terça-feira, julho 31, 2007

O Eclipse


Michelangelo Antonioni
(29/09/1912 – 30/07/2007)

Lágrimas e Suspiros


(14/07/1918 – 30/07/2007)

A morte nunca efectua um Xeque-Mate definitivo em seres como Ingmar Bergman. A sua obra confere-lhe um estatuto imortal.

segunda-feira, julho 30, 2007

Momento Zen

sábado, julho 28, 2007

Der Himmel über Berlin



Na gélida e devastada Berlim do pós-guerra, Anjos velam pelas almas perdidas que desesperam em silêncio. Um desses Anjos, Damiel, assiste às desventuras terrenas, mas não pode sentir as dores e alegrias humanas. Quando se apaixona pela trapezista solitária Marion (que encontra refúgio na música de Nick Cave), Damiel apercebe-se que não escapa incólume da sua condição divina, pois nutre um desejo que não consegue consumar. Para poder tocá-la, ele deverá deixar de ser Anjo, tornando-se humano e perdendo a sua condição imortal. “As Asas do Desejo” de Wim Wenders é uma fábula existencialista. Alguns aspectos do Cinema de Wenders equiparam a obra de Jean-Pierre Melville na justaposição de motivos dos filmes de autor de Hollywood e Europeus. Se a premissa de “As Asas do Desejo” poderá reluzir dramaticidade hollywoodesca, os motivos de Wenders assentam numa meditação dos temas do núcleo da literatura alemã: oposições de matéria e espírito, tempo finito e eternidade, concreto e abstracto, Este e Oeste. A alegoria também adquire proporções políticas da época do seu lançamento, mas o filme recusa gloriosamente existir num único horizonte cultural. Trata-se de um tributo celestial à Vida, ao Amor, à Poesia e à demanda da Alma por conexão. Pleno de virtuosidade técnica, Wenders funde imagem e som de forma divinamente sensual, criando sensações de dualidade entre o corpóreo e o espiritual. A câmara de Wenders, os Anjos e nós somos voyeurs, eternos espectadores da vida. Contudo, impera uma ânsia pela ruptura das correntes do voyeurismo e respectiva invisibilidade complacente. Um desejo por entender, assimilar e sentir o que espiamos. No fundo, comunicar com o que observamos. Tombar de um universo impassível, renascendo quedados na Alma de outro ser. Com esta obra elegíaca, Wenders esquadrinha ansiedades humanas alargando perspectivas sobre as feições mundanas da vida que nos rodeia. Enquanto deveremos plantar um pé no proveito do momento presente, o outro deverá estar firmemente assente no ninho da Eternidade.

sexta-feira, julho 27, 2007

Podófilo


Serve este post como sequela do que escrevi no comentário a “Death Proof” e como espécie de complemento do post da Wasted Blues.
Durante o jantar num restaurante japonês de Los Angeles, uma fã pediu uma foto a Quentin Tarantino. Ele acedeu... desde que pudesse beijar e chupar o seu pé.

quinta-feira, julho 26, 2007

Meet me in Montauk



Um artigo publicado no Jornal de Investigação Psiquiátrica revela que na Universidade de Harvard têm realizado pesquisas com propranolol, medicamento utilizado no tratamento de amnésia, para bloquear e tentar remover completamente memórias selectivas. A droga foi testada em 19 pacientes com vários tipos de trauma, desde violação a mortes familiares. Uns foram administrados com propranolol e outros com placebos. Segundo os investigadores, os caminhos bioquímicos que servem a memória daqueles que tomaram o medicamento, foram desbastados, removendo as memórias dolorosas.
Até que ponto será isto possível? Será uma transposição de “Eternal Sunshine of the Spotless Mind” para a vida real? Assim sendo, será este mecanismo saudável? Não serão as memórias responsáveis pela edificação da nossa essência/humanidade? Por mais dilacerante que sejam as mágoas e estigmas nefastos desta vida, não será a forma como lidamos e crescemos com os mesmos que carburam a nossa Humanidade?


