segunda-feira, outubro 31, 2005

Sugestão de Halloween

Como não poderia deixar de ser, a minha sugestão data de 1978: “Halloween” de John Carpenter. Trata-se de um dos filmes independentes mais influentes e bem sucedidos. É inteligente, sofisticado e apavorante. O trabalho de Carpenter funciona como um autêntico aspirador da alma, sugando o grito mais arrepiante alojado no nosso âmago. É o perfeito exemplar de filme que se entranha profundamente na nossa psique e concatena com os hediondos temores que lá habitam ocultos. Tal como diria a personagem Sam Loomis sobre Michael Myers: «I realized that, what was living behind the boy's eyes was purely and simply… EVIL”.
Feliz Halloween para todos!!

sábado, outubro 29, 2005

Carro de Harry Potter roubado

Não… não se trata de uma foto de um determinado veículo estacionado na minha garagem. Não comecem a levantar suspeitas. Este é o velhinho automóvel Ford Anglia, um modelo de 1963 utilizado num dos filmes da saga Harry Potter como um carro voador no qual o jovem mágico segue até Hogwarts. O veículo foi roubado dos estúdios de St. Agnes, no Sudeste de Inglaterra. Este peculiar meio de transporte já se encontrava em mau estado, logo a polícia deduz que não foi conduzido, mas… içado!

Cá para mim… e isto fica entre nós… o veículo ficou frustrado por não ter sido seleccionado no casting para o novo filme, o que adicionado à sova que lhe administraram no segundo filme da saga, o fez tomar a decisão de voar dali para fora. Quem visionou “The Chamber of Secrets”, sabe perfeitamente o quão sensível é esta viatura.

sexta-feira, outubro 28, 2005

The New World

Eis mais um poster fresquinho e épico, referente ao novo filme de Terrence Malick, “The New World”.
Partindo de um argumento também de sua autoria, Terrence Malick propõe-se abordar os primórdios da nação americana, revisitando um episódio lendário: a chegada dos exploradores ingleses, no século XVII e os seus primeiros confrontos com os nativos. John Smith e Pocahontas são personagens emblemáticas desse período histórico, profundamente enraízadas na memória e na mitologia dos americanos — os respectivos intérpretes são Colin Farrell e a estreante Q`Orianka Kilcher.

O filme irá estrear a 25 de Dezembro num número reduzido de salas e irá ter um lançamento alargado em Janeiro.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Poster de "Munich"

Eis o primeiro poster para “Munich”, de Steven Spielberg.
O filme irá retratar o ataque do qual resultou a morte de 11 atletas da delegação de Israel, durante os Jogos Olímpicos de Munique em 1972. O enredo será focado especialmente na caça aos terroristas palestinos, liderada pela polícia secreta israelita, comandada pelo agente do Mossad, Eric Bana (sem os tons esverdeados do incrível Hulk). O restante elenco é igualmente muito bom, do qual constam, Geoffrey Rush, Daniel Craig e até Marie-Josée Croze (do brilhante “Les Invasions Barbares”). O filme irá estrear dia 23 de Dezembro nos Estados Unidos.

As cortinas foram descerradas e uma ténue luz foi vertida sobre a opacidade que envolve este projecto. Flutua um dominador poder reflectivo pelo cartaz, adjuvado pela infernal tensão manifestada na presença simbólica da arma. O negrume cerca o espírito acabrunhado, banhado por uma luz olímpica, divina. Imponente!

quarta-feira, outubro 26, 2005

Momento Zen

terça-feira, outubro 25, 2005

Jeunet adapta "Life of Pi"

Jean-Pierre Jeunet (“Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain”) irá realizar “Life of Pi”, a adaptação cinematográfica do romance de Yann Martel.

M. Night Shyamalan havia sido incumbido para adaptar o romance, mas como deu prioridade a “Lady in the Water”, os estúdios recusaram esperar e até ponderaram Alfonso Cuarón, contudo este optou por “Children of Men”. Jeunet irá escrever o argumento com o apoio de Guillaume Laurant, o seu colaborador em “Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulin” e “Un Long Dimanche de Fiançailles” e o início das filmagens está previsto para o Verão de 2006.

A história segue a viagem de um rapaz de 16 anos, Piscine Patel, desde a Índia até ao Canadá. Após um naufrágio, o rapaz é o único sobrevivente humano, partilhando o barco salva-vidas com uma hiena, um orangotango, uma zebra magoada e um tigre de Bengala esfomeado.

domingo, outubro 23, 2005

"Last Days", de Gus Van Sant

Class:

Audiovisual Transcendental

Last Days” lida com temas abstractos e metafísicos, encerrando a Trilogia da Morte de Gus Van Sant, iniciada com “Gerry” e secundada por “Elephant”. Em “Gerry”, a morte é acidental, causada pela despreocupação. Dois amigos deambulam pelo deserto, perdem-se e nunca mais são encontrados. Em “Elephant”, a morte é apresentada como um assassínio deliberado, mas sem significado. Dois amigos elaboram um plano para matar estudantes e professores da sua escola e acabam igualmente aniquilados. Agora em “Last Days”, a morte imerge uma personagem cujo frágil ego é incapaz de se identificar com os cânones da existência.

