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“They're not fucking toys! This is Ironman, okay?” (Andy Stitzer)
“The 40 Year Old Virgin” é uma comédia sexual sobre perda, literal e figurativa. A sinopse aparenta a fundação de mais uma comédia sexual adolescente, mas ao acrescentarem mais uma geração ao herói, o filme transpõe essa premissa. Não se trata de uma simples colecção de piadas lascivas sobre “facturar” (apesar de existirem algumas), mas do retrato de um homem afável, inocente e solitário em busca de aceitação.
Andy Stitzer (Steve Carell) é um homem de 40 anos, que colecciona bonecos e lê banda desenhada, alguém sem qualquer vida social e que pedala numa bicicleta para o seu emprego numa loja electrónica. Sim, na sociedade contemporânea isto berra aos quatro ventos: TOTÓ! E quando num jogo de poker, ele confessa aos colegas a sua virgindade, estes decidem encaminhar o seu casto camarada para um cenário mais activo… que envolva mulheres e um certo e determinado desflorar.
A beleza do filme é não ser 100% estúpido. Sim, aglomera sensualidade, doçura e lascívia, mas não descamba nos retratos standard do género. Alberga personagens pelas quais ambos os sexos simpatizam quase instantaneamente, interpretadas por actores bem talentosos na arte de gerar um belo ambiente de galhofa.
Os actores secundários fornecem alguns momentos cómicos, mas este é claramente o filme de Steve Carell, um dos melhores ladrões de cenas de sempre. O hilariante pivot de Jon Stewart em “The Daily Show” protagoniza os escassos momentos cómicos de “Bruce Almighty”, rapina um belo quinhão de gargalhadas em “Anchorman” e até em “Bewitched” faz uma perninha, dando um ar da sua graça. Com “The 40 Year Old Virgin” chegou finalmente o momento de brilhar como estrela principal. Estará à altura? E de que maneira! Se a performance de Carell fosse exibida no Louvre, a própria Mona Lisa deixaria de possuir um sorriso enigmático, pois a extremidade dos seus lábios ficaria a roçar nas orelhas e ficaríamos a saber qual o estado da sua dentição, tendo em conta os seus 500 anos.
No papel de Andy Stitzer, Steve Carell dá o definitivo salto de estarola suporte para líder jocoso com perícia e graciosidade. Se Andy Stitzer fosse representado demasiado pacóvio ou ingénuo, pouco haveria para o público se relacionar. Carell ministra o perfeito equilíbrio entre um ser assustado, sensível e com uma libido efervescente. Ele injecta uma profundidade inesperada à sua personagem, porque nunca o apresenta como um falhado, ou como alguém que sente pena de si próprio.
Na primeira metade, a comédia é algo previsível, mas constatamos como Andy não sente vergonha pelos passatempos e estilo de vida escolhidos. O seu único embaraço é o facto de ser virgem, graças às pressões de uma sociedade com uma atitude de sexo sem amor. Aqui é exposta uma crítica à sociedade vigente, onde pressões sexuais surgem em qualquer local, enxovalhando e vitimando cidadãos com imaculadas fundações afectivas, que privilegiem o acto sexual como um momento emblemático de intercâmbio espiritual e amoroso.
Carell e Apatow revelam noções sólidas na arquitectura de piadas e pegam numa premissa que em mãos menos competentes teria a profundidade de uma Bolacha Maria. “The 40 Year Old Virgin” é uma comédia sexual que acasala uma verdadeira ode ao companheirismo e amor da meia-idade. O filme não actua como um virgem acanhado, nem como um adolescente pseudo-garanhão com muita parra e pouca uva. Funciona como um amante libidinoso, que perpetua de forma fervorosa o seu dom pela noite dentro, sussurrando algo inteligente sobre amor na manhã seguinte. Infelizmente assemelha-se tecnicamente a um episódio televisivo, o desfecho é bastante previsível e o seu cariz não é propriamente virgem.