sábado, maio 12, 2007

"Spider-Man 3", de Sam Raimi

Class.:



Viúva Negra

Uma brutal injecção de poder poderá acarretar um brutal tumulto espiritual. Se o portador de tamanha soberania deixar a máscara suplantar suas feições genuínas, então graves suplícios anímicos avizinham-se. O resultado da chuva de cifrões que alagou o génio de Sam Raimi poderá ser constatado em “Spider-Man 3”. A ideia de visionar um herói perante um conflito psicológico tão intenso, que nem o lado humano e sobre-humano funcionavam devidamente, era deveras estimulante. Contudo, a teia que Raimi teceu para sustentar a imponência do seu filme predecessor, revelou-se débil.

Sequelas superiores são visões raras, mas depois do magnífico trabalho evidenciado nos capítulos anteriores do aranhiço (preferencialmente o segundo), torna-se difícil aceitar esta sensação de fadiga mesclada com imperativos de box-office. Verificar Raimi tombando na maldição do terceiro capítulo das sagas de super-heróis (“Superman” ou “Batman”, por exemplo) é lastimoso. O segredo não se encontra em elevar o número de inimigos ou esbanjar dinheiro numa multiplicidade de efeitos visuais, cosidos em torno de um argumento estéril. O desenlace qualitativo reside na maturação das personagens que acompanhamos com estima. E neste capítulo, “Spider-Man 3” falha redondamente. Abundam vilões pela cidade, mas nenhum ostenta a fundação dramática de Doc Ock. Não existe uma força centrífuga de ameaça, como aquela emanada pelo soberbo Alfred Molina no segundo filme. O surgimento de Venom, rival pelo qual os fãs salivavam há muito, não funciona como uma natural progressão da trilogia, resultando mais como nota de rodapé que não justifica a introdução. O próprio Sandman, apesar da maravilhosa cena do seu nascimento, nunca chega a despontar real interesse. É lamentável visionar um elenco tão talentoso desprovido de matéria dramática para ser trabalhada, pois suas presenças são mais funcionais que substantivas. Bruce Campbell volta a providenciar um cameo delicioso, mas os instintos cómicos de Raimi encontram-se perfeitamente deslocados do teor que reveste a cena em questão.



Tal como Spider-Man, Raimi apresenta dupla personalidade neste filme. Longe vão os tempos da sua sublime indigência propositada, pois em “Spider-Man 3”, o cineasta funde de forma descabida pungência com jocosidade. Até a cidade de Nova Iorque tem vibrações diferentes do trabalho anterior. Aí reinava um retrato lírico, com centelhas da utopia febril da velha Hollywood. Aqui, reina um piscar de olho manhoso ao 11 de Setembro, povoado por olhares ingénuos de marionetas e polvilhado com decrépitas sátiras da cultura popular de celebridades à “Fantastic Four”. Enquanto o segundo demonstrava sentido de economia e sólidas fundações narrativas, este terceiro capítulo banaliza o herói através de batalhas que soam repetitivas. Após atingir o apogeu da fama, Raimi limita-se a regurgitar resquícios da fórmula triunfal. Tal como algumas personagens do filme lutam para manter a forma humana, o realizador aparenta batalhar (a espaços) contra um argumento formulaico, que enegrece o factor humano. Todavia, o contágio provocado pelas reivindicações comerciais usurpou predisposições criativas.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Nunca fui muito a favor de sequelas, apenas quando as seuquelas são pensadas desde o início de modo a formar um todo coerente. As sequelas aparecem sobretudo a pensar nos cifrões, e na repetição de uma boa receita de bilheteira. É como um bolo, só que com uma cobertura ligeramente diferente. Mas já que falas no Homem-Aranha 2, não fiquei muito impressionado, mas é bem capaz de ter sido o melhor. Aliás mesmo assim estes filmes baseados nos Comics surpreenderam-me por terem sido trazidos à vida por um elenco tão bom, tanto em heróis como vilões.

11:11 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

O factor que me surpreendeu (negativamente) neste terceiro filme foi a apatia de Raimi. Uma aparente recusa obstinada, revelando ócio ou cobardia no prosseguimento da arrojada adaptação evidenciada nos filmes anteriores.
Depois de alicerçar uma forte estima com as personagens e respectivo desenvolvimento, a evolução não só estagnou, como se tornou déjà vu.

11:52 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Foi sem duvida uma desilusão tendo em conta que Spider Man 2 foi para mim o ultimo blockbuster em que senti alguma coisa. Uma empatia enorme pelas personagens e ao mesmo tempo um tempo bem passado no cinema.
O coração ainda surge neste SPider Man 3 a espaços mas falha redondamente no capítulo dos vilões. Nos dois primeiros filmes equivaliam-se entre si. Vilão Vs Heroi. Neste é um conjunto de batalhas que levam ao tédio.
Ainda é melhor que quase todos os filmes de super heróis para homem aranha sabe a pouco, muito pouco.

Como nota positiva gostei da cena final em que parecia tender para o beijo final ao som de violinos (o asqueroso final feliza) e acaba numa nota mais "soft" e acima de tudo mais aberta. O que se vai passar ali.

Raimi aparece a espaços mas é sem duvida atropelado e abafado pelos 250 milhões de dólares de orçamento e acima de tudo pela pressão sobre os seus ombros.

Acho que é tempo de passar a bola do Homem Aranha a alguém e desanuviar um pouco.

11:33 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Tendo em conta o passado, do realizador e da saga, este filme resulta numa tremenda desilusão.

10:18 da manhã  

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