Quando se confronta um cinéfilo com o título “
One Flew Over the Cuckoo's Nest”, os primeiros espasmos da memória formam normalmente os nomes Jack Nicholson e Milos Forman. Por muito que aprecie o trabalho do carismático actor e do magnífico cineasta (autor do igualmente sublime “
Amadeus”, entre outros filmes de culto), o nome que a minha memória evoca é:
Brad Dourif. Não poderia deixar de expressar a minha admiração pelo actor injustamente ignorado, que interpreta assombrosamente Grima Wormtongue, na trilogia de Peter Jackson, “
The Lord of the Rings”. Bradford Claude Dourif nasceu a 18 de Março de 1950. Iniciou a carreira no teatro, atraindo a atenção de Milos Forman, que o elegeu para desempenhar em 1975, Billy Bibbit, no filme “
One Flew Over the Cuckoo's Nest”. Nesta estreia creditada no Grande Ecrã, o seu retrato do vulnerável Billy valeu-lhe um
Golden Globe (Melhor Estreia em Representação Masculina), um
Bafta (Melhor Actor Secundário) e uma nomeação para o
Oscar de Melhor Actor Secundário. Céptico relativamente ao súbito estrelato, decidiu regressar aos palcos teatrais e leccionar na Universidade Columbia, até receber o chamamento definitivo de Hollywood. Ao longo dos tempos foi cimentando a sua reputação pelo retrato de personagens dementes, desequilibradas e psicóticas, começando em “
Eyes of Laura Mars”, “
Wise Blood” (um dos seus melhores trabalhos), “
Ragtime” (novamente com Forman), “
Dune” e “
Blue Velvet” (ambos com David Lynch). Inesquecível foi o primeiro contacto que tive com o seu talento, durante o episódio “
Beyond the Sea” da primeira temporada da série televisiva “
X-Files”, interpretando Luther Lee Boggs, um
serial killer condenado à câmara de gás, que aparenta conseguir contactar as almas de dois estudantes desaparecidos. A intensidade do olhar de Dourif (algo que dificilmente encontrei com tamanha perscrutação nos inúmeros actores que visionei), a movimentação estrategicamente ardilosa, a dicção arrepiante e os maneirismos cirúrgicos, cravaram-se de forma perpétua no âmago da minha deferência. Aqui fica depositada a minha vénia, ao prodigioso
Brad Dourif.