quarta-feira, maio 31, 2006
terça-feira, maio 30, 2006
I'm Not There
Com “No Direction Home”, Martin Scorsese seguiu a estranha evolução de Bob Dylan entre 1961 e 1966, desde cantor folk a cantor protestante e de «voz de uma geração» até estrela rock. Todd Haynes (“Velvet Goldmine”), propõe uma abordagem pelas ruminações existenciais de Dylan, enquanto diversas personagens representam um aspecto particular da vida e trabalho do músico. O filme chama-se “I’m Not There”, tem estreia marcada para o próximo ano e conta no elenco com estes nomes: Christian Bale, Heath Legder, Richard Gere, Cate Blanchett, Michelle Williams, Julianne Moore e Charlotte Gainsbourg. Se ainda não captei a vossa atenção, pois fiquem sabendo que, por exemplo, Cate Blanchett irá interpretar o compositor andrógino Jude, uma configuração específica da personalidade de Dylan.
segunda-feira, maio 29, 2006
"Youth Without Youth" - actualização
Chegou a surgir o rumor que o filme iria estrear em Cannes, mas segundo a Variety, o novo filme de Francis Ford Coppola, “Youth Without Youth”, apenas completou agora a fotografia principal na Roménia. O filme marca o regresso de Coppola à cadeira de realização após “The Rainmaker” (1997) e irá seguir Bruno Ganz como o professor Stanciulescu, um docente forçado a tornar-se fugitivo. O drama assente na Bucareste de 1930 teve um orçamento de 5 milhões de dólares e será baseado no romance de Mircea Eliade. O filme iniciou as filmagens em Outubro passado e a sua estreia está prevista para o próximo ano.
domingo, maio 28, 2006
A ferramenta cénica
Sexta-Feira, 26 de Maio de 2006.
Este representou o segundo dia do Act 1 da 12ª Edição do Festival Super Bock Super Rock e um dos mais consistentes ao nível de qualidade de actuações que tive o privilégio de assistir. As próximas linhas de texto reflectem uma breve apreciação sobre este dia glorioso, nas quais irei lavrar sucintamente os sentimentos que as bandas do palco principal me injectaram. Os portugueses Primitive Reason iniciaram a programação do dia com o intuito de aquecer os motores da plateia, para uma noite que se esperava bem mais engrenada que a anterior. O culto que a banda formou desde o lançamento de “Seven Fingered Friend” é justíssimo e o seu talento musical é inquestionável, mas ultimamente a banda tende para extravios experimentais que atrofiam a qualidade muscular dos seus concertos. O resultado foi uma actuação disforme. A banda que se seguiu foram os míticos Alice in Chains. Regressando ao activo após a morte do carismático vocalista Layne Staley, a conexão com o público foi imediata. Foi absolutamente maravilhoso estar imerso no público cantando nostalgias grunge como “Rooster”, “Would?”, “Down in a Hole” ou “Angry Chair” ao som da inimitável guitarra de Jerry Cantrell, mas a banda aparenta desarticulação temporal e de identidade. O novo vocalista William Duval (da banda “Comes with the Fall”) foi de uma extrema simpatia, falando imenso num português tremido e agradecendo numa atitude nobre «…o facto de me deixarem tocar com Alice in Chains». O seu timbre de voz é praticamente idêntico ao do Staley, mas a sua irrequieta energia contrastando com a inerte, sombria e depressiva postura do falecido líder, remete-nos por vezes, para a sensação de um karaoke. Mesmo assim, foi uma coesa actuação musical. Deftones foram os terceiros da noite a entrar em palco, mas protagonizaram o segundo melhor concerto. "Korea" abriu as hostilidades e esses primeiros acordes foram o suficiente para encetar o ininterrupto pular da plateia. Sempre colocado à boca do palco, o líder Chino Moreno ainda exibe a peculiar androgenia vocal. A brandura melódica depressa deflagrava em labaredas de raiva que facilmente transpunham o Tejo em direcção a Almada. A mescla de instrumentais etéreas e vocalização enfurecida, suspenderam num limbo musical durante a cover de Sade “No Ordinary Love”. Depois desta ambiência de sonho, a banda finalizou a actuação com uma brutalidade inolvidável, enlouquecendo o público com um medley final que inicia e conclui com “7 Words”, englobando pelo meio “Root” e “Engine nº9”. O resultado foi uma euforia global. Placebo foram a penúltima banda a entrar em palco. O som é maravilhoso e a banda toca de forma exímia, mas Molko e companhia foram parcos na comunicação com a plateia. Iniciaram discretos, elevando gradualmente a ripa emotiva, mas o resultado final foi uma exibição que subverte a qualidade da comunhão que a banda já conseguiu proporcionar em terras lusas. Ao menos, fica a satisfação por não ter assistido novamente ao beijo entre Brian Molko e o baixista Stefan Olsdal.
