Por esta altura, Steven Soderbergh é o nome do realizador que meio mundo associa aos três “
Ocean’s…”, “
Traffic” e “
Erin Brockovich”. Pessoalmente, sempre o louvarei pela sua primeira longa-metragem, um filme nuclear da década de 80 intitulado “
sex, lies, and videotape” (sim, o cineasta prefere que o título seja grafado em minúsculas, ao contrário de Lynch com “
INLAND EMPIRE”). Escrito em duas semanas e filmado em apenas cinco com um orçamento irrisório de 1,2 milhões de dólares, Soderbergh gerou uma obra sensual, irónica, inteligente e com desempenhos imaculados. Ann e John vivem um casamento monótono e praticamente assexuado. Sem que Ann suspeite, John tem um caso com a sua irmã Cynthia, mas todas as mentiras camufladas no relacionamento destes três emergem quando um antigo colega de John aparece na cidade. Graham (sublime James Spader), transportando igualmente seus peculiares segredos, irá forçar os outros na confrontação das verdades que os envolvem. “
sex, lies and videotape” choca alguns e tilinta outros tantos, mas acho difícil a existência de algum espectador que não conecte com as silhuetas de comédia que desfraldam a excepcionalidade hegemónica de Soderbergh. A sua câmara é prodigiosamente espontânea no esquadrinhamento da trama de neuroses, medos e desejos que dominam suas personagens. O filme expõe os padrões mutáveis de políticas sexuais contemporâneas e a diferença entre Sexo e Amor. “
sex, lies and videotape” desenvolve a problematização do sujeito hodierno de desejo, permitindo ao espectador-pensador ruminar sobre o espaço de criação inventiva que deve ser ocupado pelo Ser Humano no confronto de suas comunicações sexuais. Qualquer demonstração de vida sexual ou dos saudáveis impulsos de natureza lúbrica ainda são reprimidos numa sociedade civilizada por um clima cerrado e pluvioso de tabus. Talvez seja esta uma das razões pelas quais a maioria dos seres vive dissimulado consigo e com o próximo, envergando vestes de mentiras.