"La Marche de l’ Empereur", de Luc Jacquet
Class.:
Quebrar o gelo
Após o visionamento deste filme passei a abominar a reincarnação. A vida do Homem é deveras intrincada, mas a vida do Pinguim Imperador, repleta de privação, óbices, perigos e adaptação a ambientes hostis num dos cantos mais adversos do planeta, é bastante mais espinhosa. “This sucks!”, apregoavam os «cute and cuddly» pinguins de “Madagascar” ao aportar na desoladora Antártida… e quem poderá censurar a irrepreensível citação? Aliás, existirá algum complô para ascender os pinguins a figura mais queriducha do ano de 2005?
Todos os Invernos, nos inóspitos desertos de gelo da Antártida uma épica expedição é perpetuada. Milhares de Pinguins Imperadores abandonam o seu aquático habitat azul cristalino e trepam para a superfície gelada, dando início a uma longa jornada, pautada pela irresistível necessidade de reprodução, para assegurarem a sobrevivência da espécie. Numa maviosa cerimónia monógama, ornamentada por cânticos e carícias, a magia acontece entre estes peculiares animais… mesmo sem retirarem os respectivos smokings. Mas as adversidades e provações são inúmeras, desde gélidas ventanias, temíveis predadores, ausência de nutrição durante meses e até ataques de desespero das fêmeas que perdem as crias.
É um ritual árduo e por vezes ingrato, mas acima de tudo enternecedor, ditado por imperativos instintivos que regulam a natural devoção dos pinguins pela sua procriação. Num mundo onde desafogados humanos chacinam inúmeras formas de vida, “La Marche de l’ Empereur” é uma formidável asserção da excelência da Natureza face a desafios ambientais. Enquanto sobrevivemos ao stress social quotidiano para nos refastelarmos ao fim do dia na soalheira atmosfera caseira, estes pinguins subsistem a torturas polares para consolidarem a sua reprodução.
Anteriores filmes (“Winged Migration”, “Microcosmos”) demonstraram como gloriosas imagens podem despontar numa tela de Cinema sob a forma de documentário. A paciência da intrépida equipa de Jacquet para interceptar os padrões migratórios, o acasalamento e o drama da aparição de predadores, foi colossal. Durante 14 meses, a equipa viveu (se é que podemos aplicar este termo) numa zona do planeta onde pegadas vão sendo extintas a cada nova passada. Este será um dos raros casos onde o extra “making of” da edição em DVD, poderá ter um interesse idêntico ao próprio filme. Apesar do filme evidenciar o clima impiedoso, a beleza do local não é descurada. As câmaras de Jacquet captaram inclusive a gloriosa Aurora Boreal e afinal de contas... o gelo é bem fotogénico.
13 Comments:
Tenho que o ver antes que saia de exibição. Por uma razão ou por outra tenho sempre adiado a minha ida a este filme. Depois por cá passo para dar a minha opinião.
Mesmo assim, pelo que li do que disseste Francisco, não percebo porque só dás 3 Estrelas :)
Um abraço.
Decidi focar a crítica nos aspectos positivos, pois o sacrifício da equipa do filme merece ser enaltecido. Mas existe pouca fluidez e o filme divaga demasiado, aparentando moer em demasia com o propósito de encaixar a obra numa longa-metragem...
Mas a experiência de Cinema é bem interessante.
Um abraço!
É um dos vários filmes que ainda tenho que ver este mês :D See ya!
Estranha a decisão de dar vozes aos pingüins; deve ficar deslocado em um documentário. Apesar do sucesso e dos elogios, desconfio que seja inferior ao deslumbrante WINGED MIGRATION.
Cumps.
André Batista: É uma bela experiência... dá-lhe uma espreitadela.
Cumprimentos.
Gustavo: A decisão de dar voz aos pinguins, na versão original (francesa) foi descabida. E também concordo contigo na última parte do teu comentário... "Winged Migration" é bem superior... na minha opinião.
Cumprimentos.
Que o amor impere nalguma forma de vida... BJ
O filme ainda não estreiou no Brasil, mas acredito que seja o principal favorito ao OSCAR de Documentário...Marfil-SPOILER
Gnose: Sem dúvida. É amor na sua forma mais puritana.
Marfil: Acredito que seja o principal favorito... mas o que dizer de "Aliens of the Deep" de James Cameron"?
Por toda a dificuldade tecnica e até criativa, estamos perante um excelente trabalho cinematográfico e não perante um objecto "simples" de National Geographics.
Cumps
Manuel Barros
ROLLCAMERA
eu vi na versão original, é um bom documentário, apesar das vozes por vezes distrairem um pouco, mas não muito... estamos mais centrados na aventura dos pinguins do que propriamente na concepção do filme... O "Aliens of the Deep" de Cameron, está bom também, mas é de cariz mais exploratório. A explicação por vezes nºao é aprofundada, as imagens e a realização estão bastante bem conseguidas....
Manuel Barros: Tal como evidenciei na crítica o filme é maioritariamente Arte.
Cumprimentos.
membio: Tenho de arranjar esse "Aliens of the Deep"... não sei como, mas tenho...
Apesar de boas imagens e banda-sonora, o filme sabe a pouco e parece ter sido esticado. A voz off também não ajuda. É giro, mas só isso.
Sem dúvida... o filme aparenta ter sido delongado em demasia para encaixar em longa-metragem...
Enviar um comentário
<< Home