You can erase someone from your mind...
Getting them out of your heart is another story

quarta-feira, julho 25, 2007

Finalmente... uma data



Southland Tales”, a segunda longa-metragem de Richard Kelly (“Donnie Darko”), tem estreia agendada nos Estados Unidos para 9 de Novembro. O filme toma lugar num ambiente futurista, no limiar do descalabro social, económico e ambiental. Boxer Santaros é uma estrela de acção que sofre de amnésia e cuja vida colide com uma estrela porno detentora do seu próprio Reality Show e com um polícia que guarda a chave para uma vasta conspiração. A música original pertence a Moby e na banda sonora constam os nomes de Radiohead, The Killers, The Pixies, Muse e Black Rebel Motorcycle Club, entre outros. Resta saber se Portugal irá receber nas salas de Cinema o filme que foi completamente trucidado pela crítica, na 59ª edição do Festival de Cannes.

terça-feira, julho 24, 2007

Ora cá está ele!



Cliquem na imagem para acederem ao magnífico trailer de “The Darjeeling Limited”.

Namaste



Wes Anderson está de volta!
O poster do seu novo filme, “The Darjeeling Limited”, acaba de ser lançado e o respectivo trailer deverá sair ainda esta semana. Os detalhes sobre o mesmo ainda se encontram enevoados, mas consta que a história revolve em torno da viagem espiritual de três irmãos, após a morte de seu pai. Natalie Portman e Anjelica Huston também marcam presença no elenco e Setembro será o mês da estreia limitada por terras do Tio Sam.

segunda-feira, julho 23, 2007

"Death Proof", de Quentin Tarantino

Class.:



Ponto Morto

Death Proof” é a segunda parte do projecto “Grindhouse”, que apresentava “Planet Terror” de Robert Rodriguez na primeira parte. O projecto pretendia reviver as sessões duplas onde vigoravam os Exploitation-Movies de qualidade duvidosa, mas falhou redondamente no box-office americano, pois apesar da fanfarra de possibilidades, o público não conseguiu assimilar o conceito proposto, gerando atitudes tão caricatas como o abandono da sala no final do primeiro segmento, ignorando que iriam ser projectados dois filmes em separado. Os produtores decidiram então separar os segmentos e o filme de Quentin Tarantino foi distribuído na Europa em formato alargado. A ideia para desenvolver “Death Proof” surgiu quando Tarantino falava com um amigo sobre a aquisição de um carro. Ele desejava adquirir um Volvo, porque não queria morrer num acidente de carro, como aquele de “Pulp Fiction”. Então, no que diz respeito a segurança, seu amigo contou-lhe que poderia colocar qualquer bólide nas mãos de uma equipa de duplos, que por um punhado de dólares o transformariam à prova de morte. A expressão “Death Proof” fixou-se então em Tarantino.

Existe uma linha temática bem densa pela filmografia de Quentin Tarantino, mas “Death Proof” torna-a demasiado delgada. Não se perde o fio à respectiva meada, mas a exposição da brilhante tapeçaria que Tarantino tem para oferecer à Sétima Arte, encontra-se aqui tingida com algumas nódoas. A abordagem não é má, mas a sua execução é intermitente, caindo por vezes num precipício de forma e conteúdo. É certo que “Death Proof” é uma brincadeira com os filhos bastardos do submundo do Cinema, mas encontram-se referências em demasia ao que o próprio Tarantino já realizou, para não falar do seu cameo desnecessariamente longo. Já todos percebemos que é podófilo. Com grandes planos de pés, lambidelas e referências a massagens dos ditos cujos, já todos assimilamos a sua tara por pés. Mas esfregar continuamente o Grande Ecrã com estas situações, chega a ser tão enjoativo como o cheiro de chulé. Marcam igualmente presença as suas marcas (hamburgers Big Kahuna, por exemplo), melodias familiares em toques de telemóvel, a música "Misirlou" visível num relance da jukebox, o xerife e o filho nº 1, os Acuna Boys, as Vipers, texturas amarelas com riscas pretas e montes de diálogo mundano sobre praticamente tudo o que preenche a superfície terrestre. E é aqui que se começa a notar o fraquejar do melhor que o cineasta pode ofertar, mesmo inserido no tributo a um Cinema de fetichismo. Exceptuando breves exemplos, a maioria dos diálogos é de uma irrelevância pop atroz. As conversas tornam-se insípidas e não sustentam a relevância da penada de “Reservoir Dogs”, “Pulp Fiction” ou “Kill Bill”. Não existe um sentido de progressão apurado e as personagens femininas (descaradamente na primeira parte) são marionetas que abrem a boca para expelir frases de Tarantino. Meros chavões de moçoilas vãs, sem ponta de terreno fértil para desabrochar um palpável sentido de autenticidade.



