terça-feira, outubro 31, 2006

Momento Zen

Happy Halloween!

segunda-feira, outubro 30, 2006

Esperânsia



Cláudio Jordão arrecadou com a sua curta-metragem, “Esperânsia”, o 2º prémio na competição internacional do Festival de Cinema OSFAF 2006, na Macedónia. “Esperânsia” já havia sido premiado no Festival de Avanca 2006, com o galardão Competição Avanca. A produção é do próprio realizador e do Cine-Clube de Avanca e segundo os responsáveis pelo ilustre festival português, esta curta é «Um hino ao amor, onde a espera e a esperança são o mote para um filme em animação 3D, construído num único plano-sequência». Cláudio Jordão do Carmo Viegas nasceu em 1972 e é um especialista em animação 3D, trabalhando essencialmente em publicidade, como motion-designer da Foote Cone & Belding (agora DRAFT-FCB). Fundador (juntamente com Nelson Martins, Délio Mendes e Nuno Costa) da 1ª empresa de multimédia no Algarve, a Pantapoiein Criações-Multimédia, estreou no Avanca 2004, a sua primeira curta-metragem no Grande Ecrã: “Super Caricas”.
Parabéns Cláudio!

sábado, outubro 28, 2006

"Little Miss Sunshine", de Jonathan Dayton e Valerie Faris

Class.:



A funcionalidade de ritos disfuncionais
O género mais revisitado em Cinema é bem capaz de ser o drama familiar e Road Trips com personagens inicialmente desconexas não são propriamente novidade, desde o fabuloso filme de Capra, “It Happened One Night”, que até arrecadou cinco Oscars em 1935. Em “Little Miss Sunshine”, o argumentista Michael Arndt e o casal de realizadores Jonathan Dayton e Valerie Faris, projectam um pequeno raio de sol num género cerrado, concebendo um fascinante microcosmo familiar, de um grupo de almas radicalmente individualizadas: os Hoovers. Olive Hoover (Abigail Breslin) é uma menina de 7 anos de idade, com óculos enormes, dentes apartados (como a sua família), barriguinha protuberante, mas deliciosamente amável. Ela sonha vencer um concurso de beleza infantil e à última hora, torna-se aspirante ao título de Little Miss Sunshine. Contudo, esta oportunidade não poderia vir em pior altura. Seu pai, Richard (Greg Kinnear), tenta desesperadamente vender o seu programa de filosofias baratas, mas os resultados têm sido estéreis. Sua mãe, Sheryl (Toni Collette), tenta encarrilar a família. Todavia, as coisas complicam-se ainda mais quando é incorporado um novo elemento no seio da tribo: o seu tio gay Frank (Steve Carell), que vem de uma tentativa de suicídio após sofrer um desgosto amoroso. O seu irmão Dwayne (Paul Dano) encontra-se há nove meses num voto de silêncio, até ser admitido na Força Aérea e a única pessoa disposta a embarcar na viagem para o concurso é o seu avô mulherengo (Alan Arkin), treinador pessoal de Olive durante o dia e consumidor de heroína durante a noite.

A partir daqui, “Little Miss Sunshine” segue o disfuncional clã, enquanto viajam numa disfuncional carrinha desde Albuquerque até Redondo Beach, para inscreverem Olive no concurso de beleza (numa simbólica alusão à viagem do escritor francês Marcel Proust a Veneza, para se dedicar a questões de estética). Michael Arndt lavra um magnífico e alegórico argumento sobre a demanda pela materialização dos nossos sonhos, que nos faz sorrir em alturas que o choro seria a natural manifestação emocional. As fissuras familiares são calafetadas com graciosidade intelectual, ao invés de uma sanação corriqueira e melodramática.