Na sociedade contemporânea, a morte de uma personalidade famosa é alvo de uma intensa análise especializada, onde são decifrados motivos, causas, origens e disposições com uma tremenda facilidade. Van Sant foge aos alarmantes arquétipos e perpetua um longo estudo silencioso. Vários livros e documentários foram apresentados, mas nenhum atinge o artístico e sonhador “Last Days”, uma meditação existencial sobre Kurt Cobain.

A sua cadência glaciar irá ser abominada pela audiência comum. Consigo contar pelos dedos da mão, os espectadores que irão reverenciar a qualidade hipnótica e poética desta viagem fascinante à torturada psique de um indivíduo. “Last Days” apodera-se do ícone de Kurt Cobain num filme sobre solidão, desespero, alienação, depressão e futilidade. A aproximação oblíqua e elíptica de Van Sant, bem como o ritmo lento, irão desesperar um número copioso de espectadores convencionais. Mas o que significa realmente movimento? Será algo que apenas conseguimos constatar através dos saltos, das mudanças abruptas de ângulos, numa frenética edição com mais cortes que a face de Eduardo Mãos-de-Tesoura? Van Sant tem uma visão mística da vida e expõe o quotidiano de um ser humano, no qual o mais subtil acto representa uma iniciação ritual. As actividades de Blake representam de certa forma as nossas acções quotidianas, enquanto nos encaminhamos para o inexorável fim.

A manipulação do audiovisual por Van Sant é fenomenal. Os planos meticulosos, a ambígua e bela edição, o som intrincado e o imaginário religioso adornam esta Obra-Prima. A fusão de realismo com sentimentos e fantasia é distinguida pelo engenho de Van Sant no tratamento da imagem, onde é auxiliado pelo belo trabalho fotográfico de Harris Savides. O estilo visual evoca o extremismo de alguns realizadores europeus e asiáticos, incluindo o húngaro Béla Tarr (admitida fonte de inspiração para Gus Van Sant, responsável por “Sátántangó” e “Kárhozat”, por exemplo), o grego Theo Angelopoulos e o asiático Hou Hsiao-hsien. O filme também evoca “Dead Man” de Jim Jarmusch, cujo enigmático herói se chamava William Blake.

A música derrama raiva, desespero, sofrimento e sede de morte. A enraivecida primeira música, “That Day”, acompanha um ténue movimento de câmara e reflexos de folhas açoitadas pelo vento que lhe incutem uma portentosa energia subsónica. Enquanto a segunda, “Death to Birth”, guarnece um dos momentos mais plangentes do filme. Blake senta-se e expira uma poderosa e moribunda canção, descobrindo pavorosamente que nem a sua música consegue provocar um impacto na sua essência.

A iconologia religiosa encontra-se cuidadosamente dispersa, desde um simbólico baptismo inicial, ao vulto de Blake que ostenta aquela imagem propalada de Cristo, passando pela aparição de dois Mormons e uma peculiar ascensão que também evoca um marco na história do Rock: “Stairway to Heaven”, dos Led Zeppelin.

Blake vagueia numa espécie de purgatório particular. Assistimos ao crepúsculo da sua alma, enquanto a escuridão assola lentamente o seu âmago. Seres flutuam como fantasmas, entrando e saindo da sua casa, completamente ignorados por Blake. Ele evita todos, desvanecendo paulatinamente deste mundo, sugado pelo seu vórtice interior. Van Sant adopta uma clínica observação distante dos eventos, permitindo que a audiência desemaranhe individualmente o nó que ata o mistério da personalidade humana, respectivas motivações e simbologia enigmática. Que se encontrará na caixa que Blake desenterra? Drogas, balas? Qual o significado do nome Blake? Sendo uma clara alusão ao poeta William Blake do século 18, cuja esposa proferiu: «A companhia de Mr. Blake é quase nula. Ele encontra-se sempre no Paraíso».

Um dos temas que o filme aborda é o isolamento e assim como ninguém se consegue aproximar de Blake no filme, também nós o observamos de longe. Van Sant e Savides isolam Blake, filmando-o distanciadamente com mestria e permitindo cogitações individuais na audiência. Os comentários da estrela rock são vagos murmúrios e um dos poucos perceptíveis funciona como um autêntico mantra: “I lost something on my way to wherever I am today”. O enviesado sentido de interior e exterior, fomenta a concepção de um autêntico limbo.