Para o melhor concerto da noite e certamente um dos melhores do ano festivaleiro nacional, reservo um parágrafo especial. Os Tool são formados por Maynard James Keenan (voz), Adam Jones (guitarra), Justin Chancellor (baixo) e Danny Carey (bateria). Depois do desgaste provocado por seis horas de calor infernal e ataques de mosquitos olisiponenses, os Tool voltaram a pasmar o país de Camões, depois de arrebatarem em 2002 o Ozzfest que se realizou no Restelo. Fenomenais criadores de música transcendental e hábeis na concepção Stop-Motion dos fenomenais videoclips, Tool surgiram numa altura em que o grunge estava a atingir o ponto de ebulição e no horizonte pairava a sombra desse radio-punk-pop rock. Os quatro elementos recusam protagonismo pessoal, escavando os limites da música. Eles reforçaram o estatuto do metal injectando-lhe arte, e evidenciando que este género musical tinha finalmente algo digno para dizer. As teorias de ciências alternativas, a profunda espiritualidade, o assalto sónico, o instigar do pensamento próprio ("think for yourself"), a magnífica técnica, a complexidade musical, os overtones agressivos complementados com uma vocalização superior e perfeita. Eles mostraram que o metal pode ser simultaneamente agressivo, EMOCIONAL e acima de tudo... INTELIGENTE! Quatro ecrãs gigantes foram estrategicamente colocados em palco, além dos dois ecrãs laterais da organização. Um concerto de Tool é uma trancendental (desculpem, mas não existe outra palavra) experiência audiovisual. Enquanto nos concertos anteriores se assistia a filmagens das actuações nos ecrãs laterais, Tool recusam ser filmados proporcionando um portentoso espectáculo cénico. Iniciam ao som de “Stinkfist” e logo aí, muitos dos jovens partidários de Placebo que se encaminhavam para casa estacaram. As ondas sonoras eram de um poder avassalador, de uma magnitude que jamais encontrei ao vivo. E à medida que escutávamos a inigualável perfeição da voz de Keenan e visionávamos o seu vulto envolto numa bruma luminosa, assistíamos nos ecrãs as psicadélicas criações Stop-Motion de Adam Jones e lampejos da arte conceptual do génio visionário de Alex Grey. Os elementos de Tool costumam ser pouco comunicativos e quando nas entrevistas lhes confrontam com questões sobre o significado das letras, revoltam-se entrando em estado de ebulição, porque para estes fenomenais criadores a música deverá ser interpretada, sentida e edificada individualmente. Mas este não era um dia qualquer: Maynard estava animado, comunicativo e a actuação foi sublime. Tudo e todos ficaram arrebatados. Escutavam-se frases como «Se morresse agora, morria feliz», ou «Já não sinto vontade de assistir a outras bandas em concerto... depois disto tudo é mediano», ou ainda «Belisquem-me, será que estive em contacto com Deus nas portas do paraíso?». “Aenema” concluiu de forma soberba o concerto mais hipnótico e avassalador que assisti até hoje. No final, parecíamos um grupo de zombies encaminhando-se lentamente e de forma estupefacta para a saída, assimilando lentamente os sentimentos provocados pela divina fusão de som e imagem. Acreditem, nada disto é fabricação ou intrujice. Investiguem crónicas jornalísticas, sites ou blogs. Um concerto de Tool é uma autêntica experiência de vida. Perto do final Keenan disse: «See you in the Fall». Era bom era… já sinto saudades de flutuar pelos jardins do Éden.