Ao longo do seu rumo, “Little Miss Sunshine” acumula densidade e suas personagens irradiam uma complexidade que é alumiada de forma exímia por um elenco perfeito. Kinnear assimila a loquacidade enérgica da sua personagem, emana irrepreensivelmente pânico ao constatar a dissolução dos seus sonhos e contracena maravilhosamente com Collette as frustrações de um casal instável. Breslin convence-me mais com um abraço, que Dakota Fanning com os seus múltiplos gritinhos histéricos. Contracena graciosamente meiga com Dano e imprime inesperadamente profundidade num memorável diálogo com Arkin, que flutua pelo filme com uma espontaneidade que dá a impressão de improviso. Todavia, é Carell, num registo antagónico ao seu trabalho na série “The Office”, quem arrebata num salto interpretativo surpreendente e magistral, expelindo padecimentos múltiplos sob a sua apatia medicada. Inicialmente encoberto numa bruma obscura que contrasta com o branco hospitalar, Carell selecciona métodos imaginativos para marcar o progresso emocional do seu papel. Congrega depressão profunda com um simples olhar estarrecido, mas nos momentos precisos, consegue comutar o olhar para um modo irónico que reflecte o seu apurado instinto cómico.

Os Hoovers vivem aspirados por fantasias de sucesso que os entrapam em mundos isolados. Ou não fosse o nome da família sinónimo de aspirador. E a carrinha Volkswagen? Insígnia de uma era onde os sonhos fluíam, viatura algo desajustada para a presente época e transporte pouco provável de transformação. Contudo, este será o veículo que conduzirá os Hoovers por uma série de vielas psicológicas, entraves emocionais e pelas curvas e contracurvas da esperança e do desespero. Porque uma viagem de descoberta não implica perscrutar novas paisagens. Implica adquirir um renovado olhar. O filme reproduz com intelecto, uma abordagem Fenomenológico-Existencial americana, sobre a participação de rituais familiares no desenvolvimento da auto-estima. Explora ainda um determinado processo de desenraizamento cultural e os efeitos psicológicos desta ruptura, autenticando a génese de novos rumos de vida a nível laboral, afectivo e social. Os criadores e o elenco de “Little Miss Sunshine” transformam desapontamentos lúgubres em árias de comédia irrepreensível, com várias camadas intelectuais incorporadas. Quando o filme chega ao fim, o resultado é um somatório de sorrisos genuínos e nada de sorrisos amarelos.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Cahiers na Cinemateca

A história da revista Cahiers du Cinéma é digna de um filme e a partir de hoje, a Cinemateca Portuguesa irá evocá-la através de 20 filmes, numa iniciativa (conjunta com o Instituto Franco-Português) que decorre até dia 21 de Novembro. Cahiers du Cinéma é uma influente revista francesa de Cinema, fundada em 1951 por André Bazin, Jacques Doniol-Valcroze e Joseph-Marie Lo Duca. Por ela passaram os mais respeitados críticos/pensadores franceses, essenciais na criação da Nouvelle Vague, como Éric Rohmer, Jean-Luc Godard, Jacques Rivette, Claude Chabrol ou François Truffaut. Destacando-se na defesa do Cinema de Autor, a Cahiers valorizou cineastas como Fritz Lang, Alfred Hitchcock, Roberto Rosselini, Nicholas Ray, Jean Renoir, Anthony Mann, Robert Aldrich, Max Ophüls e mais recentemente, Raoul Ruiz, Hou Hsiao-hsien ou Manoel de Oliveira, entre inúmeros outros. O filme a ser exibido hoje na Cinemateca será “Varjoja Paratiisissa” de Aki Kaurismaki. Por lá, passarão igualmente relíquias de Renoir (“Le Fleuve”), Ray (“Amère victoire”), Hawks (“Hatari!”), Ophüls (“Madame de…”) e Jarmusch (“Ghost Dog: The Way of the Samurai”), entre outros. A iniciativa será inaugurada pelo actual chefe de redacção da revista, Emmanuel Burdeau.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Curiosidade de pacote de cereais



Don Juan”, filme realizado por Alan Crosland em 1926 e baseado no poema de Lord Byron é considerado o filme com mais beijos da história da Sétima Arte. Durante cerca de uma hora e cinquenta minutos, John Barrymore (Don Juan) distribui 191 beijos por várias mulheres.