Não existe durabilidade na profundidade que a exposição por vezes sustenta, todavia, quando se ultrapassam estes problemas de engrenagem, “Death Proof” dispara numa velocidade de ponta. Se é certo que Tarantino não se supera a si próprio, também não deixa de ser verdade que consegue capturar parte da essência dos filmes que deseja emular. Na estética central, o autor consegue cobrir um considerável raio de homenagens, desde valores de produção, caracterizações e relances temáticos. É na construção potente e explosiva da personagem central, que Kurt Russell permite Tarantino explanar toda a sua magia. Com uma cicatriz que atravessa o seu olho esquerdo, o mesmo que se encontrava tapado em “Escape from New York” de John Carpenter, Russell é absolutamente irrepreensível na sua interpretação. Com as suas Obras-Primas da década de 90, Tarantino colheu inspiração de filmes da década de 70 para apresentar vívidas, densas, apaixonantes e profundas observações. Contudo, existe uma forte diferença entre dar à audiência o que eles desejam e dar-lhes o que se deseja que eles desejem. Durante a maioria de “Death Proof”, Tarantino limita-se a copiar as inspirações, numa reciclagem banal. Os fãs inveterados e os espectadores que desconhecem os filmes que o cineasta aproveita, irão aproveitar bem melhor a viagem. Quem estiver familiarizado com os mesmos (ou parte deles), irá sentir o resfriar do ardor das reflexões pluralistas a que Tarantino nos habituou com suas homages. Mesmo assim, quando o homem entra em máxima rotação, segurem-se, pois o condutor Tarantino guia-nos pelas curvas e contracurvas de toda a sua destreza cinéfila. Quando deixa de parte as imitações corriqueiras, surgem referências com um elevado nível de perspicácia, como a cena do hospital, na qual o xerife se refere a Stuntman Mike como Frankenstein, aludindo ao filme “Death Race 2000”, no qual David Carradine desempenha um piloto (Frankenstein) que participa em corridas com o intuito de atropelar peões e somar o maior número de pontos.

Quando desponta o seu apurado sentido cool, o humor destorcido e a polpa do seu gore, entramos no verdadeiro reino Tarantinesco. A coreografia da perseguição final é exímia na criação de um sentido de antecipação e expectativa. A estocada final da personagem desempenhada por Rosario Dawson (Abernathy) é um magnífico apogeu de farra. E a banda sonora, como em qualquer filme de Tarantino, é um autêntico evento. Existe um seguimento conceptual em músicas que dispensavam perfeitamente um acompanhamento visual, mas que sob o jugo de Tarantino se tornam autênticos ícones. Se é certo que me diverti bastante (principalmente na segunda metade) com a folia de Quentin Tarantino, o meu desejo é que termine o recreio e volte depressa ao trabalho, arregaçando as mangas de cinéfilo para desconstruir géneros com a paixão que nos habituou, pegando em materiais existentes e elevando-os acima de níveis racionais. O seu engenho reside na forma como se apodera de elementos vulgares de filmes de baú, subvertendo-os em gloriosas composições. Ele domina a Arte do entretenimento com entusiasmo nostálgico e violência arrojada que o seu ângulo artístico torna vibrantemente humorística. Mas será que algum dia, Quentin Tarantino irá utilizar todo o seu enorme talento na edificação de uma obra completamente original? Ou será que “apenas” deseja ficar imortalizado como o autor das melhores homages de sempre?

