sábado, outubro 07, 2006

"Lady in the Water", de M. Night Shyamalan

Class.:


Baptismo
Encaro uma sala de Cinema como um Santuário, um local sagrado, que poderá ser utilizado na prática do culto de imagens. Em “Lady in the Water”, M. Night Shyamalan dispersa novamente simbologia através de artefactos imagéticos, construindo uma abóbada (Cove em inglês: o nome do condomínio) e erguendo um Altar ao Ser Humano. O problema é que o Homem contemporâneo se empertiga perante mensagens humanas optimistas, ridicularizando a amenidade de cineastas e pessoas como Shyamalan. Como um gato brincando com um novelo de lã, o ser humano enrodilha-se nos torvelinhos narrativos e aparentemente, escassos são os sobreviventes idóneos na interpretação da Imagem e praticamente nulos aqueles que se benzem à entrada do Santuário, que é a sala de Cinema.

Nos instantes iniciais desta fábula sobre fábulas, Cleveland Heep (Paul Giamatti numa entrega expressiva total, reflectindo um olhar assombrado que mescla tons furtivos, acanhados, misteriosos, temerosos e observadores) é sempre apresentado de forma algo encoberta e perscrutada. Seja atrás de canos, pessoas, sebes ou da sua janela, será que Heep esconde algo (os demónios de um passado que o atormenta?), ou será apenas observado (por um voyeur divino)? Heep é o contínuo de um condomínio que representa uma peculiar prossecução da comunidade isolada de “The Village”. Preenchendo a sua rotina mundana entre lâmpadas (primeira imagem de “The Sixth Sense”) queimadas e a piscina do complexo, Heep partilha o quotidiano com personalidades díspares, tentando afogar demónios recorrentes. Até que surge Story (Bryce Dallas Howard numa apreensão perfeita da componente etérea da sua personagem). Uma Ninfa. Uma Narf. No fundo… uma criatura imaculada que enfrenta igualmente os seus próprios demónios.



O próprio acto de contar uma história é sagrado. As múltiplas camadas da estrutura narrativa de “Lady in the Water” comportam um arrepiante silêncio de morte que suprime paulatinamente as personagens. Todavia, a emersão de um Anjo expia a futilidade envolvente. Story acarreta alvura, mas o temor também a assola. O medo pode imobilizar o espírito mais inexorável e para superar a subjugação, impõe-se encará-lo directamente nos olhos, como Cleveland Heep com a besta. Mas em "Lady in the Water" não são apenas as personagens que expiam demónios. Shyamalan também procura expurgar os demónios interiores que o atormentam. A certa altura a personagem que interpreta refere sentir «… picadas e agulhas…», revelando pesarosamente «…não sou especial». Certamente existe muito crítico espalhado pelo planeta que mordiscou o lábio inferior chispando de raiva, perante a personagem do crítico de Cinema, acusando Shyamalan de arrogância, na construção da personagem que interpreta. O autor indiano torna-se presa fácil para lobos ávidos de sangue, mas como escutámos numa linha de diálogo: «… que ser arrogante julga assimilar completamente as intenções de outrem?». Uma fábula reveste-se de metáforas. Nem tudo tem um significado lato. A Ninfa serve de musa para o escritor revelando que o seu livro irá mudar o mundo. Quantos de nós não são (ou foram) mimados por Ninfas que nos fazem sentir no topo do mundo? Sendo este filme criado para seus rebentos, que seres arrogantes somos nós para condenar o desejo de Shyamalan em ser a pessoa mais importante do mundo das suas petizes? Repito: Uma fábula reveste-se de metáforas. O desfecho da personagem do crítico é uma alegoria à atitude psicológica de Shyamalan, que deseja ignorar e suprimir animicamente, comentários ordinários de pseudo-críticos que escrevem: «…watching the movie feels a bit like walking in your roommate, while he's masturbating to a picture of himself…». A certa altura o crítico chega a salvar a vida de alguém no filme, mas a atitude final do cineasta revela compreensivelmente que: quem não se sente, não é filho de boa gente.

