sábado, março 31, 2007

Freeze Frame

Enquanto revisitava o remakeDawn of the Dead” e passava pela cena do zombie-bebé, recordei o inquietante parto ministrado por David Cronenberg em “The Fly” e relembrei a minha admiração pelo potencial evidenciado por Zack Snyder, nesta sua estreia em longas-metragens. Não é uma obra imaculada, nem existe o subtexto sociológico do original de George Romero, mas evitando ratoeiras filosóficas, Snyder elabora um festim Gore-gásmico. Não existe comentário hodierno ao consumismo exacerbado, mas ancorado num engenho visual que respeita o género, espalha reflexões das versões contemporâneas do Horror. “Dawn of the Dead” não é uma reconstrução, mas uma re-imaginação polida, estimulante, imaginativa e robusta, que demonstra como comédia, horror e sátira podem conviver sem descenderem à mediocridade pipoqueira vigente nas grandes produções. Honrando suas origens e elevando significativamente a eficácia da sua premissa, esta película guia-se pelo Cinema em detrimento da Teoria, apoiada na nova vaga de proficiência técnica.

É nesta centelha de potencial Neoclássico que identifico Zack Snyder, prestes a estrear em Portugal o seu recente “300”, adaptação cinematográfica da BD de Frank Miller. Snyder, que já foi premiado em Cannes com um anúncio que realizou para a marca Jeep, começa a quebrar barreiras no ninho hollywoodesco, adquirindo um poder que muitos duvidavam vir a possuir. Se o seu remake de “Dawn of the Dead” surpreendeu meio mundo ao atingir o estatuto de Zombie-Movie com mais receitas de bilheteira de sempre, “300” deixou estupefactos os analistas de box-office com um sucesso inesperado. É isto que mais aprecio em Snyder: Atitude. Contra todas as conjecturas e contra os cognominados movie-geeks, Snyder expõe suas visões. “Dawn of the Dead” foi uma escolha surpreendente para remake, pois o original de Romero já representava uma sequela… e que sequela! Desafiando os fãs do Guru deste género, Snyder passou o teste com elevada notoriedade, junto da crítica e do público. Anos mais tarde, além de voltar a desafiar fanáticos, desta feita dos quadradinhos, o jovem cineasta desafia audiências que já começam a bocejar quando escutam a palavra Épico. O resultado deste arrojo poderá ser constatado por todos os portugueses, daqui a uma semana, na projecção de “300”. E qual o projecto que se segue? Nada mais, nada menos que a melhor Graphic Novel de sempre: “Watchmen” de Alan Moore, ilustrada por Dave Gibbons. Pegando num objecto com um culto incomensurável, Snyder volta a lançar-se às feras.

Só tenho pena que ainda exista quem não consiga distinguir as diferentes sensibilidades de cada género. É incontornável que exista sempre alguém a tentar sobreintelectualizar um filme. Não contesto opiniões desfavoráveis a filmes como “300”. Ainda bem que existem, sendo que algumas são modelarmente sustentadas. Mas nem todos os objectos cinematográficos edificados reclamam ou almejam profundidade. O Cinema também é símbolo de uma nova mentalidade de lazer e sendo o seu alcance tão vasto, não será o entretenimento igualmente uma forma de Arte, na medida em que mescla visuais e emoções para catapultar a imaginação? Isto reflecte a sua capacidade de evasão e desta forma a esfera do entretenimento não deveria diminuir o raio artístico de um objecto cinematográfico. Infelizmente, existe no sector que reclama o apelido de intelectual uma marginalização automática. De forma basilar, o Cinema está sujeito a três elementos essenciais da Comunicação: Emissor, Receptor e Meio. E afinal de contas, que meio de comunicação não é utilizado de alguma forma para o entretenimento? Se desejarmos, o Cinema oferece-nos um vasto cardápio de escapes: riso, choro, estremecimento, pensamento, arrebatamento, entretenimento. Basta procurar nos locais correctos os Mestres de Cerimónia exactos. E sendo o banquete tão extenso, não será um desperdício remetermo-nos a uma dieta de géneros, qual anorexia cinéfila? A constatação desta tentativa de cerebralização obstinada de tudo quanto é objecto fílmico remete-me para uma alegoria: O Gato e o Novelo. Quanto mais o Gato brinca e desenrola o Novelo, maior será o risco de se emaranhar e confundir no mesmo.

