sábado, dezembro 16, 2006

Ninguém sabe



Talvez seja apenas um indivíduo que delira de forma desgraçadamente doidivanas, mas para mim existem músicas e filmes que formam uma simbiose mística. Não me refiro a bandas sonoras ou composições musicais de uma determinada película. Miro uma determinada música alojada num recanto da memória que pela sua letra/sonoridade fica reavivada pelo visionamento de um determinado filme. Neste caso particular, aludo a uma música e a um filme apartados pelo espaço e pelo tempo, que se evocam reciprocamente, por breves instantes que sejam. Sob a minha perspectiva, a música “Cry Freedom” de Dave Matthews Band e o devastador filme de Hirokazu Kore-eda intitulado “Dare mo shiranai” (“Ninguém Sabe” em português e “Nobody Knows” em inglês), fundem-se através de determinadas feições particulares. Dave Matthews representa uma das minhas bandas predilectas (cujo bilhete para o concerto de 25/05/2007 já cá canta) e “Dare mo shiranai” é um filme maravilhoso de um sublime cineasta japonês, que concebeu uma das cenas mais pungentes que visionei recentemente. O aniversário de Yuki que inclui o seu passeio nocturno com passos que chiavam graças aos seus peculiares chinelos, o seu último chocolate, o seu fugaz momento de liberdade, a promessa de contemplar os aviões no aeroporto. A cena é edificada sem música lamechas de fundo, sem lágrimas, sem lamentos. A sua beleza cândida e respectiva aura de fatalidade bastam para despedaçar o mais sólido coração de pedra. Tragicamente arrebatador.


How can I turn away
Brother/Sister go dancing through my head
Human as to human
The future is no place
To place your better days
(...)
Hands and feet are all alike
(...)
In this room stood a little child
And in this room this little child
She would remain.
Until someone might decide
To dance this little child
Across this hall.
Into a cold, dark, space
Where she might never trace her way across this crooked mile
Across this crooked page.


8 Comments:

Blogger MPB said...

Francisco, já somos dois de malas feitas para lisboa para dar as Boas Vindas a Dave Mathews e a sua ENORME banda.

Quanto ao filme, já conhecia a "simbiose" e agora depois de ler as sábias palavras vou comprar, até porque está bem baratinho ali ao lado na Fnac.

Cumprimentos

9:02 da tarde  
Blogger RPM said...

muito bem.....

mas esta fotografia com os pés, de mulher, alçados não bom prognóstico..ainda por cima com um esqueleto a 'bisbilhotar'....

abraço grande

RPM

2:29 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Ne-To: Aqui vamos nós.

Quanto ao filme, sim, é altamente recomendável. Se conheces Kore-eda verificas como depois de três filmes com a temática da morte pairando, ainda a mantém como pano de fundo, mas prefere celebrar a vitalidade do espírito de sobrevivência infantil. Maravilhoso, devastador.
Se esta semana tiver uma vaga, escrevo aqui sobre este filme.

Cumprimentos.

Rui: Caro amigo, absorveste o objectivo da utilização do último fotograma deste post. Os pés são de Yuki, uma criança, e o esqueleto é um dos inúmeros símbolos que Kore-eda cose nas suas tapeçarias, ele que filma imenso as mãos e os pés das suas personagens. É a tal aura de fatalidade que asfixia e arrebata poeticamente no seu filme.

Abraço!

11:32 da manhã  
Blogger gonn1000 said...

Em tempo de balanços, "Ninguém Sabe" merece mesmo ser relembrado. Já quanto a Dave Matthews, bem... Fica para outro dia.

5:12 da tarde  
Blogger tf10 said...

O Kore-eda no seu último filme já se desvia dessa faceta fúnebre/trágica e esta bem mais positivo e até subtilmente bem humorado, mantendo sempre a mesma humanidade que lhe é tão caracteristica, mas o resultado final, quanto a mim, nao é tao brilhante como o dos seus melhores filmes, entre eles este assombroso Nobody Knows!

5:24 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Helena: Se tiver disponibilidade, ainda escrevo sobre o mesmo esta semana.

amadis: Sem dúvida.
Abraço!

Gonçalo: É deveras maravilhoso.

tf10: Conheço bem a sua filmografia, mas ainda não vi o último "Hana yori mo naho". Espero colmatar esta lacuna em breve.

8:55 da manhã  
Blogger Pedro_Ginja said...

Pois é, também eu vi o filme, mas à bastante mais tempo quando estreiou por terras lusas. Realmente algo me chamou ao filme pelo trailer e tenho de admitir que foi uma das melhores experiências do ano numa sala de cinema. Sala quase vazia no King mas a atmosfera era de uma tristeza e silêncio absoluto. Todos os que assistiram foram de certeza marcados por essa e por muitas outras.
Só de pensar que isto realmente aconteceu. E ainda mais num dos países mais “civilizados do mundo”. Dá que pensar...

Concerto de Dave Matthews em Portugal??? Muito bom, mas não sei se estarei por lá em Maio. Só sei em Abril. E aí talvez seja tarde. Já aconteceu o mesmo com os MUSE e quando sabia que estava já eles estavam esgotados. Onde vão tocar, sabes???

Abraço.

12:34 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Tocam no Pavilhão Atlântico.

3:12 da tarde  

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