugar a uma mulher pincelada com uma gama real de cores. Gradualmente, tudo em seu redor também adquire coloração genuína e quando Allen explode num clímax de prazer que representa o seu primeiro orgasmo, uma árvore irrompe em chamas, mesmo em frente à sua janela. Trata-se de uma metáfora fabulosa culminada com labaredas de desejo.

sexta-feira, abril 07, 2006

Algo para fixar na retina



Brick” é o filme de estreia do escritor/realizador Rian Johnson e no Festival de Sundance de 2005 venceu o Prémio Especial do Júri para Visão Original. “Brick” segue um jovem (Joseph Gordon-Levitt, o Tommy da série “3rd Rock from the Sun”) que embarca numa viagem ao submundo de um círculo criminoso escolar, para desvendar o misterioso desaparecimento da sua ex-namorada.

Johnson é um confesso admirador da obra do escritor Dashiell Hammett, autor do livro que originou um dos expoentes máximos do film noir: “The Maltese Falcon”. Se existem trailers que conseguem cativar a minha atenção com a intensidade na qual um buraco negro suga tempo e espaço, “Brick” é um desses exemplos. Para ampliar a minha curiosidade, além das promissoras imagens edificadas pelo estreante Rian Johnson, existe ainda a presença de um dos meus actores secundários de eleição, Lukas Haas (“Rambling Rose”, “Witness”, “Mars Attacks!”) na pele da personagem intrigante que se apelida «The Pin».

Para acederem ao trailer, cliquem na imagem acima exposta.

quinta-feira, abril 06, 2006

Here Be Monsters!



Here Be Monsters!”, escrito e ilustrado por Alan Snow é o actual bestseller da literatura infantil no Reino Unido e será adaptado cinematograficamente pelo génio da animação Stop-Motion, Henry Selick (“The Nightmare Before Christmas”, “James and the Giant Peach). A produtora Laika Entertainment (responsável por “Corpse Bride”) venceu a árdua batalha pela aquisição dos direitos de um livro empacotado em diversas camadas de humor, que apela de forma idêntica a audiências infantis e adultas, graças à combinação dos elementos familiares da batalha de uma criança contra o mal, num mundo peculiar povoado por personagens extraordinárias. De referir ainda que este é o primeiro volume de uma trilogia intitulada “The Ratbridge Chronicles”.

quarta-feira, abril 05, 2006

Kong sobe para as prateleiras de DVD



Na sua primeira semana em prateleiras americanas, o DVD de “King Kong” vendeu 6,5 milhões de unidades (100 milhões de dólares), estabelecendo um novo recorde para o estúdio da Universal. Apesar da imagem icónica de Kong, o remake de Peter Jackson não escapou aos tempos difíceis que abrangem os blockbusters. A sua bilheteira em solo americano decepcionou analistas que prognosticavam receitas superiores aos 218 milhões de dólares obtidos. Com um orçamento de 207 milhões, o filme facturou mais uns troquitos no resto do mundo (329 milhões de dólares), totalizando a modesta quantia geral de 547 milhões.

Quão intenso será o impacto do macacão nas vendas de DVD?
Os responsáveis da Universal têm motivos para rejubilar com os resultados desta semana inicial, sendo que para tais resultados muito contribuiu a qualidade dos fenomenais extras oferecidos. Mas os tempos de pirataria não permitem grandes veleidades nas vendas de DVD. A fasquia de 20 milhões de cópias é uma missão utópica para qualquer filme, sendo que em 2004 “Shrek 2” vendeu 18.2 milhões de cópias e em 2005, “The Incredibles” chegou aos 15.6 milhões.

Independentemente da recepção do seu filme, Jackson afirmou que se encontra satisfeito com o produto final e que quando se propõe a imprimir uma ideia no celulóide, pretende edificar tudo à sua imagem, esperando que mais pessoas partilhem a sua sensibilidade. Peter… se me estás a ler (e eu sei que sim), conta com mais uma pessoa que partilha a tua visão de Kong.