terça-feira, outubro 24, 2006

Mashup #3



Martin Scorsese’s Sesame Streets.
Será preciso dizer algo mais?... Cliquem na imagem.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Freeze Frame



Quem interpreta o imperador Xerxes em “300”, o próximo filme de Zack Snyder? Nada mais, nada menos que o mesmo actor que desempenha a personagem Paulo na próxima temporada de “Lost”: o brasileiro Rodrigo Santoro. Será que a sua legião de fãs do sexo feminino irá ficar exasperada pelo seu aspecto praticamente irreconhecível?

sábado, outubro 21, 2006

Momento Zen

sexta-feira, outubro 20, 2006

Tudo em família



Helena Bonham Carter será Mrs. Lovett, a parceira sinistra da personagem de Johnny Depp no novo filme de Burton, “Sweeney Todd”. Como já mencionei há dias, esta será a adaptação do musical de Stephen Sondheim (inspirado na peça de Christopher Bond), que conta a história do infame barbeiro (Sweeney Todd) que estabelece uma parceria sinistra com Nellie Lovett na Londres Victoriana: Todd matava os seus clientes com a lâmina de barbear, enquanto Lovett utilizava a respectiva carne para tartes. Esta será a quinta colaboração de Helena com o seu amado Burton, depois de “Planet of the Apes”, “Big Fish”, “Charlie and the Chocolate Factory” e “Corpse Bride”.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Bolos, microfones e perucas



«Isto é uma comédia?», questionavam (numa mescla de ignorância e ironia) alguns dos presentes na ante-estreia de “Marie Antoinette” de Sofia Coppola. A sério? E eu que julgava ter acabado de assistir ao vídeo da nova colecção de sapatos Prada, com uma amostra bónus das recentes confecções dulcificadas de um grande Chefe Cozinheiro…
Desligando o modo irónico, convém esclarecer o riso do público. Surgir um microfone empoleirado no fotograma de um filme é algo comum (infelizmente), mas em nada retira a experiência do visionamento, tal a discrição com que alguns assomam a tela. Contudo, na projecção do filme de Coppola, a partir do diálogo entre Louis XVI (Jason Schwartzman) e Joseph (um subaproveitado Danny Huston, depois do brilhante desempenho em “The Proposition”) com um elefante em pano de fundo, os microfones emergem na tela com a exacta proporção na qual um ataque de acne se apodera da face de um jovem em plena puberdade. Escusado será relatar as gargalhadas histéricas. Confesso apenas ter chegado a temer que um dos vários tipos de microfone se emaranhasse nas perucas da pobre Dunst.

quarta-feira, outubro 18, 2006

O que é demais… é moléstia



Em 1956, o mestre Don Siegel ofertava à Sétima Arte um dos melhores filmes B de sempre: “Invasion of the Body Snatchers”. O filme mostra a insidiosa invasão de seres alienígenas na cidade de Santa Mira (California), dispostos a tudo para controlar a humanidade. Sementes vindas do espaço fazem gerar estranhas plantas que servem como hospedeiros para cópias humanas e o objectivo dos extraterrestres é criar uma sociedade onde todos são iguais e desprovidos de sentimentos como amor, desejo, ambição e fé. Depois de dois remakes, um de 1978 a cargo de Philip Kaufman que também gerou culto e outro de 1993 a cargo de Abel Ferrara que foi um autêntico fiasco, a obra de Siegel prepara-se para ser refilmada por Oliver Hirschbiegel ("Der Untergang"), sob o título “The Invasion”. Na nova versão, Nicole Kidman e Daniel Craig farão parte do elenco e desta feita a protagonista será feminina.

A obra de Siegel é um dos meus Filmes de Altar e custa imenso verificar a carência de originalidade hollywoodesca a recorrer vezes sem conta a este filme de culto. Legítimo herdeiro do expressionismo, a película chegou a marcar uma época pela alegoria da perda de autonomia pessoal sob a alçada comunista: uma das máximas temáticas dos filmes de Ficção Científica da década de 50.

terça-feira, outubro 17, 2006

Teaser trailers para...