domingo, julho 22, 2007

Duck, hood ornament


Convoy”, de Sam Peckinpah (1978)



Death Proof”, de Quentin Tarantino (2007)

sábado, julho 21, 2007

Alice



Com “The Last of the Mohicans”, Michael Mann defende que a luta selvagem não transforma homens em bárbaros, porque seus corações ainda fraquejam perante a chacina de inocentes. O sacrifício e a correria final pelo resgate de uma Mulher são momentos de poesia extrema, pois a força do homem não se avalia pela largura dos seus ombros, mas pelos braços que o rodeiam. A força do homem não se calcula pela potência de seus murros, mas pela delicadeza do seu toque, pela intensidade com que ama uma Mulher. A Mulher é colocada num pedestal, acima de tudo e todos, onde pertence. Um oficial que acaba de perder o Amor de uma Mulher para outro homem, ainda assim, sacrifica sua própria vida em prol da sobrevivência do homem que a Mulher do seu coração deseja. O Amor triunfa de forma pungente na paixão de Hawkeye (Daniel Day-Lewis) e Cora (Madeleine Stowe), mas reverbera de forma bem mais poética no subtil romance entre Uncas e Alice. É a sua face (e respectiva expressão) que ainda me assombra hoje em dia.

Sob a asa e o olho do Falcão

sexta-feira, julho 20, 2007

Ausência de Memória


"Paris, Texas", de Wim Wenders (1984)



"Den Brysomme mannen", de Jens Lien (2006)

quinta-feira, julho 19, 2007

Mashup #12



Cliquem na imagem.

quarta-feira, julho 18, 2007

Spike Lee vai à guerra


Spike Lee anunciou que planeia realizar um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, evidenciando o papel de soldados afro-americanos no conflito. Lee disse: «Se observarmos a história de Hollywood, os soldados negros presentes na Segunda Guerra são completamente invisíveis. Isto é o verdadeiro paradoxo: negros que lutavam pela democracia mundial, em casa eram tratados como cidadãos de segunda». Longe de se acabrunhar perante um pouco de controvérsia, o brilhante cineasta também apontou algo a Clint Eastwood: «Há semanas, conheci um veterano negro que combateu em Iwo Jima, que me confessou o quão magoado estava por não ter encontrado um único afro-americano nos dois filmes de Eastwood (“Flags of Our Fathers” e “Letters from Iwo Jima”)». Esta picardia com Clint Eastwood já teve vários episódios. A sua primeira parceria com Denzel Washington, “Mo' Better Blues”, foi uma espécie de resposta ao filme “Bird” de Eastwood, que segundo Lee estereotipa o músico negro.

O projecto ainda não tem título, mas será focado na campanha italiana. Admiro grande parte da obra de Spike Lee. Aquela que demonstra o choque da comunidade negra passiva e satisfeita diante da boa convivência com os brancos, com a nova geração, que se quer impor como cultura, além de não se conformar com a discriminação velada. Além disso, considero “25th Hour” uma das obras máximas da última década. Autêntico Filme de Altar da Sétima Arte.

terça-feira, julho 17, 2007

Será possível...



… existirem filmes que nos conquistem o coração antes do seu lançamento?

segunda-feira, julho 16, 2007

La Science des Rêves



Após rever em DVD o último filme de Michel Gondry, “La Science des Rêves”, permaneço longe, muito longe de o reprovar como a maioria. É certo que a narrativa não apresenta a coesão e o impacto emocional de uma penada do sublime Charlie Kaufman, mas encontra-se tão enraizada nos propósitos do filme que se torna impossível (para mim) criticar o cineasta. O nível intimista é tão vigorosamente perceptível, que apesar de menor, a obra torna-se indispensável na sua filmografia. Tal como em “Eternal Sunshine of the Spotless Mind”, a relação condenada serve de propósito para examinar a natureza da memória e da vida criativa. Pleno de autocrítica e adejando entre inefáveis fileiras de desenfreada imaginação, Gondry expõe a turbulência de suas entranhas criativas, dividida entre momentos de encantadora inocência e instantes de implosão neurótica que lhe afastam qualquer possibilidade de fusão emocional duradoura.