sexta-feira, março 30, 2007

Thinking About You



Hoje, Norah Jones completa 28 anos.
Aqui ficam uns humildes votos de parabéns e um desejo: que “My Blueberry Nights” do mestre Wong Kar-wai não tarde a chegar.

quinta-feira, março 29, 2007

"Inglorious Bastards"… Será desta?



Quentin Tarantino assegura (mais uma vez) que “Inglorious Bastards” será o seu próximo filme, revelando que irá terminar o argumento na estrada, enquanto divulga “Grindhouse”. O projecto, que vem sendo prometido por Tarantino há quase uma década, será um tributo ao filme homónimo de Enzo G. Castellari e a outros filmes do género, como “The Dirty Dozen” (Robert Aldrich). O filme irá seguir um grupo de soldados norte-americanos que tenta escapar de uma execução em plena Segunda Guerra Mundial, partindo numa ousada missão para ajudar os Aliados na luta contra os Nazis. Entretanto, surgiram mais boatos sobre o elenco, ligando novamente o nome de Stallone e conjecturando que todo o elenco principal será formado por grandes nomes da Sétima Arte. Mas por enquanto, Quentin Tarantino não avança com mais confirmações.

quarta-feira, março 28, 2007

Espreitadela

Aí está a primeira imagem de Johnny Depp na pele de Sweeney Todd, com uma madeixa à Cruella. Este será o próximo filme de Tim Burton, uma adaptação do musical de Stephen Sondheim (inspirado na peça de Christopher Bond), que conta a história do infame barbeiro (Sweeney Todd) que estabelece uma parceria sinistra com Nellie Lovett na Londres Victoriana: Todd matava os seus clientes com a lâmina de barbear, enquanto Lovett utilizava a respectiva carne para tartes. A data de estreia foi estipulada para 21 de Dezembro do presente ano.

terça-feira, março 27, 2007

Revolutionary Road



Dez anos após formarem o casal de “Titanic”, Leonardo DiCaprio e Kate Winslet voltarão a representar juntos no filme “Revolutionary Road”. A longa-metragem será realizada por Sam Mendes (“American Beauty”), casado com Kate desde 2003. Este projecto será a adaptação do romance de Richard Yates, livro que segue um casal que terá de enfrentar seus verdadeiros desejos para vencer a pressão da conformidade. Um jovem casal (DiCaprio e Winslet) com dois filhos, chega a um abastado subúrbio de New England achando-se superior aos seus vizinhos: mais modernos, ambiciosos e bem informados. Ela sonha ser actriz e ambos planeiam viver a boémia parisiense – ilusões que apenas agravam o tédio da sua existência na América dos anos 50, pois a superficialidade de auto-confiança encobre frustrações crepitantes das suas inaptidões para se sentirem realizados nos seus relacionamentos e carreiras. As filmagens serão encetadas entre Junho e Setembro.

segunda-feira, março 26, 2007

The Air is on Fire



Além do seu universo cinematográfico onírico e perturbador, David Lynch também possui uma relevante obra plástica: pinturas, esculturas, fotografias e desenhos, que estarão expostos até ao dia 27 de Maio na Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, em Paris. A Mise en Scène da exposição, intitulada The Air is on Fire, foi completamente imaginada por David Lynch. São quatro salas em dois andares, inteiramente dedicados às suas criações, com quadros, desenhos, fotografias e filmes experimentais criados a partir dos anos 60, além de produções sonoras, desenvolvidas especialmente para a exposição parisiense. Para uma espreitadela virtual, cliquem na imagem acima exposta, depois seleccionem English, seguido de What’s On, David Lynch, The Air is on Fire e Views of the Exhibition.

