sexta-feira, março 16, 2007

Dissipar a Escuridão através da Luz


Escuridão


Luz

Tanatofobia é o medo da morte. É uma patologia que afecta de forma mórbida aqueles que receiam ver todo o apanhado de sentimentos, ambições e espólios materiais desligados num clique. Uns tentam encontrar conforto na Religião, outros na Ciência, mas no fundo, cada qual procura anestesiar os seus temores. Talvez a consciencialização da nossa mortalidade seja o passo a tomar, pois o medo obsessivo poderá consumir a alma e sugar a alegria de viver. Para a personagem de Hugh Jackman em “The Fountain” a morte é uma doença, para a qual tenta encontrar uma cura. Mas na obstinada busca pela salvação da sua amada, esquece-se de lhe prestar atenção. Quando ela lhe pede para assistirem juntos à primeira neve, ele escusa-se por causa do imenso trabalho de pesquisa que o fustiga, ignorando que aquele poderá ser um dos últimos momentos que poderão contemplar juntos. No leito da morte, certamente não iremos evidenciar arrependimento por não termos laborado mais. Iremos manifestar arrependimento por não termos desfrutado mais tempo com nossos entes queridos. Desta forma, Darren Aronofsky pincela todo o filme com um movimento da Escuridão em direcção à Luz, como no afastamento da obscuridade de um compartimento rumo ao alvor de um cenário de neve. Através de uma sublime linguagem visual, assenta inicialmente a personagem de Jackman na penumbra, para a submergir em luz na sua conclusão, oscilando entre Luz e Sombra conforme as personagens oscilam entre Esperança e Angústia. Já a personagem de Rachel Weisz é apresentada como um ser luminoso, mais espírito que matéria. Aliás, de uma determinada perspectiva, “The Fountain” também funciona como uma carta de amor de Aronofsky para Weisz, sendo esta quase sempre adornada numa luminosidade deificada que lhe usurpa qualquer evidência rugosa. Destaca-se ainda a presença omnipresente do círculo (símbolo de um ciclo eterno, infinito, perfeito): na bolha que transporta a personagem de Jackman e a Árvore da Vida, na aliança e até nas clarabóias que jorram uma luz dourada, essa cor predominante, cor do ouro que buscavam os Conquistadores, simbolizando a distracção materialista da verdadeira jornada que empreendemos. Através de uma reciclagem existencial, talvez consigamos alcançar um despertar de consciência que nos impulsione para um redimensionamento pessoal. É esta a proposta da Ficção Científica enquanto oração. Assim seja, Aronofsky.



Ele encontra-se imerso na Sombra do desespero da sua demanda. Ela encontra-se banhada pela Luz, atendendo com paz de espírito o apelo do destino.

15 Comments:

Blogger Loot said...

Fui ver ontem e é um filme sublime, adorei. Já tinha ouvido excelentes comentários em relação à banda sonora neste blog, mas só mesmo depois de visualizar esta obra é que tive a mais ligeira noção, é assombrosa.
Com muita pena minha, o filme teve problemas de som, não sei se sou apenas eu, mas quase sempre que vou ao corte inglês há problemas na visualização de um filme, e uma coisa é haver problemas de som no Troia, outra completamente diferente é no The fountain. Onde o pior foi naquela cena final, um climax de luz, morte e renascimento, haver uma enorme falha no som e uma viagem algo transcendental é cortada bruscamente fazendo-me retornar a esta realidade de uma forma demasiado radical.
Enfim, tentar ir ver outra vez, mas em Lisboa só está no El Corte Inglês.
Abraço

9:53 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Falhas no som, durante o visionamento deste filme não é mau... é intolerável!

Abraço!

10:06 da manhã  
Blogger Tiago Costa said...

Também o revi ontem no UCI...e além de ter havido falhas de som constantes (inclusive no climax), o volume estava muito baixo, e a projecção com a imagem demasiado escura, a prejudicar severamente a experiência sensorial no luminoso final.

Lamentável.

1:04 da tarde  
Blogger Daniel Pereira said...

Também na minha projecção - no El Corte - houve problemas de som. É triste.

Só para dizer que já no Requiem for a Dream a fotografia explorava essa dicotomia luz/sombra, claro que com outros fins. O director de fotografia é o mesmo, Matthew Libatique, por sinal bem talentoso.

Mas o filme tem alguns problemas a meu ver, ainda tenho que pensar mais um pouco nele.

2:10 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Tiago: Quer dizer, além de estrear num número irrisoriamente diminuto, ainda recebe más projecções?

Que situação deplorável!

Daniel: Sem dúvida. O mesmo se passa em "Pi", aqui na manipulação do preto e branco.

Mas como contemplar toda a majestade desta obra, se a projecção é reles? Dessa forma, torna-se impossível experimentar todo o poder que "The Fountain" emana.

3:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tinhas razão Francisco, é uma experiência poderosa. Não sei classificá-lo agora, nem dizer-te já se o amei. Mas mexeu muito comigo... E acredito que com os anos só ganhará mais admiradores...