M. Night Shyamalan é um cineasta com desígnios claros. É um autor que arrisca tudo em prol dos seus ensaios conceptuais. Apesar de sentir na pele o ódio da crítica, não se refugia na compilação de fórmulas exaustivamente lavradas e cria magia numa era de cinismo céptico. As suas imagens nascem da melancolia hodierna, de um pesar pela descrença ecuménica no poder da Imagem. Todavia, ele persiste em reavivar o estatuto divino da Imagem. Tudo gravita em torno da apreensão da verdadeira natureza existencial (“The Sixth Sense”), da auto-descoberta dos poderes que se alojam no nosso âmago (“Unbreakable”), da fé (“Signs”) e do medo de perdermos aqueles que amamos (“The Village”). Mais do que uma procissão de fé pela humanidade, “Lady in the Water” é uma oração de amor pelas suas duas filhas: atentem na existência de planos da Ninfa deparando-se com o seu reflexo, gerando no mesmo fotograma duas criaturas. E se recordarem o fabuloso teaser poster, apreciem a existência de quatro pegadas, como se Shyamalan aludisse ao estatuto de Ninfas que emprega nas suas duas filhas. Repito: que ser arrogante intenta denegrir de forma tão vil, este incomensurável amor paterno?



Em “The Village”, Lucius Hunt acaba revelando algo crucial sobre o Cinema de Shyamalan: «Há segredos em todas as esquinas desta vila. Não o sentes? Não o vês?». Seus filmes lêem-se nas entrelinhas de superfícies que aparentam simplicidade. Ele esquadrinha como poucos o elemento fantástico, desconstruindo-o como algo aparentemente incorpóreo (como a besta que se confunde com o jardim), contextualizando-o em ambiências trivialmente realísticas e revelando o inexprimível no perceptível. Shyamalan corta muito pouco, apoiando-se convictamente na proficiência do plano enquadrado com precisão e continuando com mestria o seu estudo do medo, apresentando uma cena de antologia na qual explora a profundidade de campo como força dramática. É igualmente impressionante a forma como Shyamalan nos coloca a pensar nas cores, tal é a relevância que lhes concede. Em “Lady in the Water”, a cor mais simbólica do realizador (vermelho) volta a marcar presença nos olhos da besta, pressagiando morte, como o havia feito em “The Village” (a cor proibida), em “Signs” (a carrinha da personagem de Shyamalan), em “Unbreakable” (na indumentária do psicopata que mata os pais de duas crianças) e de forma elevada ao expoente em “The Sixth Sense”: desde os muros que seguem a apresentação da personagem de Haley Joel Osment até à porta (também encarnada) da Igreja; passando pelo balão encarnado que sobe entre a espiral da escadaria encarnada; pela sua tenda peculiar; pela cor do vestido da esposa do psicólogo (Willis) aquando do jantar de aniversário; e culminando na cor da maçaneta da porta interdita à personagem de Willis.

James Newton Howard (eterno colaborador de Shyamalan) compõe novamente uma partitura arrepiante, embargando emocionalmente o ser menos sensível e a fotografia de Christopher Doyle volta a asseverar o seu magno estatuto, acrescentando qualidade mística através do seu enquadramento surreal. Ninguém apreende a qualidade da luz como Doyle e a forma como consegue escavar níveis subconscientes através de um “simples” plano é indescritível. A imagem final é a Magnum Opus, representando o plano mais arrebatador da memória recente. Ela cobriu os meus olhos com uma cortina de lágrimas, tal como a perspectiva reproduzida por Shyamalan e Doyle. Desde “Unbreakable”, a água passou a marcar um papel proeminente no Cinema de Shyamalan, utilizada como símbolo de purificação e poder sagrado. Tal como em “Unbreakable”, “Signs” e “The Village” (Ivy tem de seguir o som do riacho para se guiar no bosque) a água volta a ser crucial. O Baptismo é um ritual de imersão que, simbolicamente, representa o nascimento de um indivíduo renovado. As personagens deste filme passam alegoricamente por este processo e o espectador que conseguir ver e sentir os segredos de “Lady in the Water”, também. O filme conclui de forma assombrosamente bela, como se a água do baptismo nos toldasse a visão, enquanto a alma é transportada em ascensão.