sexta-feira, maio 26, 2006
"The Da Vinci Code", de Ron Howard
O código do Acólito Cinematográfico
Um dos grandes responsáveis pela indigência é Akiva Goldsman. Ele é o responsável pelo argumento miserável que relembra o facto de ter participado nas paupérrimas sequelas de Joel Schumacher para a saga “Batman”. Goldsman mortifica a narrativa com a intensidade das auto-flagelações de Silas. É um feito quase inédito conseguir de uma só penada erradicar todos os indícios de suspense, misticismo e fogo erótico do romance-base. As personagens são tão descoloradas como o próprio Silas, comportando-se como peças de um presépio colocadas em posições predeterminadas. A exposição de figuras históricas é tratada como um breve parágrafo da Wikipedia e quando os protagonistas param para explicar algo, assemelham-se a notas de rodapé. É um autêntico crime cinematográfico, possuir no elenco um divino leque de actores e presenteá-los com um argumento sem qualquer matéria dramática para ser trabalhada. Fora do seu habitat natural, Tom Hanks (Robert Langdon) vagueia completamente à deriva num dos desempenhos mais desinteressantes da sua carreira. Graças ao receio de ofender, o filme torna-se sisudo e até dispara pela boca de Hanks discursos solenes para amansar o criticismo. A ausência de química entre Hanks e Tautou expõe de forma lancinante a nula diversão. Audrey Tautou (Sophie Neveu) chega mesmo a conspurcar a imagem melíflua que edificou em filmes predecessores. Ian McKellen (Sir Leigh Teabing) e Paul Bettany (Silas) são os únicos que aparentam paixão pelo material. Bettany escava na complexidade da personagem, conectando a mortificação da carne com os atrofio da respectiva alma. Imerso no material e divertindo-se cabalmente, McKellen jorra luz na tonalidade macambúzia do filme, declamando entusiasticamente as suas linhas como se tivessem sido redigidas por Shakespeare.
O realizador Ron Howard é um infeliz Acólito Cinematográfico, subserviente de arquétipos convencionais do meio, subserviente tarefeiro e subserviente dos fãs do livro. Ensopado pelo receio de ser crucificado pelos fãs por deixar uma linha de texto fora do filme, o reverente Howard olvida a inclusão de ingredientes cinematográficos estimulantes. Ao invés de gerar uma ode à Divindade Feminina, o mediano cineasta nunca acciona as paixões vívidas que residem nas entrelinhas, nem domina as particularidades que elevaram o romance ao estatuto de fenómeno. Com o suporte de uma matéria inquietante que impele a revisitação de referências icónicas e poderia ecoar de forma exímia num mundo cada vez mais sisudo e apático em termos de crença religiosa, Howard age como um mero tarefeiro, despachando o serviço com uma lancinante ausência de sensibilidade, vivacidade, arrojo e engenho. Supostamente um filme deste género deveria fluir com a velocidade de um Ferrari, mas “The Da Vinci Code” move-se com o ritmo de uma procissão Papal.
quinta-feira, maio 25, 2006
Assombrosamente magnífico
quarta-feira, maio 24, 2006
My Blueberry Nights
terça-feira, maio 23, 2006
"Babel" – primeiro clip
Hoje estreia em Cannes um dos filmes mais aguardados pelo chefe de redacção deste blog. “Babel” é o novo filme de Alejandro González Iñárritu (“Amores Perros”, “21 Grams”), cujo elenco será composto por Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael Garcia Bernal, entre outros. O filme enlaça três storylines aparentemente divergentes. Pitt e Blanchett desempenham um casal que sofre um trágico acidente durante as suas férias em Marrocos, intersectando as suas vidas com uma adolescente japonesa e Bernal, um mexicano que rapta duas crianças americanas. Finalmente e após tanto secretismo, surge o primeiro clip que representa apenas breves segundos de um diálogo entre Pitt e Blanchett. O extraordinário é verificar como a fabulosa Cate Blanchett consegue inundar a face com um turbilhão de emoções, apesar dos breves segundos de aparição.
Para acederem ao clip, cliquem na imagem acima exposta.
segunda-feira, maio 22, 2006
A ressurreição de "Grind House"
sábado, maio 20, 2006
sexta-feira, maio 19, 2006
Sublime tirada deste início de Cannes
O actor Ian McKellen teve uma reacção prodigiosa quando confrontado em Cannes com a celeuma que “The Da Vinci Code” provocou junto da Igreja Católica. McKellen, que assumiu em 1988 a sua homossexualidade (pobres mutantes e hobbits), respondeu neste humor mordaz: «Fico muito feliz por acreditar que Jesus foi casado. Bem sei como a Igreja Católica tem os seus problemas com os homossexuais e julguei que isto seria a prova absoluta que Jesus não era homossexual. Não será esta razão mais que suficiente para a satisfação católica?».
