sábado, julho 16, 2005

“Ondskan”, de Mikael Håfström

Class.:

“Ondskan” (aka “Evil” ou "Cruel") é baseado no bestseller autobiográfico do escritor/jornalista Jan Guillou. Erik (Andreas Wilson) é um adolescente que usa os punhos na escola e em casa é espancado pelo seu padrasto. Quando é expulso da escola, sua mãe envia-o para um colégio interno. Nesta sádica instituição de correcção, Erik é agredido pelos estudantes mais velhos. Conseguirá Erik conservar a dignidade sem ser absorvido num vórtice de violência?

O filme sueco nomeado em 2004 para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (perdendo a estatueta para "Les Invasions Barbares" de Denys Arcand) apresenta o estudo de um carismático adolescente vítima de violência física e mental, que controla os seus impulsos violentos com resistência e submissão à dor. Andreas Wilson (modelo convertido em actor) executa um eficaz e penetrante retrato. Ele sustenta um fogo invisível e infernal.

“Ondskan” é uma espécie de “Dead Poets Society” sem o apaixonado e inspirador professor, “Fight Club” vai à escola e “Good Will Hunting” com doses extra de sangue. A instituição correccional evoca o clássico “House of Whipcord” de Pete Walker.

“Ondskan” é um filme brutal, mas também contém lacunas. Existe algum exagero na dramatização de certas cenas, certos dilemas são resolvidos com excessiva simplicidade. Håfström transfere a audiência para uma zona de negrume, mas também fornece a lanterna para os espectadores se desembaraçarem. O final é previsível, mas o filme é bem executado e é um inteligente olhar sobre a natureza da violência e suas repercussões.

Existem melhores filmes do género, mas este drama confidente alberga uma exuberância fresca e singela. É realista, perturbador e revelador.
É uma batalha metafórica contra a opressão fascista na Suécia de 1950. O profundo estudo de personalidade faz desta película uma obra poderosíssima, sustentada pela forma como Håfström retrata notavelmente a sociedade sueca de 50. A época (evocada inclusivamente através dos álbuns jazz de Charlie Parker) representa o pós-nazismo e a película revela as profundas tensões de uma sociedade cujas reminiscências nazis não foram completamente dissolvidas. Neste período histórico as expressões de individualismo eram suprimidas. O realizador e o actor principal prometem imenso e este filme estreia em Portugal ano e meio após o seu lançamento. Numa altura do ano pautada pelas super-produções de filmes-pipoca sem substância, este prestigiante filme representa uma lufada de ar fresco. O que seria realmente cruel era continuarem a manter as plateias nacionais desactualizadas em relação a obras deste calibre.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Hum...numa semana de fracas estreias, esta parece-me claramente a melhor aposta :). A ver!

Cumps. cinéfilos

3:55 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

s0lo: sem dúvida a ver. Não o deixes passar incógnito, apesar de terem tratado de o colocar em poucas salas... k raiva!!!

André: É uma tristeza, é uma palhaçada (dscp o palavreado) realçarem tretas como "The Son of the Mask" e "Boogeyman" e remeterem este fabuloso "Ondskan" para três ou quatro salas no país inteiro!!!! Além de nos manterem desactualizados em relação ao mundo, ainda nos tratam como néscios.

8:52 da manhã  
Blogger gonn1000 said...

É um grande filme e merece 4/5 :P

Infelizmente, só está em 3 salas no país inteiro, o que não se percebe, sobretudo tendo em conta a temporada fraquíssima...

11:48 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Lá estás tu a exagerar... =)

É bem interessante, e vai acabar por passar despercebido... é uma tristeza...

12:58 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home

Site Meter