sábado, julho 14, 2007

O jogo da Morte


Fotograma de “Drowning by Numbers


Sem vacilar por um instante, assumo peremptoriamente que o autor britânico que mais me fascina é Peter Greenaway. As vibrações do seu Cinema vogam do plano físico para o metafísico, do formal para o conceptual. Imaginem uma dissertação apaixonante sobre a história da Arte ocidental, aprofundada com agentes evolutivos da Arte contemporânea. Greenaway é tudo isso e muito, muito mais. Pela sua obra reluz a presença de elementos da Arte Barroca, numa composição de cenas e planos que se assemelham a pinturas. O seu interesse por Ópera (escreveu dez libretos) mesclado com os parâmetros estéticos da pintura exponenciam a experiência audiovisual, emanando um poder sensualmente diabólico e tão complexo que requisita várias deambulações para a absorção da sua opulenta densidade. "The Cook, the Thief, His Wife, and Her Lover" representa um dos meus Filmes de Altar, mas aquele sobre o qual se debruçam estas breves linhas de texto é “Drowning by Numbers”. Reflectindo inevitavelmente o artístico, bizarro e surreal palato cinematográfico de Peter Greenaway, o filme é sobre três mulheres de gerações diferentes que, para além de partilharem o mesmo nome (Cissie Colpitts), têm também um objectivo comum: afogar seus maridos. Fotografado maravilhosamente por Sacha Vierny, que já havia colaborado com Alain Resnais e Luís Buñuel, o filme recebe ainda a composição musical do brilhante Michael Nyman, que através de mecanismos de repetições subtis lapida a progressão simétrica da película. “Drowning by Numbers” é uma comédia negra revestida com ironia, que realça a obsessão humana por jogos. Durante o seu início esotérico, a possível sensação de inutilidade desvanece quando nos apercebemos da sua consonância no todo, porque nos encontramos na presença de um filme de Greenaway e porque este representa o primeiro de muitos jogos intelectuais, numa fascinante miríade de alusões e referências.

A partir desse momento, números de 1 a 100 despontam pelo filme, sejam formatados visualmente ou através de diálogo. A enumeração é uma das mais simples e primitivas formas de narrativa. Além do correspondente sentido de progressão, este mecanismo enfatiza a temática de jogo, convocando o divertimento da audiência na resolução desta charada. Esquadrinhando uma cornucópia de matérias, o filme resulta como uma verdadeira fábula para adultos revestida sob uma dissimulada camada de inocência. Belo e igualmente grotesco, o filme desnorteia e seduz com uma complexidade pictórica que enleva toda a sua carga poética e metafórica sobre jogos sexuais e jogos de morte. Repleto de perspectivas nada convencionais, todas as suas obsessões e frustrações interligam-se com memoráveis imagens que aprofundam a atmosfera de decadência moral, subvertendo a imagem tradicional de Inglaterra, retratando-a com vulnerabilidade e oculta em sombrias aparências de território estival. Estimulando a mente com uma teia de significados, objectos e símbolos, mergulhamos no oceano de possibilidades que o imaginário da água providencia nos filmes de Greenaway. Aqui, este elemento específico funciona como instrumento de morte, se bem que o cineasta também se apreste a mencionar a ambivalência da relação Água-Morte, aludindo à percepção comum da dependência da Vida na Água, na colocação de Torres de Água no segundo plano de certas cenas. Greenaway estabelece regras e depois deixa-nos brincar com seus jogos cinemáticos. Padrões desconcertantes começam gradualmente a revelar conexões, mas quando julgamos que o enigma se encontra resolvido, surge sempre uma nova mutação na tela, levando-nos a reconsiderar a verdadeira noção de analogia. No fundo, Peter Greenaway incita cogitações sobre a suspensão do Homem hodierno entre densidade e rarefacção, simplicidade e redundância, capacidade moral e equilíbrio intelectual, sensorial e conceptual. Pela sua obra perpassa a pujança dramática do jogo de luz e sombra que enobreceu o cinema narrativo dos anos 30 e 40. Utilizando o aspecto sensorial que o espectador absorve, Greenaway brinca deliciosamente com nossos valores e emoções, pintando a angústia da finitude.

