Os mimados e os bastardos
Em “Planet Terror” de Robert Rodriguez pululam rostos deformados e mais atestados de bolhas que num jovem imberbe, em pleno estágio nos torvelinhos da adolescência. Que fique bem claro, o filme é um verdadeiro festim para os fãs de série B e Z, mas após alguns momentos de diversão, pouco ou nada sobra. A artificialidade com a qual Rodriguez celebra e recapitula este género de filmes é tão deliberada que se torna enfadonha, encolhendo o produto numa carapaça à prova de crítica, graças a um mecanismo de defesa descarado e insolente que assenta numa sobredosagem de auto-consciência irónica. Tudo fede em demasia a falsidade. Se o gore é levado ao extremo, a vertente libidinosa deste género foi manipulada com demasiada timidez, limitando-se ao terreno do erotismo mais softcore. Se Tarantino tinha imitado quase na perfeição a textura visual destes filmes, a deterioração da imagem do filme de Rodriguez resulta de forma digitalizadamente postiça. É certo que o objectivo do pacote “Grindhouse” não era recuperar um tipo de Cinema, mas reviver um tipo de ida ao Cinema. Todavia, se o valor desta tradição inserida no actual panorama cultural é nulo, os cifrões gastos no projecto fazem o produto tresandar a fraude. Qual a relevância desta obra? Será tudo um mero passatempo de filhotes mimados, que se recreiam com réplicas bem mais dispendiosas dos brinquedos rançosos dos filhos bastardos do Cinema?
12 Comments:
Tarantino - Kill Bill(s)
Rodriguez - Sin City
São os melhores pra mim de cada um.
tb acho que o projecto "grindhouse" foi um projecto falhado, acho que os realizadores poderiam ter aproveitado o material muito melhor e apresentado duas excelentes histórias, em vez disso, acho muito mediano...
A Dama da Água: Quanto ao melhor do Rodriguez, concordo. No que diz respeito a Tarantino... tenho uma profunda admiração por "Pulp Fiction".
Membio: De acordo, portanto.
Bom dia!
Ora aí está um comentário com o qual me identifico. Vi muito de "Evil Dead" e de "Braindead" neste "Planet Terror" e, mesmo assim, foi algo que nunca me convenceu pois está algures ali no limite do aborrecido, o que é agravado pela distorção demasiado deliberada do celulóide em partes fulcrais, tornando esta homenagem a um género em algo frustrante e gratificante a partes iguais...
Divertido a espaços, mas demasiado entediante...
Tal como disse quando estreou "Death Proof", todo o projecto é um vintage artificial.
Ainda assim, preferi o tento de Tarantino (talvez... ou sem o talvez... por o preferir como realizador) a este "Planet Terror". Primeiro porque este tipo de filmes (gore,etc) nunca me fascinou, segundo porque apesar de divertido, é previsível e exagerado.
Plenamente de acordo.
Claro que é um vintage artificial!E qual é o problema?Como se poderia fazer um vintage de pleno direito nos dias de hoje?
Eu aplaudo de pé o projecto "Grindhouse", quanto mais não seja por interessarem os jovens de hoje(lote no qual eu me incluo)nessa tão interessante parte da história do cinema.
E a coisa toda foi feita de maneira absolutamente divertida e genial.Era capaz de rever esta "double feature" vezes e vezes sem conta.
Ainda bem que gostaste... é sinal que aproveitaste bem melhor minutos que desperdicei na minha vida.
Acho que levaste a coisa demasiado a sério.
Se visses o filme descontraídamente e sem preconceitos, já não terias a mesma opinião.
Acho é um bocado estranho que, aparentemente, todos os leitores deste blog afinem pelo mesmo diapasão.
Eu trabalho num complexo de cinemas e já vi muita gente a sair do "death proof" ou do "planet terror" a abanarem a cabeça e bradando a quem os oiça, o quão maus os filmes são.Mas essas são claramente as mesmas pessoas que adoraram o "Saw" ou o "Velocidade Furiosa".
Esperava outra opinião de ti Francisco e dos leitores deste blog.
O anónimo era eu.Esqueci-me de assinar e peço desculpa.
Eu entendo tuas palavras, mas a contemplação artística é acima de tudo uma experiência pessoal e qualquer tipo de opinião é perfeitamente válida.
Mas caro João, que fique bem assente: nunca... mas nunca entrei numa sala de Cinema com preconceitos. E se existe palavra para descrever a forma como vejo este tipo de filmes, essa é: descontracção.
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