O meu actor de eleição
Daniel Day-Lewis em “My Left Foot”
Finalmente, consegui visionar “My Left Foot” de Jim Sheridan, o único filme que me faltava ver de Daniel Day-Lewis. Existe um extenso rol de representantes da Arte Interpretativa que me fascinam e bem sei que a minha escolha se distancia das selecções da praxe, mas as composições deste actor comovem-me de forma absolutamente ímpar. Fico perplexo com a sua capacidade de transfiguração, com a aproximação cerebral e emotiva, com o seu raio de intensidade, com a rendição a uma psicologia distinta da sua, com a excelência das pronúncias, com os tiques etários, com o mimetismo facial, com a tensão de um olhar irrepetível que baila emoções, com as lágrimas desoladas de um baque penoso, com o sorriso espirituoso que afaga conflitos internos, com o ritmo do silêncio. Daniel Day-Lewis envolve-se nos papéis de forma assustadora, mergulhando tão profundamente nas personagens que as equipas de filmagem chegam a duvidar do seu regresso à “normalidade”. As histórias que mencionam as suas completas imersões são inúmeras e lendárias, desde a insistência em permanecer numa cadeira de rodas entre os takes de “My Left Foot”, a solicitar ser alimentado na boca durante o intervalo das refeições do filme que lhe valeu um Oscar. Neste filme, Day-Lewis interpreta Christy Brown, um génio que nasceu aprisionado num corpo horrivelmente limitado pela paralisia cerebral. O seu famoso pé esquerdo era a única parte do corpo que conseguia controlar. É com ele que salva a sua mãe, pinta, escreve, tropeça um oponente numa briga e tenta cometer suicídio. A interpretação de Daniel Day-Lewis é simplesmente assombrosa e duvido que alguém a consiga esquecer, depois de contemplar os constrangimentos de um corpo contorcido e o poder debilitado da sua fala. Ele não ilumina personagens. Ele dá-lhes vida. Ele imortaliza-as. Algo que sobressai na pós-reflexão das abordagens exaustivamente emocionais que leva a cabo é a subtil e metódica criação de um número suficiente de vazios, para que o espectador os possa preencher com a sua própria criatividade ficcional. No fundo, trata-se do derradeiro lampejo de lucidez artística. Aquele que assegura a imortalidade de uma personagem e de um filme, entregando a obra ao espectador vigilante.
P.S.: Convém sempre relembrar que Daniel Day-Lewis voltará em breve ao Grande Ecrã, no muito aguardado filme de Paul Thomas Anderson, “There Will Be Blood”.
P.S.: Convém sempre relembrar que Daniel Day-Lewis voltará em breve ao Grande Ecrã, no muito aguardado filme de Paul Thomas Anderson, “There Will Be Blood”.
17 Comments:
Actor com maiúscula! Grande Day Lewis. Vi este filme há muitos anos, foi dos primeiros que vi com ele e impressionou-me imenso, talvez como nenhum outro dos que vira e vi depois. É uma entrega total... arrepiante.
Dos seus últimos trabalhos recomendo o belíssimo "The Ballad of Jack and Rose".
Conheço pouco trabalho dele, mas a grandez de Gangs of New York deve-se a ele, pelo menos em grande parte. Ou terei a fazer confusão. Apesar de gostar muito de cinema, não é um dos meus pontos-forte....percebo um pouco mais de música, embora tanto numa como noutra ainda tenho muito a aprender.
Francisco para além do dune gostaria que fizésses a crítica ao 1900 de Bernardo Bertollucci. Um filme de que tive conhecimento há pouco tempo, mas parece ser um marco do cinema moderno. E o Bom o Mau e o Vilão era também um clássico a analisar.A bertura de Ecstasy of Gold nos concertos dos Metallica é qualquer coisa de anormal.
É um óptimo actor que vai aos limites para compôr personagens. Além disso faz filmes muito bons :)
Abraço
Não é o meu actor de eleição, mas reconheço que é excelente.
Porque diferente.
Os seus papéis retratam sempre personalidades fortes, homens decididos, sem medo, desafiadores.
