Em “Planet Terror” de Robert Rodriguez pululam rostos deformados e mais atestados de bolhas que num jovem imberbe, em pleno estágio nos torvelinhos da adolescência. Que fique bem claro, o filme é um verdadeiro festim para os fãs de série B e Z, mas após alguns momentos de diversão, pouco ou nada sobra. A artificialidade com a qual Rodriguez celebra e recapitula este género de filmes é tão deliberada que se torna enfadonha, encolhendo o produto numa carapaça à prova de crítica, graças a um mecanismo de defesa descarado e insolente que assenta numa sobredosagem de auto-consciência irónica. Tudo fede em demasia a falsidade. Se o gore é levado ao extremo, a vertente libidinosa deste género foi manipulada com demasiada timidez, limitando-se ao terreno do erotismo mais softcore. Se Tarantino tinha imitado quase na perfeição a textura visual destes filmes, a deterioração da imagem do filme de Rodriguez resulta de forma digitalizadamente postiça. É certo que o objectivo do pacote “Grindhouse” não era recuperar um tipo de Cinema, mas reviver um tipo de ida ao Cinema. Todavia, se o valor desta tradição inserida no actual panorama cultural é nulo, os cifrões gastos no projecto fazem o produto tresandar a fraude. Qual a relevância desta obra? Será tudo um mero passatempo de filhotes mimados, que se recreiam com réplicas bem mais dispendiosas dos brinquedos rançosos dos filhos bastardos do Cinema?
sábado, outubro 06, 2007
Os mimados e os bastardos
Em “Planet Terror” de Robert Rodriguez pululam rostos deformados e mais atestados de bolhas que num jovem imberbe, em pleno estágio nos torvelinhos da adolescência. Que fique bem claro, o filme é um verdadeiro festim para os fãs de série B e Z, mas após alguns momentos de diversão, pouco ou nada sobra. A artificialidade com a qual Rodriguez celebra e recapitula este género de filmes é tão deliberada que se torna enfadonha, encolhendo o produto numa carapaça à prova de crítica, graças a um mecanismo de defesa descarado e insolente que assenta numa sobredosagem de auto-consciência irónica. Tudo fede em demasia a falsidade. Se o gore é levado ao extremo, a vertente libidinosa deste género foi manipulada com demasiada timidez, limitando-se ao terreno do erotismo mais softcore. Se Tarantino tinha imitado quase na perfeição a textura visual destes filmes, a deterioração da imagem do filme de Rodriguez resulta de forma digitalizadamente postiça. É certo que o objectivo do pacote “Grindhouse” não era recuperar um tipo de Cinema, mas reviver um tipo de ida ao Cinema. Todavia, se o valor desta tradição inserida no actual panorama cultural é nulo, os cifrões gastos no projecto fazem o produto tresandar a fraude. Qual a relevância desta obra? Será tudo um mero passatempo de filhotes mimados, que se recreiam com réplicas bem mais dispendiosas dos brinquedos rançosos dos filhos bastardos do Cinema?
Tarantino - Kill Bill(s)
ResponderEliminarRodriguez - Sin City
São os melhores pra mim de cada um.
tb acho que o projecto "grindhouse" foi um projecto falhado, acho que os realizadores poderiam ter aproveitado o material muito melhor e apresentado duas excelentes histórias, em vez disso, acho muito mediano...
ResponderEliminarA Dama da Água: Quanto ao melhor do Rodriguez, concordo. No que diz respeito a Tarantino... tenho uma profunda admiração por "Pulp Fiction".
ResponderEliminarMembio: De acordo, portanto.
Bom dia!
ResponderEliminarOra aí está um comentário com o qual me identifico. Vi muito de "Evil Dead" e de "Braindead" neste "Planet Terror" e, mesmo assim, foi algo que nunca me convenceu pois está algures ali no limite do aborrecido, o que é agravado pela distorção demasiado deliberada do celulóide em partes fulcrais, tornando esta homenagem a um género em algo frustrante e gratificante a partes iguais...
Divertido a espaços, mas demasiado entediante...
ResponderEliminarTal como disse quando estreou "Death Proof", todo o projecto é um vintage artificial.
ResponderEliminarAinda assim, preferi o tento de Tarantino (talvez... ou sem o talvez... por o preferir como realizador) a este "Planet Terror". Primeiro porque este tipo de filmes (gore,etc) nunca me fascinou, segundo porque apesar de divertido, é previsível e exagerado.
Plenamente de acordo.
ResponderEliminarClaro que é um vintage artificial!E qual é o problema?Como se poderia fazer um vintage de pleno direito nos dias de hoje?
ResponderEliminarEu aplaudo de pé o projecto "Grindhouse", quanto mais não seja por interessarem os jovens de hoje(lote no qual eu me incluo)nessa tão interessante parte da história do cinema.
E a coisa toda foi feita de maneira absolutamente divertida e genial.Era capaz de rever esta "double feature" vezes e vezes sem conta.
Ainda bem que gostaste... é sinal que aproveitaste bem melhor minutos que desperdicei na minha vida.
ResponderEliminarAcho que levaste a coisa demasiado a sério.
ResponderEliminarSe visses o filme descontraídamente e sem preconceitos, já não terias a mesma opinião.
Acho é um bocado estranho que, aparentemente, todos os leitores deste blog afinem pelo mesmo diapasão.
Eu trabalho num complexo de cinemas e já vi muita gente a sair do "death proof" ou do "planet terror" a abanarem a cabeça e bradando a quem os oiça, o quão maus os filmes são.Mas essas são claramente as mesmas pessoas que adoraram o "Saw" ou o "Velocidade Furiosa".
Esperava outra opinião de ti Francisco e dos leitores deste blog.
O anónimo era eu.Esqueci-me de assinar e peço desculpa.
ResponderEliminarEu entendo tuas palavras, mas a contemplação artística é acima de tudo uma experiência pessoal e qualquer tipo de opinião é perfeitamente válida.
ResponderEliminarMas caro João, que fique bem assente: nunca... mas nunca entrei numa sala de Cinema com preconceitos. E se existe palavra para descrever a forma como vejo este tipo de filmes, essa é: descontracção.