É caso para dizer: Touché, senhor Gandalf!
quinta-feira, maio 18, 2006
Cogitação pessoal partilhada
Serei o único que julga Michael Mann o homem absolutamente indicado para realizar um exemplar “Mission: Impossible”?
quarta-feira, maio 17, 2006
Assobios descodificados
O Festival Internacional de Cinema de Cannes abre esta quarta-feira com a estreia mundial de “The Da Vinci Code”, o novo filme de Ron Howard, adaptado do bestseller de Dan Brown. Contudo, ontem à noite o filme foi projectado para cerca de dois mil jornalistas na sala Debussy do Palácio dos Festivais. A reacção foi um glacial misto de risos, assobios e silêncio em detrimento de aplausos. Para hoje, é aguardada uma reacção tradicionalmente menos crítica, na noite de gala de um festival que terá a duração de doze dias (até 28 de Maio), a projecção de 900 filmes e a afluência prevista de 200 mil espectadores. Resta-me desejar muitas felicidades para o nosso Pedro Costa e o seu “Juventude em Marcha”.
Quanto à reacção que “The Da Vinci Code” acolheu na véspera da sua estreia, resta-me especular sobre duas possibilidades: ou Ron Howard continua igual a si mesmo, ou então… existia um vasto rol de bispos infiltrados na plateia.
terça-feira, maio 16, 2006
segunda-feira, maio 15, 2006
"Lady in the Water" – novo poster
sábado, maio 13, 2006
Top 5: Momentos sensuais
“Secretary”, de Steven Shainberg
“American Beauty”, de Sam Mendes
“La Dolce Vita”, de Federico Fellini
“Mulholland Dr.”, de David Lynch
“Rear Window”, de Alfred Hitchcock
sexta-feira, maio 12, 2006
Momento bizarro do dia
O passaporte de Richard Kelly (“Donnie Darko”) foi confiscado pelo U.S. Department of Homeland Security. Richard está sendo investigado como um possível terrorista, porque existe um James Kelly na lista de combate ao terrorismo. Existe a possibilidade do cineasta falhar a sua Première em Cannes, o que o levou a declarar: «O paranóico que reside em mim já começou a conjecturar que esta situação terá algo a ver com o meu filme (“Southland Tales”)». Pois cá para mim, tudo se encontra relacionado com profissionais incompetentes que infestam vários departamentos americanos.
O que seria de Grace Kelly ou Gene Kelly se ainda fossem vivos?
quinta-feira, maio 11, 2006
Believe it or Not
Cada boa-nova sobre o projecto que alberga Tim Burton na realização e Jim Carrey como protagonista tem merecido autênticas ovações deste humilde cinéfilo. “Believe it or not” seguirá as aventuras do peculiar Robert Ripley (Carrey), o explorador e cartoonista que viajava pelo mundo fora em busca de informação bizarra para incluir nas suas vinhetas. Após visitar 201 países, iniciou em 1949 um especial televisivo de 13 episódios, tendo falecido durante as filmagens do último programa. Tim Burton demorou algum tempo a aceitar a proposta da Paramount, mas a aquisição de Jim Carrey injectou-lhe entusiasmo. O argumento ficará a cargo de Larry Karaszewski e Scott Alexander, as mentes que redigiram “Ed Wood” e Gong Li, a musa chinesa de “2046” é a mais recente aquisição do elenco. A produção de “Believe it or Not” inicia em Outubro deste ano.
terça-feira, maio 09, 2006
Something extraordinary will surface
Esta ligeira amostra do labor de Christopher Doyle, confirma tudo o que esperava deste sublime director fotográfico: EXCELÊNCIA!