sábado, março 24, 2007

Fasmofobia


Cole Sear, em “The Sixth Sense



Ichabod Crane, em “Sleepy Hollow

sexta-feira, março 23, 2007

Momento Zen

quinta-feira, março 22, 2007

Dia de Tim Burton



É oficial. Dia 5 de Setembro será em honra de Burton, segundo a distinção que lhe reserva a Biennale. O realizador norte-americano irá receber um Leão de Ouro pela sua carreira, na 64ª edição do Festival de Cinema de Veneza, que ocorrerá entre 29 de Agosto e 8 de Setembro do presente ano. Na edição em 2006, o reconhecimento foi entregue ao norte-americano David Lynch e a escolha do homenageado deste ano, foi proposta pelo director artístico da mostra, Marco Müller. O Leão de Ouro será entregue no dia 5 de Setembro, durante um especial "Tim Burton Day", que incluirá uma série de eventos-surpresa. Mais uma vez, o prémio homenageia «um dos cineastas norte-americanos mais corajosos, visionários e inovadores, capaz de emocionar e fascinar os mais diversos e amplos grupos de espectadores, em equilíbrio sobre o fio que conjuga arte e indústria», segundo nota oficial da Biennale. No passado, Tim Burton já havia escolhido o Festival de Veneza para o lançamento mundial das suas obras de arte da animação: "The Nightmare Before Christmas" e "Corpse Bride".

quarta-feira, março 21, 2007

Curiosidade de pacote de cereais



A actriz inicialmente eleita para o papel de Amélie Poulain não era Audrey Tautou, mas Emily Watson. Impressionado com o seu desempenho cândido e dulcificado em “Breaking the Waves” de Lars von Trier, Jean-Pierre Jeunet pensou que ali se encontrava a escolha ideal para interpretar a personagem. Inicialmente escrito em francês, o argumento foi adaptado para a língua inglesa, onde o nome da protagonista seria Emily, como o da actriz. Todavia, na fase de produção, Emily Watson desistiu do projecto, pois não desejava ausentar-se de Inglaterra por cinco meses, tempo necessário para as gravações em Paris. O argumento voltou à versão francesa, Watson ingressou no elenco de “Gosford Park” de Robert Altman, Tautou foi a actriz eleita para o papel e a heroína teve o seu nome alterado para Amélie, inspirado pela praça Amélie des Abesses, no bairro Les Abesses, onde decorre a acção do filme e onde o realizador mora na vida real. Jeunet resolveu ainda fazer do seu título uma homenagem ao filme de Sacha Guitry, "Le Destin Fabuleux de Désireé Clary", chamando-o “Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain”.

terça-feira, março 20, 2007

Lost In Translation



Certas distribuidoras têm tentado reduzir custos na legendagem de filmes com projecção em países como a Malásia, a Índia ou a Tailândia. Todavia o resultado tem sido a criação de diálogos que não fazem qualquer sentido para as audiências locais. Os tradutores não dominam as nuances linguísticas inglesas e têm brotado chalaças do género: em vez de «Jim é um veterano do Vietnam», grafam qualquer coisa como «Jim é um veterinário do Vietnam». Mas que não caia em juízo precipitado o endeusamento de tradutores ingleses ou americanos, pois Guillermo Del Toro ficou tão irritado com as legendas inglesas de “El Espinazo del Diablo”, que decidiu trabalhar na legendagem de “El Laberinto del Fauno” por conta própria.

segunda-feira, março 19, 2007

A geometria de "The Fountain"

Passado

Triângulo
Presente nas pirâmides Maias, na forma da lâmina do punhal do Conquistador e na perspectiva do carreiro de água da Árvore da Vida.


