quarta-feira, maio 09, 2007

Grão de poesia num deserto de ideias



Utilizando o humor estarola de Sam Raimi, dá vontade de afirmar que certas cenas do novo filme do aranhiço serão tão incómodas, como areia nas virilhas de quem segue com elevada estima a sua obra. Existem pormenores deliciosos, mas o factor ridículo é elevado ao expoente da dissonância. “Spider-Man 3” é uma desilusão. Dói verificar como Raimi é sugado pelas areias movediças do imperativo do box-office, tombando na fórmula decadente que amaldiçoa os terceiros capítulos de interessantes adaptações BD (como “Superman” ou “Batman”, por exemplo). Parece que tudo passou pelo processo que transforma Flint Marko em Sandman. Da consistência que envolvia os dois capítulos iniciais (preferencialmente o segundo) restam momentos granulados de excelência. Aliás, o nascimento de Sandman resulta numa das escassas cenas do filme que escapa à mediocridade. Todo esse momento em CGI é obra de Arte. A fusão poética de todos os elementos que o edificam é imaculada, perpassando um melancólico sentimento de fragilidade que arrepia. O ser olha momentaneamente para os céus e tomba desintegrado imediatamente a seguir. A medalha que alberga a foto da filha jaz ao seu lado. Num esforço suplementar, volta a tentar readquirir forma, mas suas débeis mãos não conseguem amparar o amuleto que relembra sua demanda. A raiva apodera-se do espírito, vincando a configuração do seu novo corpo. E desta forma, Sandman ergue-se das cinzas como uma Fénix, para prosseguir no cumprimento da promessa que estabeleceu. Pena que o resto do filme não flua com tamanha graciosidade.




Não confundir a personagem de Stan Lee com “The Sandman”, a sublime criação do mestre Neil Gaiman




Nem confundir com este…

10 Comments:

Blogger brain-mixer said...

Concordo contigo. Essa cena foi formidável. E obviamente que se a acção de todo o filme é espectacular, resume-se à simples palavra de "Blockbuster", fugindo ao que os dois primeiros nos tinham deslumbrado. vá, ao menos não me aborreci ;)

11:44 da manhã  
Blogger RPM said...

olá amigo.....

feliz dia!

bonita a foto do homem de areia....

o homem aranha....prefiro os piratas....com os sobrinhos

abraço forte

RPM

12:49 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Edgar: Sim, a acção entretem, mas até nesse capítulo o filme fica a milhas de suplantar o embate do Spidey com o Doc Ock (memorável Molina). Custa ver tanto actor bom com nula textura dramática para ser trabalhada. Custa ver Raimi em modo formulaico.

Valha o nascimento de Sandman; o habitual cameo do Bruce; e um pormenor delicioso que me toca com sua simplicidade: Parker retirando a aliança do copo de champanhe... com um garfo.

Rui: Não gosto muito dos piratas (o primeiro, ainda vá lá...), mas irei visioná-lo com a Ninfa e os Suspeitos do Costume, pois até simpatizamos com o Capitão Sparrow.

Abraço amigo!

1:22 da tarde  
Blogger Gonçalo Trindade said...

É bom entretenimento, mas nada mais. Fui ver o filme com baixas expectativas (parecia-me que estavam a tentar incluir demasiado num único filme...), e foi melhor do que esperava. A história é uma enorme salganhada, mas felizmente não é tão mau como esperava, e as cenas de acção conseguem entreter o espectador. Mas é apenas isso: simples entretenimento. O argumento é fraco, minado por clichés (o herói a chorar com um nascer-do-sol por trás?) e coincidências ridículas (aquele mordomo-maravilha...). Deviam ter-se ficado por apenas um vilão. Spider-Man 2 foi um filme magnífico, graças ao seu maravilhoso argumento e a um excelente Alfred Molina, que criou um vilão fantástico... ameaçador, nobre, e humano. Tudo isso se perde neste filme, que tenta ser demasiado ao mesmo tempo... demasiadas sub-histórias, demasiados (e estereotipados) vilões.

Mas ainda assim... foi melhor do que esperava. Bom entretenimento, mas nada mais. É uma pena... é verdadeiramente uma pena. Não chega sequer aos calcanhares do segundo filme (que considero como a terceira mlehor adaptação de BD jamais feita no cinema, logo a seguir aos dois Batman do grande Tim Burton).

2:37 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Eu nem sequer o considero bom entretenimento. Considero-o mediano... e com alguma boa vontade.

9:19 da manhã  
Blogger Luís A. said...

concordo. a cena q analisas é das mais conseguidas desse filme feito pelo clone do Sam Raimi. Passa no blogue q tenho uma crítica similar..Abraço

4:28 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Já a li. Tivemos uma apreciação idêntica do mesmo.

Abraço!

10:01 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Também achei o erguer inicial do Sandman fabuloso, um dos, senão mesmo "o" momento deste 3º filme (embora não tenha desgostado no geral, não é tão denso como o 2º, o melhor filme dos 3 para mim).

(divertidas essas advertências para não confundir ;) )

9:41 da tarde  
Blogger Loot said...

Ah o Morpheus de Neil Gaiman, que bela recordação. Não conheço é o outro sandeman.

Sobre o filme, não gostei tem cenas boas como esta que mencionas talvez mesmo a melhor, tem um JJ Jameson e Bruce campbell hilariantes e uma Gwen Stacy linda de resto é fraquinho. Alguém me disse que Sam Raimi não gostava de Venom depois de ver o filme acredito que seja verdade.

1:51 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Helena: Infelizmente, fiquei desiludido com o filme em geral.

looT: O terceiro Sandeman é a imagem de um dos melhores Vinhos do Porto. É a minha faceta de enófilo a despontar por brincadeira com o nome em questão. :)

8:33 da manhã  

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