31 Comments:

Blogger RPM said...

Camarada Amigo!

Muito bem esta tua explicação sobre o filme, Lady in the water....

Muito esclarecedor, melhor, demasiadamente esclarecedora a tua crítica e reveladora de que te «apaixonaste» pelo filme.....também quero ir ver. depois direi-te-ei a minha opinião....

e por estarmos num ambiente de água, na praia, hoje, às 7.30 da manhã, não estava nenhuma senhora...apenas a água do mar quentinha, calma, o sol a tentar sair do leste, o meu círo (labrador retriver) a acompanhar-me no mar....e o silêncio da cidade que acorda...que maravilha. Tens que trazaer a tua DAMA para este lugar e passar um dia Zen...e fazerem o que eu fiz.....uma banhoca matinal...

Feliz sejas e sejam...

Um abraço de alegria e amizade

RPM

10:48 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Isso é o melhor despertar que se pode ambicionar: um raiar matinal com a Ninfa baptizando-me nas suas águas.

Que tenhas um óptimo fim-de-semana Zen.

Enorme abraço caro amigo Rui!

11:12 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Como qualquer obra deste autor, este "Lady in the Water" demanda revisionamentos. A personagem do crítico é muito mais do que uma "resposta pessoal"... aconselho-te (por exemplo) a leitura da crítica do João Lopes.

Shyamalan é mesmo assim... está sempre um passo à frente dos demais. Como já escrevi por diversas vezes, este será um autor amplamente dissecado e contemplado no futuro. A sua obra contém múltiplas camadas a serem descobertas. Basta eliminar o ócio analítico e libertar o coração.

11:58 da manhã  
Blogger Miguel Galrinho said...

Só tenho uma coisa a dizer:

Concordo em absoluto.

OBRA-PRIMA!

3:07 da tarde  
Blogger Hugo said...

Pese embora pedir revisionamentos, acho que não é nenhuma obra-prima. É um retrocesso enquanto filme e, simultaneamente, um progresso na afirmação enquanto auteur .

Se é verdade que só vejo méritos num cenário wellesiano, há outros: fabular sobre a actualidade que nos envolve. Daí que seja um filme lucidamente triste.

A alguém capaz de recriar aquele mapa mundo exige-se mais, sobretudo ao nível dos movimentos de câmara. Estão ali alguns planos à la dogme (aquela handy cam...) que me tiram do sério...mas isto já é uma mania minha.

11:21 da tarde  
Blogger Lauro António said...

Meu caro, adorei o ilme e a tua crónica é excelente. Um abraço. LA

12:23 da manhã  
Blogger André Carita said...

por muito mal que digam do filme, basta vir ao teu blog para ficar completamente convencido com a tua argumentação. Crítica arrebatadora, mais uma para não fugir à regra da "casa" :)
Ainda não vi este último do Shyamalan, mas confesso que gostei mais do 6º Sentido que A Vila, apesar de achar que são filmes completamente diferentes sendo dificil de os comparar...

Um abraço Francisco!

1:35 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

já vi q gostaste imenso do filme. eu achei a premissa interessante, os actores fabulosos, o ambiente bom e a trama relativamente bem contada, mas a história é um bocado superficial demais na minha opinião, não é tão profunda como eu gostava que fosse. espero q continue a contar boas histórias e esteja a lixar-se para os críticos, ahhh-... mas isso já a gente viu lol :)

1:53 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Miguel Galrinho: Sem dúvida. É daqueles que se impregna e sobrevive bem depois dos créditos finais terem abandonado a tela.

