sábado, julho 28, 2007

Der Himmel über Berlin



Na gélida e devastada Berlim do pós-guerra, Anjos velam pelas almas perdidas que desesperam em silêncio. Um desses Anjos, Damiel, assiste às desventuras terrenas, mas não pode sentir as dores e alegrias humanas. Quando se apaixona pela trapezista solitária Marion (que encontra refúgio na música de Nick Cave), Damiel apercebe-se que não escapa incólume da sua condição divina, pois nutre um desejo que não consegue consumar. Para poder tocá-la, ele deverá deixar de ser Anjo, tornando-se humano e perdendo a sua condição imortal. “As Asas do Desejo” de Wim Wenders é uma fábula existencialista. Alguns aspectos do Cinema de Wenders equiparam a obra de Jean-Pierre Melville na justaposição de motivos dos filmes de autor de Hollywood e Europeus. Se a premissa de “As Asas do Desejo” poderá reluzir dramaticidade hollywoodesca, os motivos de Wenders assentam numa meditação dos temas do núcleo da literatura alemã: oposições de matéria e espírito, tempo finito e eternidade, concreto e abstracto, Este e Oeste. A alegoria também adquire proporções políticas da época do seu lançamento, mas o filme recusa gloriosamente existir num único horizonte cultural. Trata-se de um tributo celestial à Vida, ao Amor, à Poesia e à demanda da Alma por conexão. Pleno de virtuosidade técnica, Wenders funde imagem e som de forma divinamente sensual, criando sensações de dualidade entre o corpóreo e o espiritual. A câmara de Wenders, os Anjos e nós somos voyeurs, eternos espectadores da vida. Contudo, impera uma ânsia pela ruptura das correntes do voyeurismo e respectiva invisibilidade complacente. Um desejo por entender, assimilar e sentir o que espiamos. No fundo, comunicar com o que observamos. Tombar de um universo impassível, renascendo quedados na Alma de outro ser. Com esta obra elegíaca, Wenders esquadrinha ansiedades humanas alargando perspectivas sobre as feições mundanas da vida que nos rodeia. Enquanto deveremos plantar um pé no proveito do momento presente, o outro deverá estar firmemente assente no ninho da Eternidade.

5 Comments:

Blogger José Quintela Soares said...

Excepcional este filme.
Obrigado pela recordação.

12:18 da tarde  
Blogger sonhadora said...

Não me lembro bem deste filme :(! Tenho de o rever... é urgente!

9:30 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

José: Sempre um prazer, rever esta obra magnífica.

Sonhadora: Sabe tão bem visitá-lo!

9:36 da manhã  
Blogger Betty Coltrane said...

Não vi ainda... mas música de Nick Cave parece-me muito bem...;P

Mais um para a lista! (suspiro)

10:26 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

É algo de maravilhoso!

8:38 da manhã  

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