Presente

Rectângulo
Presente nos monitores, na mesa de trabalho, na cama do hospital, nas portas, nas janelas.


Futuro

Círculo
Presente na bolha que transporta o explorador, nos corpos celestes, na deflagração do clímax.

sábado, março 17, 2007

O Expressionismo em Aronofsky


Fotograma de “Pi


Fotograma de “Requiem for a Dream


Fotograma de “The Fountain
Darren Aronofsky tempera o seu Cinema numa amálgama excepcional de perspectivas. Colhendo inspiração de amplas, diversas e distintas fontes, retenho o néctar que sorve do Expressionismo Alemão, destilando-o na sua (curta) filmografia de forma singular e perspicaz. Juntamente com Matthew Libatique (seu director de fotografia), comprime e deforma feições para ressaltar sentimentos, numa escavação temática de profundidades emocionais e psicológicas como o Amor, o medo, a solidão, o desamparo, a alienação, ou a angústia. Existe uma coerência imaculada no seu sentido imagético, que beneficia por vezes da utilização da bizarra Snorri-Cam (câmara firmada no corpo do actor), providenciando o auge da subjectividade para imergir o espectador no universo da personagem. Em “Pi” e “Requiem for a Dream”, esta técnica evidencia um arrojado Expressionismo Psicológico-Urbano, fortificando o isolamento existencial que transita nessas películas. Em “The Fountain”, Aronofsky demonstra graciosidade na manipulação de pequenos detalhes para amplificar temáticas incomensuráveis, conferindo grandes planos de olhos, lábios, dedos, poros da pele e pêlos do pescoço, enquanto sussurra «Está tudo bem». Ele invoca sentimentos em detrimento de conclusões abruptas. Transfigurando pilares de estrutura narrativa, este visionário edifica experiências sensoriais numa fluidez audiovisual que não estimula apenas os olhos e os ouvidos, mas também a Alma.

sexta-feira, março 16, 2007

Dissipar a Escuridão através da Luz


Escuridão


Luz

Tanatofobia é o medo da morte. É uma patologia que afecta de forma mórbida aqueles que receiam ver todo o apanhado de sentimentos, ambições e espólios materiais desligados num clique. Uns tentam encontrar conforto na Religião, outros na Ciência, mas no fundo, cada qual procura anestesiar os seus temores. Talvez a consciencialização da nossa mortalidade seja o passo a tomar, pois o medo obsessivo poderá consumir a alma e sugar a alegria de viver. Para a personagem de Hugh Jackman em “The Fountain” a morte é uma doença, para a qual tenta encontrar uma cura. Mas na obstinada busca pela salvação da sua amada, esquece-se de lhe prestar atenção. Quando ela lhe pede para assistirem juntos à primeira neve, ele escusa-se por causa do imenso trabalho de pesquisa que o fustiga, ignorando que aquele poderá ser um dos últimos momentos que poderão contemplar juntos. No leito da morte, certamente não iremos evidenciar arrependimento por não termos laborado mais. Iremos manifestar arrependimento por não termos desfrutado mais tempo com nossos entes queridos. Desta forma, Darren Aronofsky pincela todo o filme com um movimento da Escuridão em direcção à Luz, como no afastamento da obscuridade de um compartimento rumo ao alvor de um cenário de neve. Através de uma sublime linguagem visual, assenta inicialmente a personagem de Jackman na penumbra, para a submergir em luz na sua conclusão, oscilando entre Luz e Sombra conforme as personagens oscilam entre Esperança e Angústia. Já a personagem de Rachel Weisz é apresentada como um ser luminoso, mais espírito que matéria. Aliás, de uma determinada perspectiva, “The Fountain” também funciona como uma carta de amor de Aronofsky para Weisz, sendo esta quase sempre adornada numa luminosidade deificada que lhe usurpa qualquer evidência rugosa. Destaca-se ainda a presença omnipresente do círculo (símbolo de um ciclo eterno, infinito, perfeito): na bolha que transporta a personagem de Jackman e a Árvore da Vida, na aliança e até nas clarabóias que jorram uma luz dourada, essa cor predominante, cor do ouro que buscavam os Conquistadores, simbolizando a distracção materialista da verdadeira jornada que empreendemos. Através de uma reciclagem existencial, talvez consigamos alcançar um despertar de consciência que nos impulsione para um redimensionamento pessoal. É esta a proposta da Ficção Científica enquanto oração. Assim seja, Aronofsky.