sexta-feira, julho 13, 2007

Momento Zen

quinta-feira, julho 12, 2007

Curiosidade de pacote de cereais



Para tentar insuflar o clima de tensão entre os grupos de actores rivais em “The Outsiders”, Francis Ford Coppola forneceu roteiros bem encadernados aos Soc’s, colocando-os em luxuosos quartos de hotel, enquanto os Greaser’s foram brindados com um roteiro todo amarrotado e acomodações no piso térreo.

quarta-feira, julho 11, 2007

Curtas da Pixar


Ainda não existe anúncio oficial, mas o rumor sobre um DVD compilando todas as curtas da Pixar parece ser mesmo verdadeiro. A imagem acima exposta foi encontrada na Blu-ray Disney. Ainda não existem mais detalhes, mas já me apresto a colocar uma questão: Será que a curta “Knick Knack” vem na sua versão original? É que aquando do lançamento de “Finding Nemo”, obrigaram a Pixar a reduzir o tamanho dos seios da rapariga de bikini e da sereia, minguando uma bela porção da piada originalmente concebida.

terça-feira, julho 10, 2007

Lacuna capilar


Fotograma do “Die Hard” original de McTiernan

Durante o quarto “Die Hard”, ver McClane agarrado à cauda de um avião a jacto já é o suficiente para me deixar estupefacto, mas vê-lo completamente careca é ainda pior. Porque é que Len Wiseman (realizador pobrezito) não poupou no CGI disparatado para investir na implementação de algum tufo na cabeça do protagonista? Parecia que estava a ver Butch Coolidge (“Pulp Fiction”) a correr de um lado para o outro…



P.S.: A presente ironia serve de pretexto para evitar disparar várias palavras de desagrado pelo filme realizado por Len Wiseman.

segunda-feira, julho 09, 2007

Stay with me



I am with you… look!
I'll always be with you. I promise.

sábado, julho 07, 2007

"Hot Fuzz", de Edgar Wright

Class.:



Do Amor pelo Humor

A Cultura paga-se cara e digere-se mal em Portugal. Ser cinéfilo neste pedaço de terra à beira-mar plantado é difícil, dispendioso e doloroso. Difícil, porque qualquer indivíduo que resida fora do perímetro urbano (principalmente da capital) terá de se debater com uma série de condicionantes para visionar uma obra numa sala de Cinema. Além do número de cine-teatros ser reduzido por esse país fora, nenhum deles oferece a quantidade/qualidade de obras que as salas olisiponenses facultam. Dispendioso, porque desta forma os cinéfilos enamorados têm de percorrer dezenas de quilómetros para reconfortarem a sua Alma cinéfila, ou irem ainda mais longe, recorrendo à importação de DVD’s. Doloroso, porque esses cinéfilos aprendem a engolir tudo o que lhes surge num Grande Ecrã próximo do seu domicílio. Sem oportunidade de escolha, aprendem a deambular por vários géneros, colhendo muito lixo, mas assimilando igualmente Obras Máximas de géneros diversos. Aprendem a amar a Sétima Arte em todas as suas vertentes, porque é na percepção do que é lixo que aprendemos a contemplar a pureza da Arte. Doloroso, porque ainda existe quem não entenda que a Arte é Supra-Pessoal. Porque não existe respeito. Porque quando alguém declama a sua paixão por Bergman ou Tarkovsky é imediatamente rotulado de pseudo-filosófico. Porque quando alguém demonstra sua profunda admiração por Fellini, Dreyer, Ozu ou Bresson é imediatamente apelidado de empertigado. Porque quando alguém clama aos quatro ventos que (por exemplo) o “Die Hard” original de McTiernan é uma Obra-Prima, surge sempre um clã de vaidosos por vestes intelectuais torcendo o nariz à afirmação e olhando os restantes com desdém, como se fossem papalvos e como se fosse impossível brotarem relíquias cinematográficas de diferentes géneros. Doloroso, porque estamos inseridos numa decrépita rede de distribuição que escolhe a projecção de Scary/Epic/Date Movies em detrimento de preciosidades como “Shaun of the Dead” e “Hot Fuzz”. Como foi anunciado que Wright e Pegg iriam ser novamente ignorados pelas salas nacionais, decidi recorrer à importação do DVD de “Hot Fuzz”.