Hugo Alves: Experimenta vê-lo daqui por uns tempos e experimenta in loco a evolução patente num revisionamento de Shyamalan. Quanto à opinião da câmara discordo, mas como dizes, não passam de gostos pessoais. Ninguém manipula a fotografia como Doyle e a sua qualidade em captar o místico no concreto, o indizível no visível apoiou a firme evolução de Shyamalan enquanto autor e contador de histórias. O sobrenatural depende da relação com a realidade, existe em de certa forma em contraste. A fantasia brota de um universo auto-suficiente e paralelo, gerando uma realidade alternativa. O sobrenatural gera cepticismo, enquanto a autenticidade da fantasia é geralmente indubitável. "Lady in the Water" não é uma mera reviravolta no trilho palmilhado por Shyamalan, é uma amálgama singular que gera definitivamente um cunho distinto na história da Sétima Arte.

Só mais um apontamento. A sua marca no ensaio sobre o medo continua impressionante. O aproveitamento da profundidade de câmara para estremecer o espectador ao invés de cortes abruptos é deveras impressionante. E se o melhor plano dos últimos tempos é representado pela sumptuosa imagem final, convém não olvidar que uma das excelsas cenas modernas lhe pertence. Em "The Village", a transformação de um ambiente de tensão insuportável, num momento de amor inefável com uma "simples" união de mãos entre Lucious e Ivy.

Mas a Arte é isto: supra-pessoal.

Cumprimentos Hugo!

10:11 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Lauro António: Muito obrigado pela visita e respectivo comentário, caro Lauro. É realmente um filme belíssimo.

Abraço!

André Carita: Experimenta ver novamente "The Village" e depois lê uma das muitas teses sobre o mesmo, espalhadas pela Internet. Os filmes de Shyamalan representam um todo, apesar de poderem perfeitamente subsistir sozinhos. Aconselho-te vivamente este!

Abraço!

membio: Sob a superfície simplista, alojam-se múltiplas camadas temáticas. Mas acima de tudo, esta é uma oração de amor pelas suas duas filhas.

10:18 da manhã  
Blogger MPB said...

Não sei se é um grande filme, mas tenho a certeza que não é um filme para bola preta.

Sei que é um filme que se estende para além de uma sala de cinema, é daqueles que simplesmente cravam em nós qualquer coisa. Odio, Adoração, isso parte do que cada um quiser ver.

OBRA PRIMA, será, não hoje, mas daqui a muitos anos, quando a América não aguentar mais um mestre e um autor como Shyamalan.

cumprimentos

6:50 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Não necessito da América, dos críticos mundiais ou de outra pessoa qualquer, para avaliar e sentir uma obra.

Obra-Prima! Clamo ponderado e apaixonadamente hoje e agora. Incontornável para mim e (certamente) para uns quantos.

Mas claro está: Este epíteto não extravasa a pataforma individual. A Arte não implica um movimento consensual. Repito: a Arte é Supra-Pessoal.

Nesse sentido a minha consideração é una: Obra-Prima!

Cumprimentos.

8:36 da tarde  
Blogger Pedro Serra said...

Que hei-de fazer? Vi o mesmo filme e tenho uma opinião diferente... O mundo criado por Shyamalan não me convenceu completamente. O filme tem os seus momentos fortes e comoventes, mas também outros que parecem forçados. Sem ser mau, é o mais fraco filme de Shyamalan que vi.

9:07 da tarde  
Blogger bateman said...

COnfesso que nao fui grande aperciador do filme, mas confesso tb que a tua critica e apaixonante...

Abraço
BAteman

www.batemanscritics.blogspot.com

2:40 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Pedro: É perfeitamente natural existirem opiniões divergentes sobre uma película. Respeito-as tanto como as positivas, desde que utilizem argumentações dignas, como é o teu caso.

Bateman: Muito obrigado pelas palavras e pela visita.

Abraço!

11:09 da manhã  
Blogger Sérgio Lopes said...

Mais uma crítica absolutamente arrebatadora francisco, em que focas os pontos essenciais e deambulas sobre um filme com imensas camadas.

E posso-te dizer que sou do grupo de pessoas que gostou do filme (tal como todos os anteriores de Shyamalan).