segunda-feira, maio 08, 2006
"The New World", de Terrence Malick
Fisicamente, desloco-me 20km para visionar este filme, mas assente na sala de Cinema sou arrebatado para outro mundo, bem mais distante. Quando os créditos finais assomam a tela, ainda se apalpa o pulsar de uma jornada que esvaece lentamente a sua aura transcendental. Quando a escuridão é completamente dissipada e a tela readquire a sua tonalidade ebúrnea, a minha mente ainda se encontra em estado de êxtase, recusando terminantemente ordenar movimento às pernas. ”The New World” representa tudo o que procuro na Arte em geral e no Cinema em Particular: abstracção do pó mundano que nos asfixia o quotidiano. Muito obrigado Sr. Malick, por me colocar em contacto espiritual com os ritmos da terra, apesar de permanecer fisicamente sentado numa sala de Cinema. Muito obrigado pelo arrebatamento ministrado nesta excursão ao reino de um Novo Mundo.
Colocando a Disney de lado, nenhum realizador ambicionou expor com seriedade este momento capital da história americana, quando em pleno século XVII, a expedição de colonizadores britânicos sob o comando do Capitão Newport, aturdiu os nativos americanos e a beleza bucólica do seu lar. A originalidade de “The New World” assenta na sua exposição temática, lidando com a colisão entre realidade e ilusão, facto e utopia. Olhares tácitos, toques proibidos e os murmúrios da Mãe-Natureza repercutidos em cada frame de “The New World”, espelham a urgência pungente, anunciando os temas de descoberta e perda através da simbiose perfeita entre sonoridade térrea e imaginário ambiental. Nada disto foi algum dia alcançado cinematograficamente com tamanha destreza. O efeito inovador invoca o espectador numa deambulação bucólica que serve de prelúdio: contemplamos a pureza cristalina de um rio correndo livre na serenidade florestal, enquanto deleitamos a nossa audição numa colectânea divina de sons. Subitamente, apercebemo-nos da formação de nuvens, gotas de chuva começam a aspergir subtilmente tudo em nosso redor, causando uma ligeira flutuação na água. À medida que escutamos o maravilhoso trecho de "Das Rheingold” de Wagner, escrito para evocar o serpentear de um rio e a emanação de vida, ficamos diante de um dos mais poderosos prólogos dos últimos anos.
Q'Orianka Kilcher e Colin Farrell representam a visão romântica de dois amantes apanhados no centro de uma colisão de culturas Darwiana. Kilcher é uma nobre selvagem na arte da representação. Não possui uma beleza convencional que lhe garanta um papel numa ordinária comédia juvenil, mas encarregue de suportar o fardo de um drama histórico, a miúda (de 15 anos na altura) consegue fluir um rio de emoções pela sua personagem, constituindo uma das maiores surpresas interpretativas dos últimos tempos. Farrell demonstra competência na ocupação da sua tarefa, particularmente na narração quimérica, sussurrando para si próprio pensamentos íntimos e ânsias ocultas. A composição musical de James Horner é estóica (incutindo ainda um pouco de "Piano Concerto Nº23" de Mozart) e Emmanuel Lubezki vitaliza o romance com uma energia mística. A sua virtuosa fotografia evidencia a natureza como algo que não está apenas ao alcance do nosso toque, mas como uma benesse que interage connosco. Evitando a luz artificial em detrimento da luminosidade natural, o cenário ganha textura genuína e o facto de algumas cenas serem captadas em 65mm, injecta vida numa película que enleva os sentidos. Mesmo quando Malick transporta o filme para Inglaterra, a sua tremenda sensibilidade mantém-se intacta ao evidenciar a simetria formal dos seus jardins, num mundo geométrico inverso à beleza indomável da floresta.
Realizando apenas 4 filmes em 32 anos, Terrence Malick é um espécimen em vias de extinção e não faltam caçadores com a intenção de o aniquilar. Os seus avistamentos são raros, recusa ser entrevistado ou fotografado, recusou comparecer na cerimónia dos Oscares apesar das suas nomeações por “The Thin Red Line”, mas quando se compromete a dirigir um novo projecto, desperta a atenção dos gurus e das estrelas do meio. Mesmo os críticos que o abominam fazem fila para visionar uma nova obra sua, confirmando que um filme de Malick é um evento. 1973 foi o ano do intemporal “Badlands”, uma película atmosférica que evoca o fatalismo de uma odisseia de violência. Em 1978, “Days of Heaven” volta a seguir a tradição narrativa de casais delinquentes com um complexo triângulo amoroso imerso num assombroso ensaio pictural, um pouco como “The New World”. Ao escrever, produzir e realizar dois únicos filmes na década de 70, Malick tornou-se uma lenda ao desaparecer no apogeu da sua carreira, durante 20 anos. Voltou em 1998 com “The Thin Red Line”, renovando o estudo das anomalias da condição humana, numa visão singular da 2ª Guerra Mundial, como afronta à Mãe-Natureza.