Ele encontra-se imerso na Sombra do desespero da sua demanda. Ela encontra-se banhada pela Luz, atendendo com paz de espírito o apelo do destino.

quinta-feira, março 15, 2007

"A" Interpretação


Hugh Jackman, em “The Fountain


Klaus Kinski, em “Aguirre, der Zorn Gottes

Carisma… Entrega… Fervor… Devoção… Torna-se impossível adjectivar dignamente o sublime desempenho de Hugh Jackman em “The Fountain”. Meditando na sua paixão enquanto actor, acercamos o interessante rumo da sua carreira. Existe um trilho indubitavelmente concreto. Eternas ou efémeras, suas personagens são nobres frustrados, confrontados com sua impotência e amaldiçoados pelos seus talentos na futilidade da sua demanda. No segmento em que desempenha o Conquistador, torna-se interessante vislumbrar um brilho de obsessão no seu olhar que evoca o desempenho de Klaus Kinski em “Aguirre” de Werner Herzog. A relação de trabalho entre Kinski e Herzog foi sempre condimentada com conflitos e agressividade explícita e perto do fim das filmagens de “Aguirre”, Herzog evitou que Kinski abandonasse a rodagem, ameaçando dar-lhe um tiro. Todavia, todo este antagonismo bélico era mitigado por uma admiração recíproca. Entre Aronofsky e Jackman nunca existiu qualquer tipo de contenda durante a rodagem de “The Fountain” e a admiração mútua saiu ainda mais fortalecida. Após Brad Pitt ter abandonado o projecto, Aronofsky encontrou em Jackman o actor indicado para o papel, depois de o ter observado em “The Boy from Oz” (o primeiro musical australiano a chegar à Broadway) e ter confessado a Weisz (sua amada) que havia testemunhado o actor mais formidável que já tinha visto em toda a sua vida. Jackman por seu lado, considera Aronofsky o grande explorador cinematográfico contemporâneo. Não és o único com essa constatação, Jackman… não és o único…




quarta-feira, março 14, 2007

Mashup #9



Schwarzenegger na pele de Hamlet? Perturbador... Hilariante... Cliquem na imagem para acederem ao trailer de "Hamlet is Back".
To be or not to be. Not to be.

terça-feira, março 13, 2007

Excelente notícia



A premiada curta-metragem de animação de Regina Pessoa, “História Trágica com Final Feliz”, estreia nos cinemas nacionais no próximo dia 22, sendo exibida com o filme “Il Caimano”, de Nanni Moretti (outra excelente notícia). Em Junho, esta curta-metragem ganhou o Grande Prémio do Festival de Annecy, o mais importante certame de animação do mundo, e recebeu até agora 39 distinções como no SICAF (Coreia do Sul) e no Mecal (Barcelona), além de quatro prémios do Cinanima.

