"World Trade Center", de Oliver Stone
Validade emocional questionável
Se me tivessem convidado para a projecção deste filme, com um completo desconhecimento da minha parte acerca das pessoas envolvidas no projecto, a minha questão aquando do desfecho do visionamento seria algo do género: Afinal este é o novo filme de Roland Emmerich, autor de “The Day After Tomorrow”? Julgava que o homem andava envolvido com mamutes…
Tudo bem… admito que estou a pressionar um pouco em demasia o pedal da ironia, mas é (no mínimo) lamentável visionar Oliver Stone, o realizador mordaz, caustico e inexorável de obras como “Platoon” ou “Natural Born Killers”, tratar um filme que tem como pano de fundo os malogrados eventos do 11 de Setembro, em tom de Disaster Movie. Ele desafia (e dilui) de tal forma as expectativas para uma matéria desta magnitude, que o vilão acaba quase sendo as Torres Gémeas.
Os minutos iniciais arrancam de forma promissora. Stone mescla de forma encorpada o despertar das histórias pessoais com a alvorada citadina. Inicialmente, New York expira um silêncio expectante, espreguiçando-se lentamente para um renovado dia e à medida que o Sol surge acima dos prédios, irrompe pelas suas artérias o caos das febris actividades quotidianas. A ameaça surge através de sombras, abalos e estrondos, contudo, assim que as torres desabam, o filme fica asfixiado nos escombros de um argumento limitado. A direcção revela-se contida e a transposição para o lar dos familiares resulta em cenas estéreis. Depois de visionar “World Trade Center” permaneço convicto do melhor filme concebido pós-11/09: o brilhante “25th Hour” de Spike Lee.
No início do ano, li algures que este ano Hollywood iria atrás de blood money para minorar a possibilidade de prejuízos financeiros. Recuso-me a acreditar nesta afirmação, todavia, existem factos curiosos e até inquietantes. Senão vejamos: considero “United 93” um filme imensamente válido, portentoso e digno para manipular os acontecimentos funestos, sendo inclusive lançado mundialmente em Abril, de forma despretensiosa e numa altura em que a indústria andava no rescaldo dos Oscars. “World Trade Center” recebe um realizador de renome, um actor famigerado, um orçamento airoso, publicidade a rodos e um lançamento de Verão, digno de um blockbuster hollywoodesco. Por muito boa vontade que pudesse ter para com Oliver Stone, existe uma questão inevitável: será que o espectador fica emocionalmente tocado por um filme bem construído, ou será “apenas” açoitado pelo drama inerente à veracidade trágica dos eventos?
Existem momentos de suspense, terror e tristeza. Contudo, esta nobre tentativa para celebrar o denodado espírito humano face a inconcebíveis adversidades poderia ter sido formulada por qualquer realizador mediano. “World Trade Center” emana uma superficialidade arbitrária. Oliver Stone é um dos realizadores americanos mais corrosivos, considerado um autêntico anticristo em círculos conservativos, mas qualquer jovem cinéfilo que o conheça apenas neste filme irá encontrar um cineasta que utiliza narrativas convencionais para evitar possíveis suicídios comerciais. É um trabalho mundano, uma tentativa forçada de Feel-Good Movie que reduz os horrores de uma data nefasta em prol dos cínicos objectivos de bilheteira hollywoodescos.