Depois da perfeição compacta de “Shaun of the Dead”, a paródia vibrante e a densidade das piadas da dupla Edgar Wright (realizador e argumentista) e Simon Pegg (actor e argumentista), volta a fazer-se sentir em “Hot Fuzz”. No meio cinematográfico, gerar um rebento cujo irmão mais velho é um sucesso de culto, torna-se um parto complicado. Como gerir o alarido? Enveredar por Hollywood e ser rotulado de vendido? Ou permanecer modesto e ser ignorado pela maioria do público? Com “Hot Fuzz”, Wright e Pegg acertam no meio-termo da questão. Tal como “Shaun of the Dead”, “Hot Fuzz” é uma paródia aos filmes e à vida quotidiana. O cidadão mais preguiçoso e irresponsável pode tornar-se um herói exterminador de zombies, da mesma forma que o emprego mais banal se pode revelar o mais profícuo. A história segue Nicholas Angel, um polícia tão bom nas suas incumbências, que faz os restantes colegas passarem por imbecis. Como resultado, seus superiores resolvem livrar-se dele, enviando o melhor polícia de Londres para a vila letárgica de Sandford. Com o supervisionamento das reuniões de vizinhança invertendo a acção do frenesim citadino, Angel luta para se adaptar à nova realidade. Todavia, uma série de acidentes misteriosos invocam a sua cautela, levando Angel a ponderar sobre o conceito idílico que havia formado sobre Sandford.



Hot Fuzz” não uma paródia vulgar. É uma história lúcida em vez de um retalho de sketches brejeiros, povoada por personagens com dinâmica afectiva sob a roupagem caricatural. Cortesia da mesma equipa criativa que identificou similaridades entre zombies e frequentadores de bares, Wright e Pegg são autênticos deuses da britcom moderna – criadores da série “Spaced”. Desta feita, a sátira é personalizada para atingir os produtores de arsenais de acção hollywoodesca, visando a lei Bruckheimer, desde as respectivas carnificinas aos lampejos de relacionamentos homo-eróticos. “Hot Fuzz” é uma comédia inteligente que demostra a linha delgada que separa convenção de farsa e quando julgamos que os limites já foram todos explorados, Wright e Pegg elevam o nível absurdo entrando no reino da sublime jocosidade.