Durante 7 minutos e 46 segundos, seguimos uma menina que não é igual às outras pessoas. O traço que a difere (um coração que por bater demasiado depressa, faz muito barulho) não só incomoda a comunidade à qual pertence, como se traduz num profundo sofrimento individual. A comunidade reage à diferença com intolerância e a menina reage com o isolamento. Com o decorrer do tempo, a comunidade acaba por se habituar insensivelmente à presença da diferença, distanciando-a, mas também integrando-a na voragem do seu quotidiano. “História Trágica com Final Feliz” é a segunda curta da trilogia (sobre os medos) iniciada com “A Noite” e que vai continuar com “Kali, o Pequeno Vampiro”, o próximo projecto de Regina Pessoa.

segunda-feira, março 12, 2007

Tsai Ming-liang censurado




Tsai Ming-liang, o mestre do minimalismo absurdo, o cineasta malaio mais celebrado internacionalmente, continua a ser ignorado na sua terra natal. Após duas décadas a filmar em Taiwan, regressou à Malásia para filmar “I Don't Want To Sleep Alone” em Kuala Lumpur. Contudo, no mês transacto, Tsai recebeu uma missiva da censura malaia informando-o que sua película havia sido banida, porque retrata negativamente o país. Sua companhia recorreu imediatamente da decisão tomada e poucos dias depois o comité de censura aceitou a projecção do filme… com um par de condições: lançamento limitado e cinco cortes no produto final. Tsai continua sem perceber como uma história de amor e compaixão é observada como algo negativo e pondera seriamente em aceder às imposições do comité.

O filme, esse decorre numa Kuala Lumpur onde imigrantes chineses e indianos convivem sem partilhar o mesmo dialecto. Depois de ser agredido e roubado, Hsiao-kang, um sem-abrigo chinês é resgatado por alguns trabalhadores do Bangladesh. Um deles, Rawang, deixa-o dormir ao seu lado num velho colchão, que havia encontrado na rua. Mais tarde, quando Chyi, empregada de um pequeno restaurante, encontra Hsiao-kang, é tomada por um voluptuoso desejo. À medida que Hsiao-kang recupera totalmente, fica dividido entre Rawang e Chyi. Enquanto isso, um pesado nevoeiro cai sobre a cidade, deixando-a tão húmida quanto o suor daquela população de múltiplas etnias.

sábado, março 10, 2007

All-Star cameos


Back to the Future”, de Robert Zemeckis



Trainspotting”, de Danny Boyle



Rocky”, de John G. Avildsen



Little Miss Sunshine”, de Jonathan Dayton e Valerie Faris



Sin City”, de Robert Rodriguez e Frank Miller



Sin City”, de Robert Rodriguez e Frank Miller



I, Robot”, de Alex Proyas



Before Sunrise”, de Richard Linklater



Requiem for a Dream”, de Darren Aronofsky



A History of Violence”, de David Cronenberg



Eternal Sunshine of the Spotless Mind”, de Michel Gondry



Marie Antoinette”, de Sofia Coppola

sexta-feira, março 09, 2007

Monsieur Gondry #7



The Hardest Button to Button” é o terceiro single de Elephant, album dos prodigiosos The White Stripes. Segundo Jack White, esta é uma «... música sobre uma criança que tenta encontrar o seu espaço no seio de uma família disfuncional, quando surge um novo rebento». Michel Gondry realiza o videoclip utilizando a técnica denominada por Pixilation Animation e ainda nos presenteia com um cameo do músico e seu amigo Beck. Para acederem ao respectivo cliquem na imagem acima exposta… e para uma pequena surpresa que faz jus às palavras de Jack White, cliquem aqui.
E já agora... para quando uma vinda a Portugal de Jack e Meg White?

quinta-feira, março 08, 2007

Sucker Punch



Zack Snyder (“Dawn of the Dead”) é um cineasta repleto de ideias. Na mesma semana em que estreia “300” em terras do Tio Sam, já se encontra a limar as últimas arestas para arrancar com a produção de “Watchmen”. E logo após a conclusão da adaptação cinematográfica da Obra-Prima de Alan Moore (ilustrada por Dave Gibbons) já possui outro projecto em mente. O filme intitula-se “Sucker Punch” e segue uma rapariga que se vê internada numa instituição mental pelo seu perverso padrasto, onde será sujeita a uma lobotomia dentro de cinco dias. Durante esse período, a menina começa a imaginar uma realidade alternativa, na qual precisa de roubar cinco objectos para fugir de um homem desprezível. “Sucker Punch” será o primeiro projecto da Cruel and Unusual Films, companhia fundada pelo mesmo. Snyder definiu o novo trabalho como um «… “Alice no País das Maravilhas” com metralhadoras…», se bem que para mim, isto é um “El Laberinto del Fauno” de visita a um hospício.