terça-feira, abril 04, 2006

Momento Zen

domingo, abril 02, 2006

A minha BD predilecta



Antes de me alongar sobre uma determinada obra de veneração pessoal, gostaria de deixar bem explícito o conhecimento minguado que possuo para com a Nona Arte (Banda Desenhada). Contudo, sou humano, tenho sentimentos que crepitam no interior da minha alma e emanam por todos os poros da minha essência. Como tal e tendo a Arte o poder de nos transcender emocionalmente, existe uma Obra de Banda Desenhada que enleva a minha admiração e respeito: “Watchmen” de Alan Moore, ilustrada por Dave Gibbons.
O que me leva a dissertar um pouco sobre a Obra aclamada de forma praticamente unânime pela crítica e público como a melhor de sempre no mundo dos quadradinhos é a derradeira notícia sobre as constantes tentativas em adaptá-la ao mundo da Sétima Arte. Vários cineastas já foram nomeados para a intrincada adaptação, desde Darren Aronofsky (“Pi”, “Requiem for a Dream”) a Paul Greengrass (“Bloody Sunday”, “The Bourne Supremacy”). Agora que o projecto se deslocou da Universal para a Warner, um nome aflorou as recentes cogitações. Nada mais, nada menos, que Zack Snyder, o cineasta responsável pelo excelente remake “Dawn of the Dead” (original de George A. Romero), actualmente envolvido na adaptação de outra graphic novel: “300” de Frank Miller.

Como iniciar a exposição de sentimentos que “Watchmen” edificou em mim ao longo dos anos? Envolto numa atmosfera noir, “Watchmen” transcende as fronteiras do seu meio, resultando numa das únicas BD que merece o termo «Graphic Novel», graças à opulência do seu argumento, ao detalhe empreendido no retoque realístico das suas personagens construtivas, ao diálogo e progressão da história. Publicada originalmente em 1985 pela DC Comics, a banda desenhada tornou-se num clássico instantâneo ao retratar a realidade como se os super-heróis existissem de facto. Devido à sua fertilidade de detalhes, complexidade narrativa e actualidade temática (mesmo decorridos 20 anos), trata-se de um belo exemplo da potencialidade artística da BD.
Watchmen” é muito mais do que outro episódio de um universo alternativo. É uma ponte entre o universo dos quadradinhos e o cosmos humano, onde Alan Moore descreve cenas quotidianas que aparentam preenchimento de páginas, mas na realidade encontram-se acumuladas de significado, iluminando a vida comum de alguns, para que entendamos a tragédia que afecta milhões. “Watchmen” quebrou velhos paradigmas empregando incoerência e características falíveis nos super-heróis que são encarados pelo público com porções idênticas de respeito e receio. Moore é um dos responsáveis na transição que ocorreu nos comics, desde as suas raízes juvenis ao seu estatuto de maturidade actual. Ao aplicar uma «voz» distinta nas suas personagens, o autor explana o seu notável dom como escriba, superando uma bela quantidade de autores que se encontram fora do mundo da Banda Desenhada. Não é à toa que a revista “Time” considerou “Watchmen” um dos 100 melhores Romances do século XX.
Na ilustração, Dave Gibbons desencadeia um mecanismo de associação e repetição de imagens, num magistral uso de Caos e Fractal que derrama simbologia para ajudar a compor a magnitude do produto final. Num trabalho de ilustração que emana vibrações cinematográficas, Gibbons reproduz uma acção fluida utilizando um artifício óptico idêntico ao mecanismo cinematográfico conhecido como «Persistência de Visão»: a ilusão que é dada pelo fato de um fotograma visto pelo olho humano continuar na retina por um curto espaço de tempo após a sua visualização, encadeando os fotogramas seguintes com os anteriores. O engenho de Gibbons traduz o agente emotivo de Moore, derramando a narrativa dentro de cada painel, imbuindo propósito sem desperdiçar uma única frame.

Existem várias cenas memoráveis, das quais destaco duas situações que me arrebataram logo no primeiro contacto. Numa curta cena entre Nite Owl e Silk Spectre, as personagens são colocadas nos limites do painel enquanto assistimos ao seu diálogo através de um espelho. A outra situação reporta ao silêncio explosivo de seis páginas que reverberam num pináculo de virtuosidade. Em várias camadas narrativas, a história trabalha problemas sócio-políticos, discute o abismo metafísico entre religião e ciência e ainda expõe a ignorância da maioria da população mundial em relação a temas debatidos há décadas (filosofia, sistemas caóticos, teoria de fractais, relatividade ou componentes subatómicos).
Watchmen” é o supra-sumo das obras desta Arte Sequencial, tendo influenciado uma horda de imitadores. Após algumas leituras, ainda consigo encontrar pormenores que me escaparam, em relevantes particularidades que impulsionam a experiência de leitura e certificam o génio de Alan Moore pela justaposição. Imbuída numa estrutura complexa definida por detalhes intrincados, a obra resulta num admirável ensaio sobre os arquétipos que servem de alicerce a um meio considerado tradicionalmente como «Arte menor». “Watchmen” é uma Obra-Prima que funciona como um testemunho cabal sobre o firme estatuto do Universo BD como séria forma de Arte.
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