Simplicidade de cortar a respiração
Certo dia, o lendário argumentista italiano Tonino Guerra pediu a Andrey Tarkovsky a descrição do final de “Stalker”, plano a plano, como se ele fosse cego. O mestre anuiu:
Um grande plano: a filha do Stalker, uma menina doente, segura um livro nas mãos. A cabeça envolta num lenço. Vemo-la de perfil à frente de uma janela. A câmara recua lentamente e apanha uma parte da mesa. A mesa em grande plano coberta por louça suja. Dois copos e um frasco. A menina pousa o livro nos joelhos e repete o que acabou de ler. Fita um dos copos. Sob o poder do seu olhar o copo começa a mover-se em direcção à câmara. Então ela desvia o olhar para o outro copo e também este começa a deslocar-se. Depois olha de novo para o primeiro copo, que já está no meio da mesa, e nós percebemos que ele se move graças à força do seu olhar. O copo cai no chão, mas não se parte. Ouvimos um comboio a passar perto da casa, fazendo um ruído estranho. As paredes da casa abanam, tremem cada vez mais. A câmara volta ao grande plano da menina e assim, com este som, com este ruído, o filme acaba.
8 Comments:
Quem quer escrever guiões? Assim até parece fácil (mas não é...) :P
É um episódio curioso e belíssimo entre duas personalidades excelsas da Sétima Arte.
Bom dia meu amigo francisco....
um abraço de amizade e com as fotos muito simples deste texto a exuberância nos truques, das explosões, do efeito-especial...não são necessários...
lembro-me de dizer, clássico é clássico, intemporal....
abraço de amizade
RPM
Sem dúvida: Intemporal!
Abraço caro amigo!
Por acaso não percebi a cena final de Stalker. Alguém me pode explicar " a menina mover o copo com a mente"?
Obtenho diversas opiniões deste final, consoante a época e a disposição na qual o revisito. Cada um poderá formar diversas opiniões (bem plausíveis), e uma das quais poderá ser inserida no contexto espiritual que perpassa o filme. A condição debilitada da filha do Stalker poderá ser fruto das diversas incursões do pai pela Zona, todavia, essas mesmas expedições acabam por lhe atribuir um dom. No fundo, constatamos um ganho espiritual, que é uma das principais temáticas de Tarkovsky.
Ainda assim achei-o um pouco lento demais e não entendo todo o hype em seu redor...
O que te posso dizer é que no meu humilde parecer, este é um dos exemplos máximos do Cinema enquanto Arte.
Tarkovsky é imenso!!
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