quarta-feira, março 07, 2007

The Happening



A 20th Century Fox deu luz verde ao novo projecto de M. Night Shyamalan. Previamente intitulado “The Green Effect”, “The Happening” será o seu primeiro filme com a classificação “R”, atribuída pela MPAA (Motion Picture Association of America). O filme irá expor um cataclismo ambiental, envolvendo uma suposta toxina invisível que ataca as principais cidades do mundo e que, ao ser inalada, faz com que as pessoas cometam suicídio. O orçamento será de aproximadamente 57 milhões de dólares, o argumento é da autoria de Shyamalan (obviamente), as filmagens serão encetadas em Agosto e a Fox mira Junho de 2008 para a estreia do filme.

terça-feira, março 06, 2007

Momento Zen

segunda-feira, março 05, 2007

The Fountain




O Amor e a Morte
José Régio

Canção cruel

Corpo de ânsia.
Eu sonhei que te prostrava,
E te enleava
Aos meus músculos!

Olhos de êxtase,
Eu sonhei que em vós bebia
Melancolia
De há séculos!

Boca sôfrega,
Rosa brava
Eu sonhei que te esfolhava
Pétala a pétala!

Seios rígidos,
Eu sonhei que vos mordia
Até que sentia
Vómitos!

Ventre de mármore,
Eu sonhei que te sugava,
E esgotava
Como a um cálice!

Pernas de estátua,
Eu sonhei que vos abria,
Na fantasia,
Como pórticos!

Pés de sílfide,
Eu sonhei que vos queimava
Na lava
Destas mãos ávidas!

Corpo de ânsia,
Flor de volúpia sem lei!
Não te apagues, sonho! Mata-me
Como eu sonhei.



Passaram dois dias sobre o nosso encontro. Bebi de ti. Saciei-me em ti, no teu néctar cristalino. Poucos te compreenderão e serás rejeitada por outros tantos. Mas eu venero-te. Ajoelho-me aos teus pés. Para mim, representas excelência. Apelidam-te de fria. Pois para mim, emanas um calor que alimenta. Que ferve. Naquela sala escura, jamais experimentei algo tão intenso como o clímax que me proporcionaste. Que momento! Juntos ascendemos ao infinito. Por breves segundos, juro que senti minha alma em ascensão… senti-me fora do meu corpo. Juro! Quando voltei para esta jaula física, conseguia escutar o batimento frenético do meu coração. Juro! Vislumbrei lágrimas nos doces contornos da tua face e não me consegui conter… chorei na tua majestosa presença. Poderás não existir para muita gente, mas existes para mim. Vives comigo. Pulsas em mim.
Enigmático? Nada disso… Cristalinamente simples.