Last Days” não expõe como nem porque morreu Cobain, mas incita a reflexão sobre como a morte poderá estar associada a uma época onde a espiritualidade almeja cinicamente multidões. A sociedade amamentou jovens que não vivem satisfeitos com a sua existência. Por múltiplos e diversos seres que os circundem, a solidão é uma condição inquebrantável. Nada consegue dissipar o espesso nevoeiro gerado pelo profundo tormento interior. São adolescentes que pelo menos uma vez na vida, ambicionam desaparecer e apesar da morte física não surgir, algo perece no âmago do indivíduo. Jovens que se prostram no leito dos seus quartos, ensopados numa brutal depressão, ansiando pelo derradeiro beijo da morte.

Last Days” captura imaculadamente a facilidade do tombo num trágico abismo de depressão, solidão, desespero e abuso de drogas, no qual malogradas almas jazem. Entretanto, o Sol ainda desponta no horizonte, a brisa ainda afaga a folhagem das árvores, os pássaros celebram uma nova alvorada chilreando e a vida continua. Gus Van Sant alcançou um sublime Nirvana.

sábado, outubro 22, 2005

Novo trailer de Narnia

Perdoem-me por continuar a deambular por Narnia, mas acabou de sair o novo trailer e tinha de partilhá-lo convosco. Andrew Adamson, as oficinas Weta e companhia, parecem estar a explanar as suas potencialidades. O conteúdo destas imagens é majestoso!! Cliquem na imagem para acederem ao trailer e escolham a opção de visioná-lo em Quicktime.
Tentarei abster-me de publicar algo mais sobre “The Chronicles of Narnia: The Lion, The Witch and The Wardrobe” até à sua estreia, mas se continuarem a brotar fotos e trailers desta qualidade…

sexta-feira, outubro 21, 2005

Mapa de Narnia



Aproxima-se a estreia do filme “The Chronicles of Narnia: The Lion, The Witch and The Wardrobe” e o site Moviefone, disponibilizou um mapa para navegarmos pelas principais áreas do universo de Narnia. Clicando nos locais indicados, são obtidas informações sobre a terra mágica e para acederem ao mapa, basta clicar aqui.
A cada nova foto publicada, o meu fascínio pelos visuais imponentes deste projecto aumenta de forma desmedida. A história base é riquíssima, os visuais anunciados são fulgurantes… qual será o resultado final? Aguardemos por 8 de Dezembro.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Top 5: Guerra

5

“Paths of Glory”, de Stanley Kubrick (1957)


4

“Schindler’s List”, de Steven Spielberg (1993)


3

“Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola (1979)


2

“The Thin Red Line”, de Terrence Malick (1998)


1

“Full Metal Jacket”, de Stanley Kubrick (1987)

quarta-feira, outubro 19, 2005

Angelina "Bond Girl" Jolie?

Após sexta-feira, Daniel Craig ter sido apresentado como o novo James Bond, substituindo o irlandês Pierce Brosnan, Angelina Jolie poderá ser a próxima «Bond girl» no filme do agente 007 chamado "Casino Royale", cuja filmagem começará em Janeiro. Os produtores de James Bond consideram Jolie, de 30 anos, a actriz ideal para interpretar o papel de Vesper Lynd, uma espiã russa e já se encontram em negociações.

terça-feira, outubro 18, 2005

Momento Zen

segunda-feira, outubro 17, 2005

O novo compositor de "King Kong"

A Universal Pictures confirmou que James Newton Howard irá compor a trilha sonora de “King Kong” de Peter Jackson, substituindo Howard Shore.

Peter Jackson efectuou a seguinte declaração: «Eu adorei imensamente as minhas colaborações com Howard Shore, cujos temas musicais foram incomensuráveis contribuições para a trilogia “The Lord of the Rings”. Durante as últimas semanas, Howard e eu constatámos que diferíamos nas aspirações criativas para a composição de “King Kong”. Em vez de perder tempo discutindo com um amigo, tentando unificar os nossos pontos de vista, decidimos amigavelmente permitir que outro compositor fosse o responsável pela trilha. Estou ansioso por trabalhar com James Newton Howard, um compositor cujo trabalho sempre me fascinou e agradeço a Howard Shore, cujo talento é apenas superado pela sua afabilidade”.

Pessoalmente adorei o trabalho de Howard Shore em “The Lord of the Rings” e aguardo ansioso o resultado do seu trabalho com Cronenberg em “A History of Violence”. Mas também apreciei a declaração da resolução de Jackson, face ao atrito entre os dois. James Newton Howard (a escolha) é um dos meus compositores preferidos e sou um profundo admirador da sua “eterna” colaboração com M. Night Shyamalan, principalmente do memorável, fenomenal e deliciosamente arrepiante “score” de "Unbreakable”. Efusivos aplausos meus, para os dois brilhantes compositores.

sábado, outubro 15, 2005

"Hauru no ugoku shiro", de Hayao Miyasaki

Class.:

“Um dos maiores ganhos da maturidade é a perda dos medos juvenis.” (Provérbio Japonês)

A animação tradicional tornou-se uma espécie em vias de extinção, agora que a Disney se juntou à Dreamworks e Fox abandonando tal estilo de animação. Um ilustre sobrevivente deste venerável género é o japonês Hayao Miyasaki, autor de inúmeras obras mágicas, tais como, “Nausicaä”, “Tenko No Shiro Rapyuta”, “Tonari No Totoro”, “Majo No Takkyûbin”, “Mononoke-Hime” e o genial “Sen To Chihiro No Kamikakushi”. A combinação de ambientes elaborados, reprimenda social, beleza lírica, sequências de voo emocionantes e humanismo enternecedor, salientam o engenho deste superior autor, que evita os estereótipos num género que os desbarata.