... “Hot Fuzz”. Este é o novo filme dos criadores da relíquia “Shaun of the Dead”, Edgar Wright e Simon Pegg. A história segue Nicholas Angel, um polícia tão bom nas suas incumbências, que faz os restantes colegas passarem por imbecis. Como resultado, seus superiores resolvem livrar-se dele, enviando o melhor polícia de Londres para a letárgica vila de Sandford. Com o supervisionamento das reuniões de vizinhança invertendo a acção do frenesim citadino, Angel luta para se adaptar à nova realidade. Todavia, uma série de acidentes misteriosos invocam a sua cautela, levando Angel a ponderar sobre o conceito idílico que havia formado sobre Sandford. Será que o polícia enlouquece progressivamente na pacífica comunidade britânica? Ou existirão mesmo manifestações sinistras, que dissipam a aparente letargia local?

"Hot Fuzz" estreia em solo britânico a 16 de Fevereiro de 2007 e para acederem aos dois hilariantes teasers, cliquem aqui.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Martin "Low Budget" Scorsese



Apesar do sucesso que “The Departed” tem registado, Martin Scorsese pretende efectuar um interregno relativamente às grandes produções. Detentor, até ao momento, da única ovação do Festival de Roma (com “The Departed”), o cineasta pretende refugiar-se da azáfama hollywoodesca e concentrar-se criativamente no seu novo projecto: a adaptação do maravilhoso romance de Shusaku Endo, intitulado “Silence”. Este é o filme de baixo orçamento que já deambula pela sua mente há 15 anos e narra a história de dois missionários portugueses que viajam para o Japão imperial, acabando por testemunhar a perseguição de japoneses cristãos.

sábado, outubro 14, 2006

Momento Zen

sexta-feira, outubro 13, 2006

Burton, Depp e... Borat?

Segundo a Production Weekly, Sacha Baron Cohen (comediante que encarna Borat e Ali G) entrou em conversações para se juntar a Johnny Depp no elenco de “Sweeney Todd”, o próximo projecto de Tim Burton. Esta será a adaptação do musical de Stephen Sondheim (inspirado na peça de Christopher Bond), que conta a história do infame barbeiro (Sweeney Todd) que estabelece uma parceria sinistra com Nellie Lovett na Londres Victoriana: Todd matava os seus clientes com a lâmina de barbear, enquanto Lovett utilizava a respectiva carne para tartes. Cohen irá interpretar Adolfo Pirelli, o adversário de Todd no universo barbeiro. As filmagens serão encetadas em Novembro próximo, perto de Londres.


P.S.: É sempre bom relembrar “Delicatessen” de Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro... mesmo que seja através da comparação provocada por esta breve sinopse.

quinta-feira, outubro 12, 2006

"Zodiac" – primeiro poster

O próximo filme de David Fincher (“Se7en”, “Fight Club”) chegou a ser rebatizado de “Chronicles”, mas o lançamento do atmosférico primeiro poster, acaba de vez (?) com as dúvidas quanto ao título. “Zodiac”, irá seguir Robert Graysmith, membro do San Francisco Chronicle que tentou resolver o mistério do infame serial killer cognominado Zodiac. O assassino do Zodíaco aterrorizou San Francisco de 1966 a 1978, causando pelo menos 37 mortes e documentando alguns dos processos de tortura em cartas enviadas ao respectivo jornal. Do fabuloso elenco fazem parte Jake Gyllenhaal, Robert Downey Jr., Anthony Edwards, Mark Ruffalo e até Gary Oldman, sendo que a estreia americana está agendada para 19 de Janeiro de 2007.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Momento “What the Fuck!”