sábado, março 03, 2007

Andrey filma Andrey


Fotograma de “Andrey Rublyov

Andrey Rublyov” poderá ser interpretado como uma alegoria às batalhas pessoais de Andrey Tarkovsky enquanto artista. Num dos mais emblemáticos segmentos do filme, a angústia provocada pela realidade maléfica e opressora de uma Rússia medieval, leva o monge e pintor de ícones ao isolamento (através de um voto de silêncio e desistência da pintura). Até que encontra o adolescente Boriska, filho de um fabricante de sinos morto pela peste, que clama ter herdado a faculdade paterna quando se vê incumbido de engendrar um sino para um monarca, sob a ameaça de decapitação caso o objecto não badale. Boriska entrega-se com toda a paixão ao trabalho e, quando o sino ecoa, confessa, entre histeria e lágrimas, que havia mentido ao revelar que conhecia os segredos do pai. Sua obra não nascera do conhecimento, mas da fé. Nesse momento, movido pela experiência, Andrey Rublyov convida Boriska a acompanhá-lo até ao Mosteiro, onde, enquanto regressaria à pintura, seu amigo dedicar-se-ia à construção de sinos. Os dois homens abraçam-se, perto do local onde a cena da crucificação do segundo episódio foi filmada, mas neste instante a cruz é substituída pelo sino, representativo da ressurreição de Andrey. Lentamente, a imagem a preto e branco dissolve-se nos fragmentos coloridos dos frescos de Andrey Rublyov, e desta forma, directamente das cinzas, ascende uma imagem poética. É neste formato de metáfora harmoniosa que Tarkovsky subverte categorias narrativas, esculpindo estruturas misteriosas que no limite nos revelam a Arte como montagem de ideias, sentimentos e memórias incompletas. Cabe à nossa convicção, à nossa fé, fundir os fragmentos disseminados.

sexta-feira, março 02, 2007

Shi gan



Quando deambulamos pela vida fracturados emocionalmente, cada ser em nosso redor pode significar um amor perdido. Existe um arco cismático, um devaneio de sofreguidão por um desejo perene que julgamos merecer. “Time”, do sul-coreano Kim Ki-duk procura analisar essa fragilidade (física e emocional) que nos distingue enquanto humanos. Conciliando sensibilidade e um senso de humor atípico, orienta reflexões e desorienta perspectivas convencionais dos fenómenos sociais que pretende esquadrinhar. Kim Ki-duk escava na paranóia etária e expande seu interesse no histórico de mortificação do corpo feminino, retratando-o como objecto de desejo problemático em “Samaritan Girl” e “Bad Guy” sob a forma de prostituição, e em “Time” sob a epidemia da cirurgia plástica. Manipulando a linha esguia que separa ética de estética, até a falta de consistência de certas cenas dramáticas paradoxalmente acentuam o impacto das mesmas, pois o foco da lanterna temática é orientado para uma violência metafísica na busca pela identidade. Perante a caminhada do tempo, perante mutações cruéis e adversidades sofridas, destaca-se o nosso carácter efémero perante a erosão emocional que nos coíbe de seguir adiante. As personagens recorrem de forma cíclica a um bosque insular de esculturas e na forma como atentam a intensidade das obras expostas, apreendemos que a atracção do local reside no significado da Arte semeada: a constância diante da transição das estações. O ritmo elíptico do filme reforça o colapso metafórico do tempo, da humanidade, dos corpos e dos sentimentos. A identidade é minguada pelo rito sociológico mundano, por máscaras cosméticas que o ser humano busca desesperadamente para injectar vitalidade num amor moribundo, numa paixão intensa que esvaeceu ao longo do tempo, numa afeição que deixou de ser valorizada por espíritos que se comportam como um vírus quando deixa de sentir paladar e utilidade no que sorveu durante um período. “Time” é a observação amargurada de uma geração perdida, emaranhada nas teias de uma cultura orientada para uma juventude de vaidades, excessos e afastamento das virtudes imateriais e incorpóreas que poderão ascender nossas existências.

quinta-feira, março 01, 2007

Abracem esta Obra-Prima



Assinalando o dia que marca a estreia de “El Laberinto del Fauno” no circuito nacional, deixo um voto pessoal: que o público em geral e os cinéfilos em particular reconheçam finalmente Guillermo Del Toro como um dos majestosos ocupantes do trono da Fantasia e Horror contemporâneos. Del Toro emana o interesse pela crítica social configurada em linguagem artística de um Luis Buñuel, pelas ansiedades existenciais e surrealismos físicos de um David Cronenberg e pela psicologia das relações humanas de um Peter Jackson. É nesta narrativa de fuga de uma realidade amargurada através da Fantasia que ele encontra um meio libertador. E que meio! Que veículo transcendental!
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