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“Paprika” representa mais um fascinante tratado visual de Satoshi Kon sobre as conexões entre a Memória e a Identidade. Ambientado num futuro próximo, Kon apresenta-nos uma máquina de psicoterapia experimental que permite interferir nos sonhos e sanar problemas psíquicos, substituindo o relato oral pela intervenção directa do psicanalista. Quando a máquina é roubada por «terroristas de sonhos», uma perseguição frenética é despoletada, pois o que está em risco é a própria realidade. Num universo onde as regras se tornam voláteis, a linha que separa o real do onírico torna-se praticamente imperceptível. E é neste território recorrente que Satoshi Kon volta a desafiar a sua audiência. Ele é um batedor do subconsciente, das respectivas urgências e ânsias que regem por vezes o nosso quotidiano. Como animador, Kon compila os traços da vida real mais atentamente que muitos realizadores. Cada movimento, cada pedaço de lixo, cada agitação no vento, cada pestanejar é condensado sob elevada pressão, mas com uma fluidez perfeitamente adequada para deambular através de sonhos, tempo, fantasia e níveis da consciência. As permutas entre realidade e fantasia são fantasmagoricamente sublimes, reguladas pelas ilógicas peculiaridades que convertem abruptamente sonhos em pesadelos. Serão os sonhos fotografias do inconsciente que reflectem visões do que o espírito deseja? Existem inúmeras teorias sobre os maquinismos psicológicos e sobre as reacções sensoriais, mas a essência da nossa Humanidade permanece bem oculta no nosso âmago. É um território sagrado, o derradeiro refúgio que a ciência ainda não conseguiu enclausurar numa base de dados. Satoshi Kon desafia explorações na sua plateia, incita-a a testar novos conceitos, a esquadrinhar e reflectir sobre os territórios palpáveis e quiméricos que moldam a sua aura. Apesar do frenesim que se apodera da maioria dos momentos, “Paprika” não deixa de verter uma lágrima de nostalgia e remorso. Porque numa sociedade contemporânea que avança com descobertas tecnológicas que brotam como cogumelos, fica melancolicamente claro que se deixou algo enterrado para trás.
hum, parece muito interessante. não só pela tua discrição como pela imagem que acompanha o texto...:)
ResponderEliminarKon é unico e exímio na sua arte. Ninguém o iguala. É pena que não se saiba nada sobre a estreia nacional de PAPRIKA (apenas integrou o Festival de Animação de Lisboa deste ano). Já lancei o peditório em variados blogs/sites relaccionados com anime/cinema nipónico/asíatico, mas enfim nda feito. msm assim, não deixo de perder a minha alta curiosidade pelo visionamento. Talvez a melhor obra de Kon, talvez.
ResponderEliminarCurse: É um filme soberbo.
ResponderEliminarMiguel: Também esteve presente no Fantas. Mas para o rever neste país, só mesmo importando o DVD.
já tive a oportunidade de ver e é uma viagem do caraças :)
ResponderEliminarAgora fiquei com muita vontade de ver!!! não é justo!!! =))
ResponderEliminarAdoro animação japonesa... E já há algum tempo que não vejo um bom filme destes. Ou série, para dizer a verdade! A falta de tempo e de fundos não ajuda nada!
Vi-o a semana passada. Fenomenal, delírio visual, fazendo o Alice no país das maravilhas parecer um desenho opaco. Remete também a The Matrix, com os diferentes mundos e fusões ilusórias...
ResponderEliminarAté agora, o filme do ano ;)
Membio: Sem dúvida, essa é uma bela forma para o definir :)
ResponderEliminarBetty: E este vale bem a pena. Oh se vale!
Edgar: Este insere-se perfeitamente nos teus domínios ;)
Custa-me que lixo cinematográfico consiga encontrar espaço nas salas nacionais (estou-me a lembrar de Scary Movies ou The Mask2, por exemplo), enquanto que obras como este Paprika ou até mesmo o A Scanner Darkly sejam lançados directamente em DVD!
ResponderEliminarAbraço
Como é que "Epic Movie" estreia nas nossas salas e "Hot Fuzz" é ignorado?!...
ResponderEliminarAbraço!
Sem duvida muito bom este filme, vi-o quando esteve no festival de animaçao de Lisboa e revi-o a pouco tempo, com uma pequena ajuda da net :-)
ResponderEliminarNao sabia que ja tinha saido em DVD, ainda nao o consegui encontrar a venda...
Um filme que infelizmente irá passar despercebido a muita gente...
ResponderEliminarTambém partilho a opinião de outros bloggers que já aqui comentaram, não percebo porque é que as redes de distribuição de filmes em Portugal estão constantemente a subestimar a inteligência dos espectadores... dar salas de cinema a filmes abaixo de medíocres como "Scary Movie" ou "Epic Movie" e limitar ao mercado de dvd's obras maiores é, no mínimo, lamentável. Nestas condições não é de todo supreendente que as práticas culturais da população (e, portanto, a sua cultura geral) sejam rudimentares.
ResponderEliminarCrónicas tristes do reino decrépito das nossas distribuidoras.
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