sexta-feira, maio 25, 2007

"Three Times", de Hou Hsiao-hsien

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Cronologia do Amor

Se existisse algum filme capaz de difundir pelo espírito algumas das sensações que perpassam a divina união do corpo e da alma entre dois amados, essa obra pertenceria a Hou Hsiao-hsien. Este genial cineasta não conta histórias. Ele cria atmosferas. Ele imerge o espectador em planos de inegável intensidade física. Ele incendeia a alma. O seu quadro cinematográfico excede o mero enquadramento. Escutamos sons sem observar sua proveniência. Atendemos gemidos e sussurros que nos rodeiam. Suas personagens esvoaçam, entrando e saindo do enquadramento, rompendo com a lógica clássica de plano. É um Cinema de inteligência que requer uma construção individual de Tempo, para o estabelecimento de uma relação Causa-Efeito. Mas é também um Cinema de extasiante beleza, de embriagante sedução. Depois da bela homenagem a Ozu com “Café Lumière” e enquanto aguardo o recente “Le Voyage du Ballon Rouge”, “Three Times” é a minha recente e recorrente paixão de Hsiao-hsien. Formando o ciclo comum de um relacionamento, “Three Times” revela-se um filme orgânico composto por três vinhetas inter-reflexivas sobre Amor platónico, Amor impossível e Amor sexual. O realizador de Taiwan continua a ruminar na simbiose do passado com o presente, perfeitamente ciente que o Cinema também representa a construção das Memórias do Futuro. Delineando as eras com potentes detalhes visuais, Hsiao-hsien trabalha com as mutáveis texturas das horas, não apenas sugerindo que os minutos passam de forma diferente quando nos encontramos enamorados, como também capturando essa qualidade mística em filme. Esta é a visão de um dos cineastas mais perceptivos e emotivos do nosso tempo. Revisitando e expandindo seus temas predilectos, o realizador da Formosa desconstrói formosos padrões emotivos, cogitando na sociedade moderna e dissertando não apenas sobre o Amor, mas também sobre a Percepção do Amor, discorrendo sobre a influência de paradigmas geracionais nas emoções do Ser Humano. “Three Times” é mais um suspiro (por vezes amargurado) do autor vanguardista subjectivo. É uma obra imensa que transborda os paroxismos da Supra-Emoção.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não li o texto porque quero ver o filme primeiro e este quero ver de espírito em total aberto. Indigna-me profundamente que o tenham de novo retirado do mapa das próximas estreias... Não tarda encomendo-o pela net, se bem que em sala tudo seja melhor...

(acabei por ler as palavras finais... bolas, "Supre-Emoção"? acho que vou entrar em delírio com isto...)

4:26 da tarde  
Blogger RPM said...

olá Amigo Francisco!

Pois...

sobre o AMOR, gosto muito do filme do teu preferido realizador Coreano, presidente do Júri de cannes 2007, DISPONÍVEL PARA AMAR.....

Um Santo Fim de Semana!

Abraço

RPM

11:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Afinal parece que não vamos ter direito a estreia....a zombaria nas datas de estreia continua...enfim...
Muito bom o texto e fez-me recordar mais uma vez (e sempre que me lembro do filme é a primeira imagem que me ocorre) aquela cena da 1º historia, com aquele plano, várias vezes repetido, praticamente estático, com a mesa de bilhar ao fundo e onde os actores deambulam como se a câmara lá não estivesse! Maravilhoso!
Three Times é só um dos seus vários grandiosos filmes!

Abraço!

8:04 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Helena: Eu entrei em delírio... Apaixonante!

Rui: O Wong é de Hong Kong :)

Abraço e boa semana, amigo.

tf10: Que obra esplendorosa nos ministra Hsiao-hsien. Um dos cineastas fundamentais do nosso tempo.

Abraço!

11:21 da manhã  

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