7:43 da tarde  
Blogger Loot said...

Pelos comentários devemos ter ido todos à mesma sessão. Já agora deixo a pergunta, se alguém foi ver o filme depois de quinta feira e se as falhas se mantiveram, pois gostava de repetir esta experiência, nunca se sabe quando terei oportunidade de o rever em cinema, mas não queria ir de novo com as mesmas falhas obviamente.
Tudo bem que já tinha lido o livro, mas apesar de todos os problemas, penso que a grandiosidade do filme sempre se fez notar, mas claro que a experiência poderia ter sido maior, não fosse por isso, como disse falhas de som no troia é uma coisa no the fountain citando-te são intoleráveis. Mesmo assim aguardo ansiosamente por nova oportunidade de repetir, e de certeza que concordas comigo quando digo que repetir a dose deste filme não vai custar mesmo nada.

12:17 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Helena: Bem, finalmente concordamos com algo que estreia este ano ;)

looT: É óbvio que este filme só tem a ganhar com revisionamentos. Surgem sempre novas delícias.

E ainda bem que o vi no FANTAS... aí não existiram problemas na projecção.

8:56 da manhã  
Blogger Gonçalo Trindade said...

Comprei o artbook (acho eu que é este o termo correcto...) do "The Fountain". É, basicamente, um livro com magníficas imagens inspiradas no filme.

Juntamente com este livro vem uma cópia do argumeto do filme (a versão que vimos no cinema, não a do comic... o Aronofsky escreve bastante bem, diga-se de passagem) juntamente com um pequeno texto do realizador-maravilha a falar de alguns aspectos visuais do filme.

Nesse texto, ele diz algo que tu conseguiste captar muito bem no teu texto, Francisco:

"The Fountain is about one man's journey from darkness into light. The passageway btween them, which connects shadow to truth, is the struggle. It is the playground for Tom's fight against death, and ironically, as a result, his fight against life. We tried to visualize this by capturing him screaming out of black, stumbling through gold, and ventually finding a peace in white"

Tal como disseste, é uma viagem espiritual da escuridão para a luz. Da ignorância à iluminação.

E já agora... fui ontem, sexta-feira à noite, rever o filme ao El Corte Inglês. Felizmente, não tive nenhum problema de som. Por isso recomendo-vos a irem rever o filme... talvez tenha sido apenas dessa vez.

5:07 da tarde  
Blogger Carlos Pereira said...

Poderá parecer exagerado, mas esta foi a melhor experiência cinematográfica por que já passei. É um filme absolutamente infinito, pois perpetua-se para além do seu visionamento. Será, a meu ver, o melhor do ano!

Abraço

7:30 da tarde  
Blogger João Ricardo Branco said...

Já vi o filme duas vezes depois de Quinta-Feira (e uma outra antes, na Terça, em antestreia) e posso dizer que a imagem e som foram aceitáveis, não prejudicando de forma alguma a experiência. Creio, portanto, que os problemas técnicos foram pontuais.

O filme, esse, é uma obra colossal e uma experiência cinematográfica, sensorial e emocional sem paralelo.

7:59 da tarde  
Blogger brain-mixer said...

_loot_ aquilo é mesmo falha dos "espanhóis", fui vê-lo também no UCI este sábado e foi a mesma coisa... :S

Francisco, com o número de post's sobre o filme deduzo que estás rendido(íssimo) a esta obra-prima ;)
Também eu, também eu...

9:11 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Gonçalo: Essa é uma relíquia que anda a tardar a chegar ao meu poder.

Creio que a mensagem de Aronofsky é clara e com revisionamentos surpreendemo-nos sempre mais um pouco com a simbologia que derrama. Reparaste como os brincos da Rainha se assemelham em forma, à chuva celestial que acompanha a viagem do futuro?

Sublime. Que Obra de Arte!

Carlos Pereira: Para mim não é exagerado, pois partilho da mesma opinião.

Abraço!

João Ricardo Branco: Todos os adjectivos parecem tão exíguos para qualificar este filme... :)

Edgar: Absolutamente rendido!

9:04 da manhã  
Blogger Mari said...

Aqui no Brasil (São Paulo) o filme ficou em cartaz só por uma semana, no fim do ano passado. E as salas ficaram vazias. Decepcionante. Mas pude ver o filme sem problemas técnicos. Já aluguei o DVD e revi o filme. E estou aguardando para comprá-lo assim que disponível!

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Francisco, você não usa o recurso de “tags” do blog?

Eu estou garimpando os posts relacionados com o filme, e adoraria ler o que você já escreveu sobre outros filmes de meu interesse.

Minha sugestão é a de colocar os “tags” em cada post tipo: ator, atriz, diretor, filme, etc!
Facilitaria muito a pesquisa dos seus novos leitores! :D

12:12 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Peço desculpa, mas não sou apologista de tags.

8:57 da manhã  

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