Quando a crítica a lady in the water estiver on-line no cine7 (já devia estar desde 2ª feira), gostaria de contar com a tua opinião.

Cumprimentos

8:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Magnífica e exultante opinião! Nota-se perfeitamente que a suprema opus de Shyamalan inspira os mais nobres sentimentos pela forma apaixonada como vejo várias pessoas dissertarem sobre a mesma.

Para mim, que o vi numa óptima sessão no Beloura Shopping apenas com meia dúzia de outros cinéfilos que nem sequer sacrilegiaram o visionamento com as sempre terríveis pipocas e os ignóbeis sorvos de refrigerante, foi a melhor experiência cinemática deste ano. Ia com bastantes reservas e baixas expectativas, tanto mais que o anterior filme dele me tinha deixado de todo indiferente eo trailer deste não estava ao meu contento. E mais uma vez se provou que quando avanço para um filme em baixa de expectativa acabo sempre agradavelmente surpreendido. Mais do que agradavelmente surpreendido este filme é um arrebatamento dos sentidos que me elevou durante e após o seu visionamento para lugares mágicos onde apenas os mais eleitos tocam. Atrevo-me a dizer que este é o nosso Feiticeiro de Oz do século XXI.

8:03 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Sérgio: Muito obrigado pelas palavras.
Quanto à leitura da tua crítica, obviamente podes contar com ela.

Cumprimentos.

Thanatos: Concordo com a tua observação (nomeadamente a referência a Oz), acrescentando o seguinte: o elemento fascinante deste universo lavrado por Shyamalan reside no facto de ficarmos na fronteira do mesmo. A visita da Ninfa agracia tudo em redor. Baptiza a atmosfera circundante (e consequentemente o espectador mais imerso) e no final apodera-se do nosso espírito uma profunda melancolia pela partida. Assombroso... maravilhoso!

10:34 da tarde  
Blogger Pedro_Ginja said...

Que mais a dizer de Shyamalan?

Muito e nada.

Não existem palavras que possam representar o que ele significa para o cinema actual. Um "outsider" que começou no comercial e que aos poucos começa a mostrar quem é e o que quer mostrar ao mundo.

Mais um filme belíssimo (já ninguém filma assim, a não ser Pt Anderson) e original.

Os críticos dizem que é confuso e nada se percebe.
Para mim basta estar atento ao filme e aberto a um mundo criado totalmente da imaginação de outra pessoa.
É voltar a ser criança novamente.
E por isso muito obrigado Senhor Shyamalan. Ainda consigo ser criança.

Cada vez mais um autor de culto e não de massas.
Eu sou um dos fãs Francisco, assim como tu, pelos vistos

Abraço.

Ps: Só dispensava a cena da morte do crítico e o diálogo que ele tem antes acerca dos clichés do horror. Não gostei mas não mancha mais um grande filme.
Continuo a preferir "A Vila" mas isso é por ser um eterno romântico.

3:44 da tarde  
Blogger Pedro_Ginja said...

Esqueci-me de dizer outra coisa muito importante no cinema de Shyamalan.

Não se refugiar sempre no mesmo director de fotografia.
Esse modo de estar no cinema tem lhe permitido criar filmes com imagéticas totalmente diferente e apelativas.

Até já trabalhou com o director de fotografia (que peço desculpa a todos não me lembro do nome) português nomeado duas vezes aos Óscares no "Unbreakable".

Não cria uma família, e um look bastante idêntico em todos os filmes, sempre com a mesma equipa mas tentar variar na maneira de filmar.
É um visionário e digo que daqui a uns 20 anos terá tudo o que merece quando toda a gente acordar no mundo.

Ou quem sabe já só chegue o prémio de carreira como para o Hitchcock. E agora toda a gente sabe quem é não é????

Abraço e grande crítica (quase genial), só possível para um grande filme.

3:52 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Aludes ao nosso genial Eduardo Serra. Shyamalan repetiu a utilização de Fujimoto ("The Sixth Sense" e "Signs"), mas tecnicamente não deixa nada ao desbarato. Deakins esteve brilhante no "The Village", mas Doyle é pura e simplesmente o melhor (na minha humilde opinião).