Sophie, uma adolescente que trabalha na loja de chapéus de sua mãe, é enfeitiçada por uma malvada bruxa que a transforma numa velhinha. Envergonhada pela sua recente aparência, ruma para as colinas onde deambula um misterioso castelo. Consta-se que tal castelo pertence a um belo e jovem feiticeiro chamado Hauru (Howl é o seu nome “ocidental”), que acarreta uma má reputação.

“Hauru no ugoku shiro” recolhe elementos de “The Wizard of Oz”, “Beauty and the Beast” e até Howl evoca uma personagem de Shakespeare: Hal, o pródigo príncipe que necessitava de um impulso para alcançar a maturidade. Este filme japonês é conto de amor, desejo e identidade. Uma parábola para a interacção da mente, coração e determinação. Ao dobrar de cada esquina, ocultam-se imprevisíveis surpresas para regalar o olhar. Tal como em “Monsters, Inc.” cada porta encerra um novo mundo, um novo encontro. É um mundo de feiticeiros, bruxas e demónios que vagueiam entre o Bem e o Mal, com vidas próprias.

O facto do filme ser uma adaptação do romance infantil britânico de Diana Wynne Jones, talvez explique as pequenas lacunas do argumento. É bem verdade que Miyasaki lhe aplica o seu cunho, mas as obras que brotam da sua própria imaginação, têm um arrebatamento bem superior. O mundo criado é belo e gracioso, mas não ganha uma ressonância manifestada em anteriores trabalhos escritos e realizados pelo Mestre. Contudo o autor consegue seduzir o espectador a decifrar os subtis motivos das personagens, consequentemente, apesar do filme ser de difícil compreensão, nunca é monótono para o cinéfilo idóneo.

Como visualmente o filme é bastante vívido, certamente também irá encantar as crianças, apesar destas nem sempre se aperceberem do que realmente se passa. Até os adultos irão remoer a massa cinzenta, tentando descortinar o rumo dos acontecimentos, enquanto muitas questões despoletam interpretações pessoais. Os desígnios e mistérios orientais de Miyasaki conduzirão muitas audiências para uma prematura frustração, pois as suas relíquias artísticas apelam às faculdades cinéfilas do espectador. A frequência na qual as aparências de Sophie variam, desencadeia múltiplas acepções: Será que o Amor lhe quebra o feitiço? Será que Howl consegue vê-la com as feições originais? Será tudo uma metáfora para o amadurecimento?

Miyasaki elabora deslumbrantes fusões do surreal com o quotidiano palpável. A sua obra está assente numa natureza povoada por espíritos, patenteados nas criaturas que se materializam das sombras, no serpentear da relva e das folhas das árvores, assim como no emprego da luz. A exponenciação do panteísmo de Miyasaki.

A técnica de animação do Mestre Miyasaki é tão impressionante como a profundidade e substância dos seus universos quiméricos. A mudança de clima, os complexos padrões de movimento, os lustrosos esquemas de cor e a notável arquitectura, extasiam deleitosamente. O seu singular sentido de espaço, tempo e peso, subsiste de forma majestosa. Quando Sophie e a bruxa sobem aquela interminável escadaria para o Palácio Real, sentimos cada passo minucioso.

As personagens estabelecem uma admirável empatia com a audiência, desde o ajudante Markl ao demónio do fogo Calcifer e passando inclusive pela Bruxa do Nada e um peculiar cãozinho. A paixão de Miyasaki pela mutação da natureza das suas personagens persiste e a inclusão de uma puramente poética é fenomenal: um espantalho mudo e benignamente possuído, cuja postura é uma alegoria ao Cristianismo, marcando sempre presença quando necessário. Nos seus filmes, não existe vilão sem admiráveis qualidades, nem heróis imaculados sem obscuros segredos e qualquer gesto pecaminoso.

Miyasaki abriga sempre uma crítica aos tempos modernos. “Mononoke-hime” era sobre o Meio Ambiente, “Sen To Chihiro No Kamikakushi” reflectia sobre uma sociedade avarenta, materialista e sobre a desconexão entre pais e filhos. “Hauru no ugoku shiro” acolhe uma mensagem anti-guerra numa utópica visão de um mundo calamitoso e funciona como uma arguta e maravilhosa parábola sobre o amadurecimento, sobre como lidar com as respectivas vantagens e desvantagens que nos torna indivíduos. O Mestre da Animação escava fundo nas suas personagens, para descobrir a humanidade e compaixão depositada nos seus corações. Hayao Miyasaki é um cartógrafo da alma, colorindo a paisagem da essência humana com pinceladas de puro encanto.