Cada um dos seus filmes merece ser visto e revisto, para melhor apreciar o detalhe, a arte de representação.
Sem dúvida uma interpretação assombrosa como dizes em "my left foot" e sim ele é de facto um dos grandes actores do mundo, estou ansioso para ver o seu trabalho com Paul Thomas Anderson.
Abraço
Helena: Esse foi mesmo o seu último trabalho. Um filme que passou ao lado de muita gente... infelizmente. Ele costuma fazer poucos filmes e vários interregnos, tal é a melancolia que se apodera de si quando termina a rodagem de um filme. A abordagem é tão exaustiva que sente um enorme vazio quando abandona a personagem.
Refugee: Curiosamente, os filmes para os quais solicitas meus comentários são bastante estimados por mim. Quem sabe um dia destes teça algumas linhas sobre os mesmos.
Cataclismo Cerebral: Adoro todos os filmes nos quais participou até hoje. Impressionante!
Abraço!
José Quintela Soares: É o exemplo-mor da paixão que alguns empregam na Arte Interpretativa.
looT: Que regressos: P.T. Anderson e Daniel Day-Lewis. A espera torna-se quase insuportável.
Abraço!
Não vou acrescetar muito mais ao que foi dito, até porque não conheço a fundo a filmografia do Daniel Day-Lewis, mas gostei de o ver em "A idade da inocência" e em breve quero alugar "A balada de Jack e Rose", que me tem sido recomendado.
E sim, a dupla Paul Thomas Snderson & Daniel Day-Lewis é promissora :)
E que dizer dos seus desempenhos em "In the Name of the Father", "The Boxer", "A Room with a View", "My Beautiful Laundrette", "The Last of the Mohicans"... enfim...
Sublime!!
onas0687É um grande actor sem dúvida. Lamentavelmente faz poucos filmes, mas também é se calhar por esse motivo que onde entra o faz de forma tão arrebatadora. Infelizmente vi poucos filmes com ele, Gangs of New York e Bruxas de Salém.
Quando tiveres oportunidade, descobre-o noutras personagens. Não te arrependerás do tempo dispensado.
É um dos meus actores favoritos, sem dúvida, e a minha admiração começou há alguns anos, com este filme, precisamente!! O último grande filme que vi com ele foi "ballad of Jack and Rose", e a sua interpretação é igualmente assombrosa!!
Versátil, apaixonado, brilhante!
Ele é realmente um actor de "mão cheia", tem aquela qualquer coisa, que tem a ver com o facto de ser europeu, que realmente o distingue.
Gostei especialmento do Quarto com vista..., dos Gangs e da Idade da Inocência (sou uma Scorcesedependente...). Curiosamente o filme de q falas, foi dos q menos gostei, e n falo do DDL, que está soberbo, mas do filme que no final é, na minha opinião muito focado e "espremido" nisso mesmo.
Eu se tivessse q escolher, ainda hoje apontaria sem exitar para o De Niro, muito por culpa do Touro Enraivecido e do belissimo Era Uma Vez na América.
Aliás gostava de saber a tua opinião sobre este último.
É uma obra suprema, a derradeira de um dos meus realizadores de eleição... o magno Sergio Leone. Revê-lo é sempre uma experiência fascinante, que nos faz crescer enquanto cinéfilos. Dizem que ele tinha no olho da mente cada movimento de seus filmes e quando se vê o cuidado na definição do enquadramento de suas composições não poderemos deixar de concordar. Leone retratou o lado negro do sonho americano, filtrado por olhos de ambição. É um filme riquíssimo texturalmente (sempre magnífica composição sonora de Ennio Morricone), preenchido com ressonâncias políticas, sociais e existencialistas.
Day Lewis é o maior ator da atualidade. Ter dois oscars é a prova de como a Academia premia muita coisa ruim, como já dizia Marlon Brando. Suas interpretações são geniais, My Left Foot é para mim uma aula de interpretação e para todos os atores. Parabens e obrigado Daniel, vç merece um Oscar por cada uma de suas interpretações.
Abraços.
«...merece um Oscar por cada uma de suas interpretações...»... Sem dúvida!!
Abraço!
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