O filme tem o sugestivo zombie-movie-title de “Plane Dead”, mas o seu título poderia muito bem ser: “Zombies on a Plane”. Escuso-me a tecer qualquer consideração sobre o mesmo, à excepção do seguinte: se a moda pega na onda recente de “Snakes on a Plane”, o que se segue? “Vampires on a Plane”? “Gremlins on a Plane”? “Jaws on a Plane”? Ou pior que tudo... “Strawberries with sugar on a Plane”?

terça-feira, outubro 10, 2006

A distribuição, segundo Lynch



Com o firme intuito de explorar novos métodos de distribuição, David Lynch assegurou os direitos para a distribuição do seu recente “INLAND EMPIRE” em solo americano e canadiano. Normalmente, a auto-distribuição é um trajecto calcorreado por cineastas menos afamados, mas as recentes experiências audiovisuais de Lynch serviram de propulsor para amplas explorações do meio.
Quanto à estreia em solo português… já devem saber a resposta: não existem datas.

segunda-feira, outubro 09, 2006

À beira de um ataque de nervos



Já não bastava ser segunda-feira, como também tinha de ser agraciado com mais uma façanha das nossas distribuidoras. Não é que a minha suspeição de quarta-feira passada se concretizou? “Brick”, filme de estreia de Rian Johnson, viu a sua projecção adiada no nosso país para 16 de Novembro. Agora só faltava “Little Miss Sunshine” (“Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos”, no título português) estrear numa única e recôndita sala do El Corte Inglés lisboeta. Isso sim, anexado ao execrável título português, deixava-me à beira de um ataque de nervos.

sábado, outubro 07, 2006

"Lady in the Water", de M. Night Shyamalan

Class.:


Baptismo
Encaro uma sala de Cinema como um Santuário, um local sagrado, que poderá ser utilizado na prática do culto de imagens. Em “Lady in the Water”, M. Night Shyamalan dispersa novamente simbologia através de artefactos imagéticos, construindo uma abóbada (Cove em inglês: o nome do condomínio) e erguendo um Altar ao Ser Humano. O problema é que o Homem contemporâneo se empertiga perante mensagens humanas optimistas, ridicularizando a amenidade de cineastas e pessoas como Shyamalan. Como um gato brincando com um novelo de lã, o ser humano enrodilha-se nos torvelinhos narrativos e aparentemente, escassos são os sobreviventes idóneos na interpretação da Imagem e praticamente nulos aqueles que se benzem à entrada do Santuário, que é a sala de Cinema.

Nos instantes iniciais desta fábula sobre fábulas, Cleveland Heep (Paul Giamatti numa entrega expressiva total, reflectindo um olhar assombrado que mescla tons furtivos, acanhados, misteriosos, temerosos e observadores) é sempre apresentado de forma algo encoberta e perscrutada. Seja atrás de canos, pessoas, sebes ou da sua janela, será que Heep esconde algo (os demónios de um passado que o atormenta?), ou será apenas observado (por um voyeur divino)? Heep é o contínuo de um condomínio que representa uma peculiar prossecução da comunidade isolada de “The Village”. Preenchendo a sua rotina mundana entre lâmpadas (primeira imagem de “The Sixth Sense”) queimadas e a piscina do complexo, Heep partilha o quotidiano com personalidades díspares, tentando afogar demónios recorrentes. Até que surge Story (Bryce Dallas Howard numa apreensão perfeita da componente etérea da sua personagem). Uma Ninfa. Uma Narf. No fundo… uma criatura imaculada que enfrenta igualmente os seus próprios demónios.