O cinema de Edgar Wright renova o género Paródia com violência, subversão, inteligência e uma bela pitada de suspense. Evitando enraizar-se profundamente na estirpe dos seus tributos, “Hot Fuzz” transcende suas influências para gerar uma distinta planta cinemática. O sentido de estilo é tão apurado que as piadas visuais até encontram paralelo no ritmo hiperactivo da montagem. A violência de Wright e Pegg não é uma visão do conceito americano de acção pelo prisma da sensibilidade britânica. A sua violência é uma janela para a vigorosa fantasia cinéfila, como se nas mais pacatas artérias britânicas encontrassem um pretexto para o glorioso desfecho de um Western. Este beliscar da imagem tradicional da Inglaterra representa o cunho do trabalho destes génios. Ao mostrar a insanidade de uma comunidade rural determinada a manter a sua imagem imaculada, “Hot Fuzz” revela-se uma parábola sobre a sociedade de costumes, encenando o choque entre uma sensibilidade antiquada e todo um universo contemporâneo que expõe suas disfuncionalidades. A despadronização contemporânea extinguiu a lógica de uniformização. “Hot Fuzz” satiriza com as percepções desvairadas deste enfraquecimento do conceito de sociedade e do novo estágio histórico do individualismo. Acima da representação de uma forma de entretenimento, o Humor é uma forma de comunicação humana que pode dissecar a própria vida e provar ser a chave para a compreensão de culturas e respectivos costumes. Na companhia do outro elemento deste triunvirato (o actor Nick Frost), Wright e Pegg demonstram saber quando parar uma piada. A equipa harmoniza piadas geniais, com chalaças absurdas, inteligentes, óbvias, oblíquas e gags que irão deliciar o espectador mais atento e conhecedor da obra anterior desta fabulosa equipa. Ao rirem de si próprios na exacta proporção com que riem dos outros, eles desbastam a textura de paródia e revelam afeição pelo género que gozam, enquanto expõem suas vertentes mais disparatadas. Eles não olham de cima para baixo o material com o qual gracejam. Wright, Pegg e Frost encaram suas inspirações de baixo para cima, compondo uma peculiar trova de Amor pelo género de Acção.

sexta-feira, julho 06, 2007

Ironia


Fotograma de “Hot Fuzz

A determinada altura em “Hot Fuzz”, surge um exemplar do DVD de “Shaun of the Dead” com o título que o filme recebeu em Espanha, “Zombies Party”. Como os portugueses não quiseram ficar abaixo do nível de parvoíce de nuestros hermanos, puxaram da cartola um título ainda mais deplorável: “Zombies Party – Uma Noite... De Morte”. Um dos pormenores que mais admiro no trabalho de Edgar Wright e Simon Pegg, prende-se com o facto de se divertirem a parodiar atitudes broncas alheias, enquanto também perdem algum tempo para gozarem consigo próprios: o preço do DVD tapa o rosto de Pegg.

Cornettos de sangue e farda policial


Cornetto de Morango - "Shaun of the Dead"



Cornetto de Nata – "Hot Fuzz"

Never taken a short cut before?


"Shaun of the Dead", de Edgar Wright



"Hot Fuzz", de Edgar Wright

quinta-feira, julho 05, 2007

Aquele sorriso


Fotograma de “Donnie Darko

Um sorriso passeia-se por momentos no rosto de Donnie, logo após soltar uma gargalhada ao destino. Inspira quietude. Desafogo. Paz de espírito. Donnie buscou por um significado no meio do caos, pela fundação da sua própria verdade quando inserido num mundo onde a mesma se encontra ausente. No fim da sua jornada existencial, tudo se encontra bem, apesar de uma lágrima em forma de turbina ser derramada pelos céus. A solidão já não faz parte da equação. Donnie aconchega-se por fim num coração repleto de Amor. O Amor, essa força motriz da interacção humana. Essa única energia capaz de rasgar tempo e espaço para transcender o caos.

quarta-feira, julho 04, 2007

Descubram as semelhanças #2


Anatomy of a Murder”, de Otto Preminger (1959)



Clockers”, de Spike Lee (1995)

terça-feira, julho 03, 2007

Que é feito disto?



Em 2001, Richard Kelly alcançava um enorme prestígio profissional com “Donnie Darko”, uma meritória obra de culto de sublime execução. No ano transacto, com a fasquia da expectativa num patamar estratosférico, Kelly lançava “Southland Tales” em Cannes e era completamente enxovalhado (one-hit wonder, clamavam alguns críticos). Desde então, esta sua segunda longa-metragem permanece estranhamente encalhada. Uns dizem que o jovem cineasta decidiu reajustar o produto final para lançar um novo cut, mas com o elenco do seu próximo “The Box” a ser anunciado, será que “Southland Tales” se perdeu para sempre?

segunda-feira, julho 02, 2007

Se jie



Se clicarem na imagem acima exposta (e aguardarem um pouco), irão aceder ao trailer do novo filme de Ang Lee: “Lust, Caution”.
Simplesmente arrepiante.
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