Na maioria dos filmes, basta uma breve sinopse ou uma referência a uma obra idêntica para aflorar a experiência que nos aguarda, mas “The New World” não é um filme qualquer… é um meio de transporte. A vibrante poesia visual irá certamente defraudar quem encara o Cinema como uma mera construção de personagens, confundindo claramente Literatura com Cinema. Esta sinfonia é orquestrada em torno de meditações supra-pessoais acerca do Amor, da curiosidade, da inocência, da descoberta e da perda, onde os quatro elementos primordiais (Terra, Água, Ar e Fogo) se encontram imbuídos numa portentosa carga simbólica. Requintadas pinceladas cinematográficas são derramadas em celulóide, com a precisa mestria empregue por um pintor numa tela intemporal. Malick nunca gerou consenso crítico e “The New World” cria um golfo ainda mais proeminente nesta desconexão, mesmo para quem julgava entendê-lo lá porque venerava o anterior “The Thin Red Line”. Como filho do sonho hippie americano da década de 60, de uma fantasia que circula na veia americana desde os nativos ao poeta Walt Whitman, Malick decompõe em “The New World” o ideal utópico de um lar nas colinas e da reinvenção pessoal no misticismo da fauna e da flora.
Terrence Malick é um Poeta Idílico. É um transcendentalista insanável, proprietário de uma patologia pela qual inúmeros cineastas amariam padecer. É um autor que se demarca dos produtos reciclados de realizadores sobrevalorizados que almejam unicamente atordoar o box-office. O seu objectivo é desafiar a audiência em experiências transcendentais que ultra-dimensionam a mera superficialidade fílmica. Malick denota preocupação com temas que visam a transição terrena do homem, a corrupção da inocência, a expulsão do Paraíso e a violência destrutiva que contamina o ser humano. O seu idioma cinematográfico é fluente, desafiando a gravidade ao flutuar acima do trilho narrativo que a maioria dos cineastas adora repisar de forma cíclica. Malick é um dos superiores Poetas da Sétima Arte que graças ao seu ritmo sensitivo e ao vívido sentido de espaço, seria bem mais prolífico na era muda do que na conjuntura prosaica hodierna. Por vezes, até parece que foi um acidente que tornou o Cinema uma forma narrativa que usurpa a exploração visual e poética do meio. A fatia de artistas cujos filmes deveriam ser expostos numa galeria de Arte é delgada, mas são as suas composições que reproduzem o genuíno pulsar da Arte Cinematográfica. Essa bela estirpe, imersa numa bruma incandescente de contemplação, inclui nomes como Yasujiro Ozu, Andrey Tarkovsky, Bela Tarr, Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni, Federico Fellini, Jean-Luc Godard, John Ford, Stanley Kubrick, ou os contemporâneos Wong Kar-wai, Abbas Kiarostami, Hou Hsiao-hsien, Tsai Ming-liang e Gus Van Sant, entre outros. Através da sua espontaneidade de descoberta visual e da sua metodologia elíptica, Terrence Malick incorpora esta classe superior ao forjar momentos de assombramento emocional.
domingo, maio 07, 2006
Freeze Frame
sábado, maio 06, 2006
Corrente de Solidariedade
O meu caro colega da Blogosfera, Rui Pedro Matos, solicitou a minha adesão numa corrente de solidariedade com o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), ou se preferirem a sigla original: UNHCR. E quem sou eu para quebrar uma corrente de solidariedade tão digna? Aqui fica publicado o meu humilde contributo.
Um refugiado é definido como sendo uma pessoa que teve de abandonar o seu país devido a um receio fundado de perseguição em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, opinião política ou pertença a um determinado grupo social, não podendo ou não querendo regressar. O ACNUR ajuda os refugiados de todo o planeta e foi criado em 1951 pela Assembleia-geral das Nações Unidas.
