quinta-feira, agosto 30, 2007

Terapia sexual



Por esta altura, Steven Soderbergh é o nome do realizador que meio mundo associa aos três “Ocean’s…”, “Traffic” e “Erin Brockovich”. Pessoalmente, sempre o louvarei pela sua primeira longa-metragem, um filme nuclear da década de 80 intitulado “sex, lies, and videotape” (sim, o cineasta prefere que o título seja grafado em minúsculas, ao contrário de Lynch com “INLAND EMPIRE”). Escrito em duas semanas e filmado em apenas cinco com um orçamento irrisório de 1,2 milhões de dólares, Soderbergh gerou uma obra sensual, irónica, inteligente e com desempenhos imaculados. Ann e John vivem um casamento monótono e praticamente assexuado. Sem que Ann suspeite, John tem um caso com a sua irmã Cynthia, mas todas as mentiras camufladas no relacionamento destes três emergem quando um antigo colega de John aparece na cidade. Graham (sublime James Spader), transportando igualmente seus peculiares segredos, irá forçar os outros na confrontação das verdades que os envolvem. “sex, lies and videotape” choca alguns e tilinta outros tantos, mas acho difícil a existência de algum espectador que não conecte com as silhuetas de comédia que desfraldam a excepcionalidade hegemónica de Soderbergh. A sua câmara é prodigiosamente espontânea no esquadrinhamento da trama de neuroses, medos e desejos que dominam suas personagens. O filme expõe os padrões mutáveis de políticas sexuais contemporâneas e a diferença entre Sexo e Amor. “sex, lies and videotape” desenvolve a problematização do sujeito hodierno de desejo, permitindo ao espectador-pensador ruminar sobre o espaço de criação inventiva que deve ser ocupado pelo Ser Humano no confronto de suas comunicações sexuais. Qualquer demonstração de vida sexual ou dos saudáveis impulsos de natureza lúbrica ainda são reprimidos numa sociedade civilizada por um clima cerrado e pluvioso de tabus. Talvez seja esta uma das razões pelas quais a maioria dos seres vive dissimulado consigo e com o próximo, envergando vestes de mentiras.

7 Comments:

Blogger Sam said...

É pena que Soderbergh tenha deixado de fazer filmes deste calibre. Embora aprecie a sua recente "veia experimental" (excepção feita a FULL FRONTAL), é sempre positivo quando um cineasta tenta inovar, nem que seja visualmente.

Excelente blog.

Cumprimentos cinéfilos.

11:35 da manhã  
Blogger meldevespas said...

Ora aqui está um filme que "abalou" a minha existência, nos longinquos 80's!!!
Quer pela novidade que foi em termos de abordagem do tema em si, quer pela novidade que foi a realização, a captação de imagem, o ritmo, a cadência daquelas relações, filmadas até ao osso.
Sem duvida que é um filme a rever com urgência.

4:28 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Sam: Quando estamos na presença de tanto potencial, custa verificar tanto desperdício em alguns projectos. Mas quando acerta, Soderbergh deixa marcas indeléveis.

Cumprimentos.

Mel de Vespas: É um marco no cenário da indústria independente. Uma narrativa que nos imerge com um sublime raio temático e se impregna na nossa memória.

5:45 da tarde  
Blogger Cataclismo Cerebral said...

E não é que a Andie McDowell está muito bem neste filme !?! :) Aqueles desabafos, aquela repressão,... Enfim, este filme confronta-nos com a nossa própria relação com o sexo e o amor, pelo que a personagem do James Spader atiça não só aqueles com quem se cruza, mas também o espectador. Grande filme, que raras vezes passa na tv!

Abraço

6:06 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Sem dúvida que a MacDowell se encontra perfeita, bem como todo o elenco. Mas é Spader quem deslumbra. Aquele momento em que parece que a sua própria alma é literalmente violada... inesquecível... indescritível.

Abraço!

6:53 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Excelente filme.
Inesquecível!

12:45 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Magnífico!

8:16 da manhã  

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