P.S. Apenas gostava de efectuar um pequeno comentário relativo às dobragens destes filmes. Compreendo que tal seja necessário para as crianças (não japonesas) poderem ter acesso ao filme, mas o Anime é produto de uma cultura específica, com ritmos próprios, exactos e genuínos. Quando sofre uma dobragem, a Obra decresce a toada, erradicando um elemento primário do inerente misticismo.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Diários de produção em DVD

Um DVD de coleccionador será lançado no dia 14 de Dezembro de 2005, simultaneamente à estreia mundial de “King Kong”. A pomposa caixa irá conter os 52 diários de produção do realizador Peter Jackson em vídeo, livros de artes conceptuais, fotos diversas, imagens para serem emolduradas e outros itens de coleccionador. Tudo embalado numa luxuosa caixa em formato cofre.

Além de ficar impressionado com o luxo da colecção, a imagem do símio que acompanha a publicidade deixa-me estupefacto. Que imponência!! Cliquem na imagem para a ampliarem.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Património da Animação em cinzas

Um incêndio destruiu segunda-feira um arquivo de valor inestimável: toda a história da companhia Aardman Animations, que criou as figuras animadas das personagens de argila Wallace & Gromit, incluindo os modelos, os projectos de sua criação, os cenários da produção do filme “Wallace & Gromit: The Curse of the Were-Rabbit” e as estatuetas dos Oscares recebidos pelas Curtas-Metragens Animadas com a dupla. O fogo ocorreu poucas horas após a companhia receber a informação que o seu filme havia estrado como o mais visto durante o fim-de-semana, nas salas de cinema dos Estados Unidos e Canadá.

Nick Park, o criador das personagens principais do filme, um inventor excêntrico (Wallace) e seu cão indomável (Gromit), disse que o terramoto no sul da Ásia o ajudou a ver sua própria perda como algo relativo: "Apesar de ser uma colecção preciosa, nostálgica e valiosa para a companhia, quando comparada com outras tragédias… não é algo assim tão grande!", afirmou Park, o animador que, em 2000, criou a Longa-Metragem, “Chicken Run”.

quarta-feira, outubro 12, 2005

Welcome to the suck

Eis o novo trailer para o próximo filme de Sam Mendes, intitulado “Jarhead”.

“Jarhead” é baseado no best-seller de 2003 da autoria do veterano Anthony Swofford, sobre as suas experiências na preparação da Operação “Desert Storm” na Arábia Saudita e nas experiências de combate no Kuwait. “Jarhead” é apresentado como um retrato obscuro, uma indagação honesta sobre episódios surreais, trágicos e absurdos.

Cliquem na imagem para acederem ao trailer.

terça-feira, outubro 11, 2005

Particularidades do DVD "Titanic: Special Edition"

Quando muitos julgavam que James Cameron já havia ganho tudo o que havia para ganhar com “Titanic” (monetariamente e não só), eis que se avizinha o lançamento do DVD “Titanic: Special Edition”, a 25 de Outubro.

Existirão três versões do DVD, a distribuir pelo globo. Os Estados Unidos, Japão e Coreia receberão uma edição de 3 discos; a Europa, Austrália e América Latina receberão duas edições: uma de 2 discos e outra de 4. A destacar nos extras temos o final alternativo de 9 minutos, apresentado pela primeira vez, na edição de 2 discos. Na edição de 3 discos, existem (por exemplo) 45 minutos de cenas eliminadas. A edição de 4 discos incluirá os extras das edições de 2 e 3 discos, mais três paródias ao filme, um olhar sobre o documentário da HBO, “The Heart of the Ocean” e uma selecção de trailers, contendo alguns jamais visionados.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Momento Zen

sábado, outubro 08, 2005

Three… Extremes



A 6 de Setembro de 2004, “Three... Extremes” chegou à Europa através do Festival de Veneza. Trata-se de um filme que junta três brilhantes realizadores asiáticos: o japonês Takashi Miike (“Ôdishon”), o chinês Fruit Chan (“Xianggang zhizao”) e o coreano Park Chan-wook (“OldBoy”).

“Three… Extremes” encontra-se dividido em três segmentos. Takashi Miike será responsável por “Box”, Fruit Chan por “Dumplings” e Park Chan-wook por “Cut”. O filme será lançado nos Estados Unidos durante o Halloween. Os portugueses que ansiarem por este filme (como eu) serão saciados a 17 de Novembro… salvo adiamentos!