Abraço!

4:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"Só dispensava a cena da morte do crítico e o diálogo que ele tem antes acerca dos clichés do horror."

Já eu adorei a fina ironia desta cena precisamente porque momentos antes o enfadado crítico dizia que tinha vindo dum filme enfadonho onde as personagens recitavam em voz alta os seus pensamentos (e note-se a extraordinária simetria do comentário de Cleveland Heep ao porquê das personagens de filmes dialogarem à chuva com o assombroso final). São apontamentos destes que denotam que Shyamalan também conserva um humor muito especial e refinado, quiçá não ao alcance do mais desatento.

8:35 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Plenamente de acordo. Adorei o episódio do crítico. Tudo se encontra perfeitamente cosido na magistral tapeçaria. Não apenas nos meandros deste filme, como na globalidade da obra delineada por Shyamalan. São estas as delícias do seu Cinema: particularidades requintadas que propulsionam a experiência do revisionamento.

8:43 da tarde  
Blogger Pedro_Ginja said...

Sim, um sentido de humor bastante negro.

Mas o meu problema não foi estar desatento ou não apreciar o sentido de humor.
O que me desiludiu foi ser uma cena, ao contrário do que tu Thanatos dizes, totalmente desanquadrada do filme. Já tinha sido estabelecido que o crítico era uma personagem detestável, sem imaginação e contaminada pela constante visualização de filmes atrás de filmes, de qualidade duvidosa ou inexistente.
E para quem vê muitos filmes sabe que isso contamina toda a gente, eu incluído.
Já muitas vezes dou por mim no cinema a tentar adivinhar o que se vai passar e a maior parte das vezes adivinho.

Nessa cena em particular, o desfecho era inevitável e previsível. E essa cena por ser tão previsível era (principalmente após ele dizer que não morreria), para mim, facilmente cortada, sem o filme perder qualquer qualidade.

E apesar de me considerar um adepto do humor negro não achei piada por aí além. Não passou de uma vingança (compreensível é um facto) de Shyamalan para com a crítica americana, e de uma maneira de cimentar o seu poder no resto do Mundo. Uma piada à custa dos americanos é sempre bemvinda por cá.
E sem dúvida, essa cena não se enquadra na história a contar, que como todos viram era uma história de criança. Uma fábula infantil. Certo?

Se fosse possível entrevistá-lo, essa seria a minha pergunta. Porquê essa cena?
A resposta essa eu adivinho de certeza. Hehehe. "Não Comento".

Ps: E aquele ínicio, com aqueles desenhos e animações rudimentares. Não vos sentiram de novo crianças a desenhar no caderno da escola primária?
Eu pelo menos, sim.
Perfeito.

11:29 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Eu achei a cena perfeitamente enquadrada. Todos os ingredientes se encontram bem incorporados.

Quanto aos desenhos iniciais, é realmente fabuloso o assentar de um ambiente de fantasia bem antes do aparecimento de qualquer imagem real. Animação ao estilo pinturas das cavernas... perfeito, sem dúvida!

11:37 da manhã  
Blogger Monsieur Le Marquis said...

Enquanto elaboração teórica, a análise sobre o filme é, de facto, excelente. E se o filme correspondesse a ela, então teríamos motivos para rejubilar. Infelizmente, o que Shyamalan produziu foi apenas uma coisa chocha e desconchavada, um arremedo pífio de fantasia que bastas vezes aflora o aborrecimento (o que é, como se sabe, fatal...). Este é um filme que deixa um travo amargo de frustração e permite aquela pergunta assassina: o que poderia ter sido este filme nas mãos de...? O que é uma pena, porque Paul Giamatti é um grande actor e merecia melhor. E como seria bom se a toda a teoria correspondesse uma materialização do mesmo nível. Assim, que a Senhora volte para a água e espere por melhores dias.