O próprio acto de contar uma história é sagrado. As múltiplas camadas da estrutura narrativa de “Lady in the Water” comportam um arrepiante silêncio de morte que suprime paulatinamente as personagens. Todavia, a emersão de um Anjo expia a futilidade envolvente. Story acarreta alvura, mas o temor também a assola. O medo pode imobilizar o espírito mais inexorável e para superar a subjugação, impõe-se encará-lo directamente nos olhos, como Cleveland Heep com a besta. Mas em "Lady in the Water" não são apenas as personagens que expiam demónios. Shyamalan também procura expurgar os demónios interiores que o atormentam. A certa altura a personagem que interpreta refere sentir «… picadas e agulhas…», revelando pesarosamente «…não sou especial». Certamente existe muito crítico espalhado pelo planeta que mordiscou o lábio inferior chispando de raiva, perante a personagem do crítico de Cinema, acusando Shyamalan de arrogância, na construção da personagem que interpreta. O autor indiano torna-se presa fácil para lobos ávidos de sangue, mas como escutámos numa linha de diálogo: «… que ser arrogante julga assimilar completamente as intenções de outrem?». Uma fábula reveste-se de metáforas. Nem tudo tem um significado lato. A Ninfa serve de musa para o escritor revelando que o seu livro irá mudar o mundo. Quantos de nós não são (ou foram) mimados por Ninfas que nos fazem sentir no topo do mundo? Sendo este filme criado para seus rebentos, que seres arrogantes somos nós para condenar o desejo de Shyamalan em ser a pessoa mais importante do mundo das suas petizes? Repito: Uma fábula reveste-se de metáforas. O desfecho da personagem do crítico é uma alegoria à atitude psicológica de Shyamalan, que deseja ignorar e suprimir animicamente, comentários ordinários de pseudo-críticos que escrevem: «…watching the movie feels a bit like walking in your roommate, while he's masturbating to a picture of himself…». A certa altura o crítico chega a salvar a vida de alguém no filme, mas a atitude final do cineasta revela compreensivelmente que: quem não se sente, não é filho de boa gente.

M. Night Shyamalan é um cineasta com desígnios claros. É um autor que arrisca tudo em prol dos seus ensaios conceptuais. Apesar de sentir na pele o ódio da crítica, não se refugia na compilação de fórmulas exaustivamente lavradas e cria magia numa era de cinismo céptico. As suas imagens nascem da melancolia hodierna, de um pesar pela descrença ecuménica no poder da Imagem. Todavia, ele persiste em reavivar o estatuto divino da Imagem. Tudo gravita em torno da apreensão da verdadeira natureza existencial (“The Sixth Sense”), da auto-descoberta dos poderes que se alojam no nosso âmago (“Unbreakable”), da fé (“Signs”) e do medo de perdermos aqueles que amamos (“The Village”). Mais do que uma procissão de fé pela humanidade, “Lady in the Water” é uma oração de amor pelas suas duas filhas: atentem na existência de planos da Ninfa deparando-se com o seu reflexo, gerando no mesmo fotograma duas criaturas. E se recordarem o fabuloso teaser poster, apreciem a existência de quatro pegadas, como se Shyamalan aludisse ao estatuto de Ninfas que emprega nas suas duas filhas. Repito: que ser arrogante intenta denegrir de forma tão vil, este incomensurável amor paterno?



Em “The Village”, Lucius Hunt acaba revelando algo crucial sobre o Cinema de Shyamalan: «Há segredos em todas as esquinas desta vila. Não o sentes? Não o vês?». Seus filmes lêem-se nas entrelinhas de superfícies que aparentam simplicidade. Ele esquadrinha como poucos o elemento fantástico, desconstruindo-o como algo aparentemente incorpóreo (como a besta que se confunde com o jardim), contextualizando-o em ambiências trivialmente realísticas e revelando o inexprimível no perceptível. Shyamalan corta muito pouco, apoiando-se convictamente na proficiência do plano enquadrado com precisão e continuando com mestria o seu estudo do medo, apresentando uma cena de antologia na qual explora a profundidade de campo como força dramática. É igualmente impressionante a forma como Shyamalan nos coloca a pensar nas cores, tal é a relevância que lhes concede. Em “Lady in the Water”, a cor mais simbólica do realizador (vermelho) volta a marcar presença nos olhos da besta, pressagiando morte, como o havia feito em “The Village” (a cor proibida), em “Signs” (a carrinha da personagem de Shyamalan), em “Unbreakable” (na indumentária do psicopata que mata os pais de duas crianças) e de forma elevada ao expoente em “The Sixth Sense”: desde os muros que seguem a apresentação da personagem de Haley Joel Osment até à porta (também encarnada) da Igreja; passando pelo balão encarnado que sobe entre a espiral da escadaria encarnada; pela sua tenda peculiar; pela cor do vestido da esposa do psicólogo (Willis) aquando do jantar de aniversário; e culminando na cor da maçaneta da porta interdita à personagem de Willis.