Para acirrar o desejo de mentes cinéfilas equiparadas à minha, aqui fica o trailer.

sexta-feira, outubro 07, 2005

“Nochnoi Dozor”, de Timur Bekmambetov

Class:


Salada Russa

A adaptação cinematográfica do primeiro capítulo da trilogia literária fantástica de Sergei Lukyanenko, cujo conceito central assenta no princípio do Maniqueísmo (Doutrina que defende o Bem e o Mal com forças igualmente poderosas), pega em interessantes elementos de horror e fantasia e chafurda-os em diálogos insípidos, patéticas posturas heróicas e efeitos visuais delirantes, mas por vezes improfícuos.

Decorrido numa Moscovo contemporânea, "Nochnoi Dozor" revela a disputa entre as forças da Luz e das Trevas, que teve uma trégua de mil anos. Durante séculos, disfarçados, os Guardiões da Noite vigiaram os membros das Trevas (vampiros e afins), enquanto estes, vigiavam as forças da Luz durante o dia. O destino da humanidade, que depende desse delicado equilíbrio entre o Bem e o Mal, está ameaçado... Uma antiga profecia prevê que um dia surgirá o “Iluminado” para desequilibrar a balança e acabar definitivamente com a Guerra entre a Luz e as Trevas. Esse dia chegou… que lado irá ele escolher?

Tendo em conta que “Nochnoi Dozor” foi filmado com um orçamento de 4 milhões de dólares, o resultado final é visualmente esplendoroso . O menor momento CGI do filme, suplanta qualquer cena de um “Fantastic Four” inteiro. A câmara deambula de elevadas altitudes e distâncias, para níveis microscópicos. É um exemplo criativo sobre como aproveitar ao máximo a disponibilidade financeira.

O filme abrange diversos elementos inspirados em “The Matrix”. Indivíduos percorrendo cidades modernas (com óculos de Sol) e batalhando com criaturas invisíveis ao ser humano comum. Ambos os filmes procuram delinear complexos universos do irreal, partilhando paixão pelos cenários negros e sombrios. Pululam pelo filme interessantes referências cinematográficas, mas as referências pop arreliam, assemelhando-se à tese de final de curso de um desajeitado fã de Tarantino, aludindo ao Nescafé e à Playstation.


Bekmambetov decresce, quando ombreia com os maus hábitos hollywoodescos: música metal inserida a martelo e uma acção atrapalhada, repleta de cortes frenéticos executados à velocidade da luz. Limita-se a sacudir a imagem numa tentativa sofisticada, mas a audiência fica sem qualquer noção do que está a acontecer.

As personagens são interessantes, mas melindrosamente desenvolvidas. A linha que separa as figuras centrais e secundárias é demasiado fina. Konstantin Khabensky (Anton Gorodetsky) oferece uma interpretação magnífica, vagueando atormentado pelo seu passado, pela sua obrigação e pela hipocrisia latente no pacto entre os pólos do poder.

Quando Bekmambetov se preocupa com Anton, acedemos ao caótico desenvolvimento dos eventos. Sentimos de perto o que afecta Anton, a empatia forma-se e o vórtice suga-nos para aquele mundo. Até as criaturas mais bizarras possuem um potencial de ressonância vívida que poderá transcender a premissa. Fica a noção (confirmada com os leitores da obra literária de Lukyanenko) que muitos elementos primordiais do livro são olvidados. Existe muita substância por explorar, mas a mitologia não é desenvolvida, ou seja, imaginem “The Lord Of The Rings” sem explanar o poder e importância do Anel. Ainda existem dois capítulos para a redenção (“Day Watch” e “Dusk Watch”), mas esta introdução funciona como um artificioso, entediante e longo trailer.

Os efeitos especiais são criativos e belos (e algumas imagens ficarão retidas na memória), contudo não geram a perfeita simbiose com o argumento. O sentido de estilo de Bekmambetov revela enorme potencial, mas necessita ser refinado. É um estilo noir que deriva de um David Fincher ou Jean-Pierre Jeunet da era “Delicatessen”, mas sobrepõe-se à substância. O potencial místico é vasto, mas não existe profundidade alegórica. Timur Bekmambetov terá de sair da escuridão da Sombra e começar a imortalizar a sua narrativa com o pensamento focado nos seus protagonistas e nunca na fútil artificialidade pirotécnica que desvanece o enredo à medida que desponta na tela.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Isto não é um teaser poster!! Esqueçam...

quarta-feira, outubro 05, 2005

"Serenity", de Joss Whedon

Class:

“We've done the impossible, and that makes us mighty.” (Capt. Malcolm Reynolds)

“Serenity” é baseado na série de TV que teve um encerramento abrupto, “Firefly”. O realizador/argumentista Joss Whedon é o autor da respectiva série, bem como de “Buffy, the Vampire Slayer” e “Angel”. “Serenity” é uma bela aventura de ficção científica com um inesperado desenvolvimento de personagens e doses consideráveis de comentário social mordaz. Divertido, acelerado, exibindo criatividade e estilo, “Serenity” suplanta expectativas. É uma das agradáveis surpresas do ano.