3:00 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Na contemplação artística não existem verdades universais, como tal, é absolutamente natural a divergência de opiniões. O que não significa que uma das partes deixe de ter razão no que diz, percepciona e sente.

3:09 da tarde  
Blogger CP said...

Antes de mais confesso que não sou um cinéfilo de primeira água. Ao dizer isto deve-se entender que sou um tipo que gosta de ir ao cinema em primeiro lugar para se distrair do mundo e, só não digo o típico "para não pensar" porque sei que inevitavelmente o irei fazer antes, durante e após a sessão. Gosto de filmes tipicamente americanos, filmes que se podem chamar de fáceis. Tive a minha dose de filmes ditos "Europeus", cheios de "philosophical-babble" ou simplesmente "bullshit" e rapidamente fiquei farto de assistir a tanta pseudo-filosofia-que-tenta-ser-filme. COnsidero no entanto que há grandiosas obras em pelicula que pertecem ao chamado "cinema-europeu". No entanto...

Fui ver o filme depois de ter lido as vossas críticas. Não o fiz antes porque achava que me iria desiludir tal como aconteceu em todos os filmes pós-Sexto Sentido. Infelizmente saí da sala com a certeza de que tinha razão.

Sem dúvida que muita coisa se pode extrapolar de um filme, muitas teorias podem ser construidas, muita coisa pode ser vista ou sentida retirando matéria do que se viu - dou aqui como exemplo The Matrix e em especial o MatriX 2(sim tem muita porrada mas dos 3 é o que contem material suficiente como para escrever uma tese de doutoramento em diversos autores da filosofia quer ocidental quer oriental).

Gostei e gosto francamente mais de vos ler e de ver o filme pelas vossas críticas e análises do que aquilo que me foi dado a ver na sala de cinema. O ambiente foi dos melhores, sala vazia, sem pipocas, sem refrigerantes...mas nem assim!
Foi dito num dos comentários algo interessante e que tenho vindo a constatar cada vez mais: realmente e provavelmente infelizmente não consigo entrar numa sala de cinema sem levar todos os filmes, séries, livros, jogos que já experienciei até então. Se o conseguisse fazer Lady in the Water seria uma obra-prima. Infelizmente e tal como aconteceu nos filmes precedentes, em especial no vosso tão adorado "A Vila", o filme é simplesmente demasiado previsível. Gosto quando um filme me consegue transportar até si. Não gostei deste porque rapidamente deixou de haver motivo para continuar naquele mundo onde todas as acções seguem um guião que me pareceu demasiado obvio.
O que o Sexto - Sentido conseguiu fazer, agarrar-me, prender-me numa trama e ainda por cima, surpreender-me no final, nenhum outro de Shyamalan conseguiu fazer. Honestamente vou perdendo a fé.

Quanto à fotografia concordo plenamente, simplesmente soberba.

1:31 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Aceito e compreendo perfeitamente a tua opinião. É um filme que divide opiniões. Shyamalan sempre foi assim recebido, mesmo com o seu filme-estigma, "The Sixth Sense". É esta a beleza da Arte, tocar-nos individualmente.

9:34 da manhã  
Blogger Cataclismo Cerebral said...

Confesso que ainda não vi este Lady In The Water, mas fascina-me o facto de estar incluído naquele conjunto de filmes que se amam ou se odeiam. Tenho particular estima por obras malditas, que dividem opiniões de formas extremas. Quando referes a cor vermelha nos filmes de Shyamalan, concretamente no Sexto Sentido, creio que te esqueceste de um segmento poderoso e simbólico: a madrasta de fato vermelho (com baton carregado), no funeral da personagem da Mischa Barton, a fingir um sofrimento que não sente de todo. Acho que foi nessa cena que me apercebi completamente do significado dessa cor para o realizador.

Abraço

9:46 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Shyamalan é um autor que, até este filme, nunca se desviou dos seus propósitos temáticos. E isto é algo de louvar, quando nos apercebemos da quantidade de raios e coriscos lançados pela crítica na sua direcção.

Abraço!

8:24 da manhã  

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