James Newton Howard (eterno colaborador de Shyamalan) compõe novamente uma partitura arrepiante, embargando emocionalmente o ser menos sensível e a fotografia de Christopher Doyle volta a asseverar o seu magno estatuto, acrescentando qualidade mística através do seu enquadramento surreal. Ninguém apreende a qualidade da luz como Doyle e a forma como consegue escavar níveis subconscientes através de um “simples” plano é indescritível. A imagem final é a Magnum Opus, representando o plano mais arrebatador da memória recente. Ela cobriu os meus olhos com uma cortina de lágrimas, tal como a perspectiva reproduzida por Shyamalan e Doyle. Desde “Unbreakable”, a água passou a marcar um papel proeminente no Cinema de Shyamalan, utilizada como símbolo de purificação e poder sagrado. Tal como em “Unbreakable”, “Signs” e “The Village” (Ivy tem de seguir o som do riacho para se guiar no bosque) a água volta a ser crucial. O Baptismo é um ritual de imersão que, simbolicamente, representa o nascimento de um indivíduo renovado. As personagens deste filme passam alegoricamente por este processo e o espectador que conseguir ver e sentir os segredos de “Lady in the Water”, também. O filme conclui de forma assombrosamente bela, como se a água do baptismo nos toldasse a visão, enquanto a alma é transportada em ascensão.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Algo mais sobre “Watchmen”



Zack Snyder, o realizador que se encontra ocupado a embrulhar a adaptação cinematográfica de “300”, concedeu à Empire algumas palavras sobre o seu próximo projecto: a adaptação da melhor BD de sempre, “Watchmen”, a Obra-Prima criada por Alan Moore com ilustrações de Dave Gibbons. Entre algumas tiradas interessantes, como o facto do argumento de Alex Tse começar finalmente a agradar, aquela que retenho é a confirmação do amplo interesse que o projecto está a despoletar. Snyder confessou ter recebido alguns telefonemas do género «Não te esqueças que estou aqui».
Para acederem à entrevista, cliquem aqui.

quinta-feira, outubro 05, 2006

"300" – trailer oficial



Interrompo momentaneamente o belo do feriado, para vos aconselhar um verdadeiro regalo audiovisual: o trailer oficial para “300”, o filme de Zach Snyder, que nunca me farto de mencionar neste recanto. Cliquem na imagem acima exposta, escolham a opção desejada (aconselho a High Definition) e deslumbrem-se em glorioso formato quicktime.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Será mesmo verdade?



Brick”, o filme de estreia do escritor/realizador Rian Johnson que mencionei em Abril, tem data de estreia marcada para o nosso país: 12 de Outubro. “Brick” venceu o Prémio Especial do Júri de Sundance para Visão Original em 2005 e segue o embarque de um jovem pelo submundo de um círculo criminoso escolar, para desvendar o misterioso desaparecimento da sua ex-namorada. Confesso que as vibrações da ficção noir dos anos 30 invadindo uma atmosfera escolar eleva imenso as minhas expectativas.

E agora a million dollar question: Estamos a uma semana da estreia, mas… será que “Brick” irá escapar a novo adiamento?

terça-feira, outubro 03, 2006

História Trágica com Final Feliz



A curta-metragem de animação portuguesa, “História Trágica com Final Feliz” de Regina Pessoa, venceu o principal prémio do Festival Internacional de Curtas-metragens de Barcelona, Mecal Dosmilseis.
Durante sete minutos, seguimos uma menina e descobrimos que ela não é igual às outras pessoas. O traço que a difere (um coração que por bater demasiado depressa, faz muito barulho) não só incomoda a comunidade a que pertence, como se traduz num profundo sofrimento individual. A comunidade e a menina reagem à diferença, a primeira manifestando a sua intolerância, a segunda isolando-se. Com o tempo, a comunidade acaba por se habituar insensivelmente à presença da diferença, distanciando-a, mas ao mesmo tempo integrando-a na voragem do seu quotidiano.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Momento Zen

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