“Serenity” mostra de certa forma o que aconteceria a “Star Wars” se fosse focado em Han Solo. A tripulação de Serenity aceita qualquer tarefa que seja remunerada, mesmo que não seja legal. Malcolm Reynolds (Nathan Fillion), o Capitão, encontrava-se na fracção dos vencidos da Batalha Galáctica e tudo o que lhe resta é a sua nave Serenity e a leal tripulação. Quando Malcolm acolhe dois novos passageiros, um jovem doutor, Simon Tam (Sean Maher) e a sua instável irmã River (Summer Glau), recebe mais do que aquilo que pretendia. Ambos são fugitivos da Aliança, a força que controla a Galáxia. River apreendeu algo que não deveria saber e a Aliança fará tudo para eliminar a transmissão de determinada informação.

Apesar de decorrer 500 anos no futuro, existe uma distinta sensibilidade de western. “Serenity” é um western sci-fi, graciosamente concebido com um elenco em perfeita sintonia. Joss Whedon revela uma genialidade inquestionável. O argumento é inteligente e o seu sentido de humor é igualmente apurado. Ele sabe quando e como despoletar gargalhadas, um dom que George Lucas foi perdendo ao longo da carreira. Whedon também tomou consciência que para reabastecer a sua nave não necessita de espalhafatosos efeitos especiais, mas de um enorme coração.

Joss Whedon tornou “Serenity” coeso e coerente. Ele soube aproveitar ao máximo o orçamento manifestando algumas cenas sumptuosas e injectando diálogos brilhantes para ofuscar certos efeitos especiais menos polidos. Foi criado um universo envolvente, povoado por vilões pavorosos e heróis que geram uma empatia instantânea com o público. As sequências de acção apresentam combates corpo a corpo, nostálgicos tiroteios e uns últimos 40 minutos fenomenais.

As reminiscências pop de Whedon adelgaçam um pouco o impacto do filme, a composição musical de David Newman é eficaz, mas fica longe de arrebatar e em três décadas de proliferação de filmes de ficção científica, a amarga verdade é que qualquer nova odisseia espacial reverbera com ecos. “Star Wars” e “Star Trek” foram influências indiscutíveis e a tripulação de rebeldes evoca a tripulação da Millennium Falcon de “Star Wars”, salientando os fantasmas do filme.

Mas “Serenity” possui coração, alma, divertimento, fervor, envolvência, carácter, violência, acção trepidante, personagens que não são assexuadas, humanismo e sólidas fundações de storytelling Sci-Fi. É como visionar “The Empire Strikes Back” (num grau inferior) sem nunca ter visto “A New Hope”. Ocasionalmente, a audiência aparenta andar meio perdida, mas o filme revela excelência. É uma maravilhosa aventura de ficção científica que funciona como digna homenagem aos filmes do género.

Trata-se de uma película que opera categoricamente como veículo de entretenimento perspicaz, resultando numa experiência que deverá ser assimilada numa Sala de Cinema. “Serenity” apodera-se esplendorosamente da maioria dos mecanismos de entretenimento que apenas uma Sala de Cinema pode proporcionar. Que mais se poderia pedir a uma obra que recebe o epíteto de Filme Pipoca e o transcende? Subam a bordo de “Serenity” e desfrutem, pois serão muito bem acolhidos… a não ser que sejam Reavers.

terça-feira, outubro 04, 2005

Jackman versus Bale?



Bem sei que a imagem é capciosa, mas achei que era uma bela apresentação do possível embate entre Hugh Jackman (Wolverine de “X-Men”) e Christian Bale (Batman de “Batman Begins”). Ambos estão em conversações com a Touchstone Pictures para ingressarem no filme “The Prestige”, a ser realizado por Christopher Nolan (“Memento”).

O filme será a adaptação do livro “The Prestige” de Christopher Priest e o argumento pertencerá ao irmão de Nolan, Jonathan. O romance é sobre dois feiticeiros rivais do século 19. Rupert Angier e Alfred Borden são inicialmente rivais e depois tornam-se amargos inimigos. A tentativa inicial de captura dos segredos mútuos deteriora-se num ódio obsessivo. O desenvolvimento das personagens é profundo, a ambiência rica, a escrita magnífica, a tensão palpável e a história é original apesar de evocar clássicos temas. O final é algo abrupto, mas tal sentimento advém (em parte) do prazer provocado pela leitura. Movimenta-se entre os limites do terror, fantasia e ficção científica, numa tapeçaria de magia, mistério e puzzles psicológicos.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Momento Zen

domingo, outubro 02, 2005

“The Brothers Grimm”, de Terry Gilliam

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“It's not magic, it's just shiny.” (Wilhelm Grimm)

Era uma vez… dois realizadores com interessantes semelhanças: Terry Gilliam e Orson Welles. Ambos ensaiaram e abortaram a tentativa para completar um filme de “Don Quixote” e ambos eram possuidores de visões demasiado esplendorosas para serem controladas e diminuídas por estúdios. “The Brothers Grimm” foi uma nova experiência horrível para Gilliam, subtraído no seu manancial imaginativo por produtores com a mania que são geniais editores/realizadores, e o resultado final é um filme superior a muitos detritos hollywoodescos, mas com uma lancinante ausência da enorme alma cinematográfica de Terry Gilliam.