Uma vez que este recanto é dedicado ao Cinema, não poderia deixar de mencionar um filme que lida com a problemática dos refugiados. Poderia facilmente falar sobre o sublime “Schindler’s List” ou sobre o surpreendente “Hotel Rwanda”, entre outros, mas a minha peculiar recordação remonta ao ano de 1942. “Casablanca”, realizado por Michael Curtiz, exibe as adversidades da guerra, evidenciando a situação dos refugiados que tentavam obter o visto para a América durante a 2ª Guerra Mundial. Evoco a cena decorrida num café, onde os refugiados franceses ao cantarem A Marselhesa, abafam os militares alemães que entoavam com vigor Deutschland über Alles. Sublime!
Blogs que poderão colocar mais um elo nesta corrente:
- Take a Break;
- Contracampo;
- Gonn1000;
- House of Blue Leaves;
- Spoiler.
sexta-feira, maio 05, 2006
Boato do dia
Numa entrevista à Entertainment Weekly, Terry Gilliam (“Brazil”, "Monty Python and the Holy Grail") declarou interesse em dirigir um filme da série Harry Potter, confirmando inclusive um encontro com representantes da Warner Bros., depois de ter tido acesso ao argumento do sexto capítulo da saga: “Harry Potter and the Half-Blood Prince”. Em apenas 24 horas, o romance de J.K. Rowling vendeu 6.9 milhões de cópias nos Estados Unidos, gerando 100 milhões de dólares nas receitas da semana de abertura e suplantando a soma dos filmes que ocupavam o top do Box-Office dessa semana.
Nenhum contrato para a produção de “Half-Blood Prince” foi assinado (nem com o trio principal), contudo Gilliam ganha mais uns pontos na minha consideração ao enxovalhar as duas primeiras adaptações de Chris Columbus (apelidando-as de chatas) e elogiando o trabalho de Alfonso Cuarón em “Prisoner of Azkaban”.
quinta-feira, maio 04, 2006
Be Kind, Rewind
Michel Gondry + Jack Black = “Be Kind, Rewind”.
Se esta equação vos parece esquisita, então tomem atenção à premissa deste projecto: Black representa Jerry, um operário cujo cérebro fica magnetizado ao tentar sabotar uma central eléctrica. Um dos desaires que provocará subsequentemente será a destruição acidental dos filmes presentes no videoclube do seu melhor amigo. Acossado pelo sentimento de culpa, Jerry decide encenar todos os filmes arruinados (desde “The Lion King” a “Robocop”), para manter a única cliente da loja.
Só consigo exprimir o que sinto numa palavra: FABULOSO!
A arte invulgar do cineasta francês, a impulsividade cómica de Black, a preciosidade estrambólica da premissa e a perfeição do título (“Be Kind, Rewind”), evocando a célebre etiqueta que acompanhava as cassetes VHS (Favor rebobinar), colocam o meu entusiasmo num nível de arrebatamento. O filme começa a ser rodado a 6 se Setembro e Georges Bermann (“Eternal Sunshine of the Spotless Mind”) será o produtor executivo.
quarta-feira, maio 03, 2006
O esmorecimento da tara de Tarantino
Sustento a opinião que Tarantino deveria arriscar em alguém desconhecido, pois afinal de contas, talento na direcção de actores é algo que não lhe falta. E sinceramente… apesar de apreciar o seu trabalho como actor, espero que Jamie Foxx não seja o eleito, senão daqui a nada, assistimos à criação forçosa de um novo super-herói: o Biopic-Man.
terça-feira, maio 02, 2006
Detalhes sobre o trailer esvoaçante
O trailer de “Superman Returns”, com a duração de 2 minutos e 28 segundos, será anexado a várias cópias de “M:I-III”, filme que estreia esta semana. No entanto, existe a possibilidade do trailer estrear ainda hoje na Internet. Esta será uma bela oportunidade para vislumbrar o trabalho que Bryan Singer tem vindo a desenvolver, depois das competentes adaptações “X-Men” e “X2”, enquanto muitos aguardam a projecção de “Mission: Impossible III”, para saciar a curiosidade relativa ao filme mais caro de sempre de um realizador estreante: J.J. Abrams, uma das mentes inventivas da série “Lost”, escolhido por Tom Cruise quando este visionou os primeiros episódios de “Alias” em DVD.