Numa das primeiras obras do brilhante Peter Jackson, “The Frighteners”, um investigador paranormal, ganhava a vida falsificando assombrações para ganhar clientela a exorcizar casas. Apesar de Frank (Michael J. Fox) ser uma fraude, ele chega realmente a contactar com espíritos.

A premissa deste “The Brothers Grimm” é semelhante, pois os irmãos Grimm, Wilhelm (Matt Damon) e Jacob (Heath Ledger), prosperam exorcizando demónios, forjando autênticas farsas inspiradas em temores e superstições das aldeias. Elaboram um espectáculo fantasioso, recolhem a colecta e partem para uma nova povoação a intrujar.

“The Brothers Grimm” é uma experiência algo insignificante. Se o realizador que aparece nos créditos é o fabuloso Terry Gilliam, portador de “Monty Python” no seu ADN, quais as razões para o filme descambar? Infelizmente são muitas. Primeiro, temos o argumento de Ehren Kruger que aparenta ter seleccionado e cosido com teias de aranha, um bordado de sinopses. É de uma incoerência atroz. Depois existe a intervenção de uma produtora que usurpou o controlo, perfeccionismo e criatividade selvagem de Gilliam. O realizador passou um mau bocado ao concretizar este projecto e a sua estreia foi sendo adiada alguns anos. A Miramax negou-lhe o intuito de contratar Samantha Morton (“Minority Report”), exigindo uma actriz menos conhecida, despediram o director de fotografia de Gilliam, alegando que este era lento e levando o realizador a recusar trabalhar durante duas semanas. Enfim… a velha máxima do «quero, posso e mando», extorquindo a liberdade de um notável realizador.

O compasso do filme é por vezes demasiado letárgico, graças à interferência dos franceses, suspendendo a aventura. Até parece uma metáfora para a débil afinidade dos americanos relativamente aos franceses. Apesar da existência de criaturas e cenários mágicos, o encanto escasseia na ausência de inocência para contrabalançar a realidade sombria. O tédio flui à medida que “The Brothers Grimm” avança, pois não existe ritmo, nem coesão na história.

As personagens de Matt Damon de Heath Ledger passam o tempo a vexar e burlar, demorando uma eternidade a criar uma empatia. Aliás, Damon aparenta em algumas cenas ter sido alvo de uma anestesia ao queixo, pois alterna irritantemente entre uma pronúncia americana e uma pronúncia britânica que iguala o indigesto sotaque de Keanu Reeves em “Dracula” de Coppola. Das duas, uma: ou é talento para guarnecer algum gozo pessoal, ou é uma humilhação inesperada. Torço para que seja a primeira alternativa. Ledger tem uma brilhante interpretação, competente e apropriada. Peter Stormare (Cavaldi) é hilariante, Lena Headey (Angelika) desempenha uma personagem que procura uma conexão emocional com o público, mas é Monica Bellucci interpretando a Rainha do Espelho, quem arrebata novamente. É uma Diva da Sétima Arte, ela personifica o encanto. Como Rainha má, Bellucci é o equivalente de carne e osso para as vilãs dos contos infantis e até das Clássicas animações da Disney.

Adoro a obra de Terry Gilliam, repleta de cenários criativos e adornados por personagens bizarras que se movimentam simultaneamente de forma primorosa e perigosa. Desde “Brazil” a “12 Monkeys” ou de “Time Bandits” a “The Fisher King”, o seu estilo é inconfundível. Mesmo quando Gilliam é limitado nos seus intentos e funciona com um décimo da sua potencialidade, as suas imagens ficam encadeadas na memória dos cinéfilos.

O toque de Gilliam nunca está em causa e alguns momentos inspirados esvoaçam pelo filme como corvos negros e folhas outonais. Quando os irmãos Grimm penetram no reduto da Rainha, o filme explode em intriga e vívidas ambiências. A encenação é fascinante e detalhada, definida com radiantes colorações. A assinatura do cineasta fantasista é tão distinta, que nenhum estúdio a consegue suprimir completamente.

“The Brothers Grimm” é um filme com os visuais surreais de Gilliam, mas sem a sua imensa alma. A deslumbrante assinatura utópica de Gilliam é acentuada com alguns momentos de requintada malvadez e comédia negra bizarra que o definem, mas o resultado final é uma épica decepção, um filme inerte que se assemelha a uma amálgama de cenas eliminadas.
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